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Por Coluna
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A identidade de Bolsonaro

Fazer 10 flexões na frente de um grupo de militares, com uma bolsa de colostomia, exibe a feição que o capitão quer reforçar.

Por Gaudêncio Torquato
Atualizado em 30 jul 2020, 20h05 - Publicado em 16 dez 2018, 12h00

Todo governante se esforça no início para inflar o balão de sua identidade, soprando em duas dimensões: uma semântica, abrangendo seu pensamento, que se manifesta em falas improvisadas ou formais, entrevistas, e respostas às provocações da mídia; a segunda é estética, abrigando gestos, comportamentos, modo de se apresentar. O governante tem obrigação de cumprir uma liturgia do poder, fenômeno do Estado-Espetáculo. Funciona como imã ligando governante e governados, desde o mais remoto passado.

Luis XIV se vestia como um pavão, desfilando nos jardins de Versailles em seu cavalo coberto de diamantes; Hitler estufava o peito, cabeleira na testa, usando os braços para imprimir força às palavras; Kennedy se ancorava no sorriso aberto e na cabeleira farta; Kubitschek era a simpatia do grande sorriso; Jânio, olhos esbugalhados, paletó amarfanhado, ganhava aplausos das galeras; Collor fazia cooper com jornalistas correndo atrás; Sarney era solene; FHC mostrava seu lado schollar; Lula, voz rouquenha, linguagem rudimentar, desfilava no palanque ganhando vivas.

Já o presidente eleito Jair Bolsonaro está tirando notas boas em seu vestibular. Fazer 10 flexões na frente de um grupo de militares, com uma bolsa de colostomia, exibe a feição que o capitão quer reforçar. Como é que aguenta? O lado militar aparece também nas continências a militares e civis. Uma forma de homenagear o interlocutor e não de “beijar a mão”, como interpretam más línguas. A escolha de militares para seu governo fecha a imagem do “soldado a serviço da Pátria”.

No campo semântico, as ênfases ficam nas expressões em defesa da família. Nas relações externas, sobressai o alinhamento incondicional com os Estados Unidos, sob a ameaça de afastamento do Brasil do concerto de Nações comprometidas com direitos humanos.

A sinalização nessa direção, inclusive com a promessa do novo chanceler Ernesto Araújo de tirar o Brasil do Pacto Global de Migração, assinado por 164 países, pode nos deixar isolados da comunidade democrática universal. A identidade conservadora nessas áreas vem sendo burilada com estridência.

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No âmbito interno, a imagem está sendo bem acolhida por parcelas da sociedade, particularmente por estratos à direita, engajados na luta contra o aborto, contra a ideologização do ensino escolar, a favor do armamento de proprietários rurais, contra as invasões de propriedades etc. Nessa linha, é possível inferir sobre um refluxo do MST, com sua estratégia da ocupação sob o lema “uso social da propriedade”.

Outras vertentes do novo governo abarcam duas frentes: combate à corrupção e à violência. Se bem-sucedidas, essas demandas darão tintura na imagem positiva. O país tem se tornado um gigantesco faroeste sob ordens de chefes presos. E a corrupção ainda corre solta, apesar da Operação Lava Jato.

Bolsonaro monta uma equipe à altura de uma forte identidade. Se a economia bombar, flexões e continências do capitão serão vistas com admiração e respeito.

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político

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