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A mensagem das cidades (por Marcos Magalhães)

Eleições municipais

Por Marcos Magalhães
Atualizado em 18 nov 2020, 19h56 - Publicado em 30 set 2020, 11h00

Ao pressionarem duas teclas nas urnas eletrônicas em novembro, os eleitores das principais cidades brasileiras enviarão um sinal ao mundo. Dirão se o Brasil permanece um grande e sólido bloco conservador, como o produzido nas eleições de 2018, ou se o mapa do país incluirá cores liberais nas metrópoles mais populosas.

As eleições municipais nem sempre são analisadas sob ponto de vista mais amplo. Neste ano, muitos candidatos procuram mesmo ressaltar a importância da gestão local, como forma de evitar a polarização política que tomou conta do Brasil. Mas as mudanças eleitorais que ocorrem nas grandes metrópoles entraram no radar dos analistas políticos internacionais.

Um exemplo recente foi a eleição do sociólogo ecologista Gergely Karácsony, de apenas 44 anos, como prefeito de Budapeste, em 2019. Ele conseguiu derrotar o candidato apoiado pelo primeiro-ministro ultraconservador Viktor Orbán, cujo partido não havia perdido eleições nos nove anos anteriores. O resultado foi considerado o primeiro sinal de mudança na Hungria.

Outro resultado simbólico foi a reeleição da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em junho deste ano. Ela derrotou candidatos apoiados pelo presidente Emmanuel Macron e por outros partidos conservadores e manteve a hegemonia do Partido Socialista na capital francesa, em campanha marcada por sua forte adesão a propostas ambientalistas.

Na última semana, foi a vez de os uruguaios se manifestarem em eleições locais. Se é verdade que o conservador Partido Nacional do presidente Luis Lacalle Pou conquistou o maior número de prefeituras, também é importante ressaltar que a capital do país, Montevidéu, permaneceu nas mãos da Frente Ampla, movimento que une diversas facções de esquerda.

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Foi eleita a engenheira Carolina Cosse, que começou sua carreira política como presidente da estatal de telecomunicações Antel e depois se tornou ministra de Indústria, Mineração e Energia. Seu primeiro compromisso no dia seguinte às eleições foi o de visitar o ex-presidente Tabaré Vázquez, que também iniciou sua carreira política como prefeito de Montevidéu.

Liberais

Poucos esperam que o exemplo que vem do Sul se repita nas principais cidades brasileiras nas eleições de novembro. Os partidos de esquerda podem obter votações menos decepcionantes do que nas eleições estaduais de 2018, por exemplo. É difícil prever, porém, se a parcial recuperação será suficiente para lhes garantir vitrines simbólicas pelo país.

Simbólicas já serão, se ocorrerem, vitórias de candidatos considerados liberais nas principais metrópoles. Elas poderiam sinalizar ao resto do mundo o renascimento – ou não – de um centro político reciclado, como contraponto ao ultraconservadorismo do presidente Jair Bolsonaro, não por acaso politicamente afinado com Orbán, da Hungria.

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A começar por São Paulo. Bolsonaro conseguiu convencer o apresentador de televisão Celso Russomano a disputar mais uma vez a prefeitura. Por enquanto ele está na frente nas pesquisas, assim como em campanhas anteriores. Se vencer as eleições, fortalecerá a imagem de Bolsonaro no cenário mundial.

Mas pode ocorrer também a reeleição do atual prefeito, Bruno Covas, atual segundo colocado nas pesquisas. Ele se apresenta como representante desse centro que procura renascer. Cálculos políticos internos indicam que sua possível vitória reforçaria a posição do governador João Dória como candidato a presidente em 2022. Sob a ótica internacional, porém, o resultado teria efeitos mais imediatos sobre a percepção do quadro político brasileiro.

Símbolos

O mesmo tende a ocorrer caso se confirme a eleição de Eduardo Paes como prefeito do Rio de Janeiro, como indicam as atuais pesquisas eleitorais. Enquanto o atual prefeito Marcelo Crivella busca a reeleição associando sua imagem à de Bolsonaro, Paes insiste em deixar as questões nacionais em segundo plano.

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Mas há também aqui uma questão simbólica. Exemplo do conservadorismo neopentecostal, Crivella sempre se manteve afastado de ícones da cultura carioca, como o carnaval. O contraste foi registrado em publicações de diversos países do mundo. Ao lançar sua campanha. Paes já anunciou que terá o maior prazer em entregar as chaves da cidade ao Rei Momo, coisa que Crivella jamais fez.

O ex-prefeito do Rio também ressaltou seu pragmatismo quando prometeu, caso seja eleito, sentar-se com Bolsonaro para debater os temas da cidade da mesma forma que fez com os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Da mesma forma, Covas foi pragmático ao decidir por uma presença discreta de Doria em sua campanha eleitoral.

Sinais

Por mais discretos que procurem ser, os dois serão talvez – ainda que Paes responda a acusações de corrupção – as principais apostas para que o centro político emita sinais de vida. E esses sinais não serão captados apenas pelo público interno.

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Além disso, é preciso lembrar que cidades com ambições globais – como as duas maiores metrópoles brasileiras – também devem se posicionar diante de temas globais, como o do meio ambiente. Paes já presidiu o C-40, que reúne líderes de grandes cidades para debater medidas de combate às mudanças climáticas. Ele foi o primeiro prefeito de um país emergente eleito para o posto.

Prefeitos de grandes metrópoles mundiais praticam cada vez com maior desembaraço o que se convencionou chamar de paradiplomacia, ou seja, a diplomacia praticada por representantes de unidades subnacionais, como governadores e prefeitos.

As maiores cidades globais também já passaram a ser percebidas por uma nova geopolítica como integrantes de imensas engrenagens econômicas transnacionais, que dependeriam cada vez menos de decisões tomadas por seus respectivos governos nacionais.

Em seu recente livro Conectografia: mapeando o futuro da civilização global, o especialista em estratégias globais indiano-americano Parag Khanna aposta na influência crescente das grandes cidades e de seu papel nas cadeias mundiais de valor.

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“Estamos entrando em uma era na qual as cidades vão importar mais do que os Estados e no qual as cadeias de valor serão fonte mais importante de poder do que os militares, cuja principal função será a de proteger essas cadeias de valor, mais do que as fronteiras”, aposta Khanna. “A conectividade competitiva será a corrida armamentista do século 21”.

As principais cidades da América do Sul podem ainda estar longe de exercer papel de destaque nessas cadeias globais de valor. Mesmo assim, elas serão cada vez mais importantes como polos atrativos de talentos e investimentos, assim como no debate sobre temas de alcance global como o aquecimento do planeta.

Por tudo que representam, em termos políticos, simbólicos e econômicos, as eleições dos prefeitos de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro serão acompanhadas com cuidado por analistas internacionais. Elas dirão muito sobre o futuro do Brasil.

 

 

Marcos Magalhães escreve no Capital Político. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018. 

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