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As duas faces de Geisel

Como a História julgará Ernesto Geisel

Por Hubert Alquéres
16 Maio 2018, 14h41

Como a História julgará o ex-presidente Ernesto Geisel, penúltimo mandatário antes do fim da ditadura militar no Brasil?

Como o general condutor da distensão lenta, gradual e segura que aplainou o terreno para o recuo organizado dos militares aos quartéis e para a pacífica transição democrática? Ou como o presidente frio e sanguinário que teria autorizado o assassinato de opositores do regime, conforme revelação de documento da CIA?

Como a História não comporta maniqueísmos, uma leitura mais serena da bombástica revelação da agência de inteligência norte-americana sugere que o general-presidente foi as duas coisas ao mesmo tempo. E não há contradição nisso.

Seu projeto de abertura, até para ser palatável a seus pares, teria como pressuposto uma terrível “limpeza do terreno”. O massacre do Comitê Central do PCB e o assassinato de dirigentes do PC do B na chacina da Lapa, se encaixariam nessa “estratégia”.

Ao governo do antecessor de Geisel, general Emílio Garrastazu Médici, coube a missão de exterminar as organizações da esquerda armada. Para isso, concedeu extrema autonomia aos órgãos de repressão. Médici patrocinou os anos dourados da tigrada, que pode cometer seus “excessos” sem prestar satisfação a ninguém. E deixou como herança para seu sucessor a anarquia militar, com personagens como o Delegado Fleury ou o coronel do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra inteiramente fora do controle.

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Geisel assumiu o governo com a missão de promover o recuo organizado para os quartéis, o que seria impossível em um clima de quebra da disciplina ou de plena autonomia do aparato repressivo. De um lado, precisava enquadrar os sanguinários, como o fez nos episódios do afastamento dos generais Ednardo D’Ávila e Sílvio Frota. De outro, não podia dispensar seus serviços, pois ainda havia “inimigos internos” a serem enfrentados.

Exterminada a esquerda militarista o alvo passou a ser o PCB, sobretudo após a derrota do regime nas eleições de 1974. É fácil entender a escolha do novo inimigo número um. Segundo a comunidade de informações da época, o PCB era a organização que encontrava “maior receptividade e facilidade de penetração junto às classes política, operária e religiosa e intelectual… a melhor organização na aplicação da política de acumulação de forças”.

Há, portanto, lógica nas revelações da CIA.

Uma coisa, porém, é reconhecê-las como elementos esclarecedores para a avaliação da História. Outra é a sua apropriação com fins de ruptura do pacto que permitiu a transição democrática. A revisão da Lei da Anistia, como já querem alguns, só tornará mais turvo o ambiente.

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Os anos de chumbos foram bem mais complexos do que uma guerra entre “bandidos e mocinhos”. Ainda que não tenha o mesmo peso na balança da História, a esquerda, sobretudo a armada, também cometeu suas atrocidades.

Sentimentos revanchistas de quem ainda não desistiu de um acerto de contas com os militares, provocarão os mesmos sentimentos no lado contrário. É hora de virar essa página.

 

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo

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