Abraço de urso (por João Bosco Rabello)
Bolsonaro demorou a constatar que é impossível governar sem o Congresso
Ao aproximar-se do Legislativo, não por virtude, mas por necessidade, o presidente Jair Bolsonaro foi buscar na velha política uma fórmula empregada para decisões difíceis: o balão de ensaio. Aplicou-a para medir o nível de receptividade ao nome pelo qual se inclinara para o ministério da Educação, Renato Feder.
Em outros tempos, o balão de ensaio servia a diversas causas – desde nomes para cargos importantes até a implantação ou extinção de projetos ou programas de governo. A rigor, para tudo o que se pretendesse medir a repercussão. No entanto, o jogo buscava a reação da sociedade, da mídia e do Legislativo, entre outros segmentos que formam a chamada opinião pública.
Bolsonaro, no entanto, restringiu sua consulta ao público interno formado pelos chamados ideológicos (olavistas, et caterva) militares, bolsonaristas digitais, e agora acrescido do Centrão, onde se abrigam também os evangélicos. A receptividade a Feder foi zero e não tardou para que o balão de ensaio se transformasse em uma frigideira com óleo quente, da qual Feder fugiu antes de se queimar.
O episódio serve para mostrar que as pontes atiradas ao Centrão não estão sólidas. O presidente parece ter idealizado a operação sem medir com precisão seu custo. A frigideira que geralmente vai ao fogo para apear quem já está no cargo, agora ferve antes mesmo da confirmação do nome ou antes da posse, caso do antecessor de Feder, que caiu do currículo.
Uma queda de braço entre essas forças aliadas a Bolsonaro desde a campanha, e o Centrão, tende a ser vencida por este último, se o presidente quiser, de fato, ter defesa sólida no Parlamento. São os que têm voto e número para blindar governos de riscos.
No caso do quase novo ministro da Educação, isso ainda não ficou visível porque o nome de Feder foi unanimidade contra, exceção de seu padrinho, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, cuja desenvoltura já assusta militares e ideológicos, pouco afeitos à política, o que acabou ajudando o veto.
O problema é que no sistema partidário brasileiro, pulverizado em mais de trinta legendas, partido fisiológico não se compra, mas se aluga. Não por outro motivo, legendas como a que abrigou a candidatura de Bolsonaro são chamadas de “partidos de aluguel”. Fernando Collor, para ficar num exemplo, se elegeu presidente pelo PRN, que depois virou PTC, e hoje é senador filiado ao Pros.
A relação de locatário e inquilino, por óbvio, não é definitiva. Na política, o contrato pode ser rompido a qualquer momento por decisão unilateral. Assim fez o presidente ao dispensar o PSL, pelo qual se elegeu, para lançar-se à aventura do novo partido, o Aliança pelo Brasil. Agora, recorre ao Centrão, que como locatário tem por limite não perder a casa.
Ou seja, vai até onde lhe convier e pode sair quando avaliar que não tem lucro político. O presidente demorou a constatar que é impossível governar sem o Congresso Nacional, muito menos em confronto com o Judiciário ao mesmo tempo. Por isso, sua busca por aliança tem característica de um pedido de socorro, o que o coloca em desvantagem.
O custo é abraçar o urso, sem constrangimentos, o que parece forçar sua natureza.
João Bosco Rabello escreve no https://capitalpolitico.com/