A cartilha sobre como tratar a imprensa que Bolsonaro jamais lerá
Damares corre perigo. Acudam-na
Sabe o que significa a reedição pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos da cartilha com normas internacionais para a condução das relações entre autoridades, a imprensa e a sociedade? Nada. Ou pouca coisa.
Imagine se um presidente da República que ataca a imprensa, que dá banana para jornalistas, que faz insinuações sexuais contra repórteres, que ameaça sufocar veículos de comunicação, imagine só se ele mudará de comportamento de uma hora para outra…
Bolsonaro deveria ser obrigado a decorar cada parágrafo da cartilha, embora confesse que não gosta de ler, que sequer leu o livro que mantém na cabeceira de sua cama com as memórias do coronel torturador Brilhante Ulstra, a quem tanto exalta.
Livro contém muitas páginas. E as páginas, muitas letrinhas. Bolsonaro queixou-se disso. Sugeriu que os livros fossem mais ilustrados. Como os destinados às crianças, por exemplo. Mas a leitura da cartilha talvez não exigisse tanto esforço dele.
A cartilha ensina que autoridades precisam realizar discursos públicos “que contribuam para prevenir a violência contra jornalistas” e têm “a obrigação de condenar veementemente agressões contra jornalistas”.
Orienta servidores do Estado a não adotarem “discursos públicos que exponham jornalistas a maior risco de violência ou aumentem sua vulnerabilidade”. E destaca a necessidade de atualização de estatísticas sobre crimes contra a imprensa.
Considera “essencial” que autoridades façam reconhecimentos públicos e explícitos sobre “o valor do jornalismo e da comunicação, mesmo em situações em que a informação divulgada possa ser crítica ou inconveniente aos interesses do governo”.
Onde a ministra Damares Alves estava com a cabeça quando decidiu reeditar uma cartilha da época do governo do presidente Michel Temer e que jazia esquecida no fundo de uma gaveta? Foi descuido, distração ou ela quis mandar um recado a Bolsonaro?
No primeiro ano de governo dele, os ataques contra comunicadores cresceram 54% no país. E sabe quem foi responsável por 58% desses ataques? Sim, foi ele, segundo levantamento da Fundação Nacional dos Jornalistas.
No penúltimo deles, Bolsonaro atacou a honra da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo. No mais recente, disse que se reunirá com empresários para convencê-los a não anunciarem em jornais e revistas que desagradem ao governo.
Na melhor das hipóteses, Damares arrisca-se a ser desautorizada por seu chefe. A cartilha pode ser vista por ele como um desacato. Na pior… Nunca se sabe. Toda a força à ministra. Que Jesus, do alto de uma goiabeira ou de onde estiver, que a proteja. Amém.