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Por Vilma Gryzinski
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Viral: novo vírus coincide com explosão de redes sociais

Foi o Bill Gates, a espiã chinesa, a CIA; quanto mais absurda, mais se propagam invenções sobre o coronavírus à velocidade incontrolável do mundo digital

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 dez 2020, 09h19 - Publicado em 31 jan 2020, 11h34

Dá para imaginar que Bill Gates, o homem que dedica uma parte de sua fortuna – a maior do mundo, 110 bi -, seu tempo e sua prodigiosa inteligência ao combate de doenças infecciosas, teria a patente e o perverso interesse em propagar o novo coronavírus?

Esta é uma das teorias conspiratórias sobre a nova forma do vírus que surgiu em Wuhan, na China, infectou 9 900 pessoas até agora e matou 213 – números que garantidamente ainda vão aumentar muito.

O surgimento da nova cepa de uma família já bem conhecida pela ciência coincide com a explosão das redes sociais, inclusive na China, onde são comparativamente mais recentes.

E controladas também. Se nem os exércitos digitais chineses conseguem eliminar a boataria no TikTok, imaginem no resto do mundo.

A onda do momento, que surgiu em Vancouver, é postar sobre um “amigo” com coronavírus, com vídeo e tudo, para ganhar cliques.

É uma zoeira de adolescente.

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Mas ajuda a espalhar o pânico, já disseminado por imagens falsas de pessoas desfalecendo ou morrendo em ruas ou corredores de hospitais de Wuhan (a foto acima é verdadeira, proveniente de uma agência com credibilidade; é claro que não dá para garantir se o homem jogado na calçada foi vitimado pelo novo vírus).

Como toda boa teoria conspiratória, a que culpa Bill Gates mistura informações reais com conclusões absurdas.

O caráter absurdo apela justamente a áreas da mente humana que “gostam” da sensação de que dispõem de uma informação exclusiva, escondida do resto da plebe por interesses malignos.

O que seria das fake news, ou dos boatos tão antigos quanto a humanidade, se não houvesse esta característica?

Alguns fatos sobre a “teoria Bill Gates”, propagada por Jordan Sathers e outros do QAnon, um dos focos conspiracionistas atrelados a maluquices de ultra-direita.

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A Fundação Bill & Melinda Gates contribuiu com doações para uma instituição britânica que pesquisa vacinas para prevenir outras formas do coronavírus em animais domésticos como frangos e porcos, o Pirbright Institute.

Antes da forma atual ser identificada, já havia outros seis tipos de coronavírus que infectam seres humanos.

Ao contrário de outros megabilionários que querem salvar a humanidade (e bombar o ego) conquistando o espaço, Bill Gates olha para o invisível, principalmente os males que afetam os países mais pobres.

Faz dez anos que deixou a direção da Microsoft e passou a se dedicar à filantropia altamente profissional.

Começou com a malária e foi passando para outras doenças infecciosas.

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Ironicamente, ele mexe com os mesmos medos que agora alimentam as teorias que lhe atribuem a “culpa” pelo novo coronavírus.

Numa entrevista de 2018, disse ele: “Nós não estamos totalmente preparados para a próxima pandemia global.”

“A ameaça do patógeno desconhecido – altamente infeccioso, letal, de rápida propagação – é real.

Poderia ser uma cepa mutante de gripe ou alguma outra coisa completamente diferente. Os surtos de gripe suína e do Ebola em 2014.”

Segundo os conspiracionistas, Bill Gates e os “grandes laboratórios” estão fechados para lucrar com uma vacina para o coronavírus.

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Gente muito mais sofisticada do que o pessoal do QAnon acredita piamente que a indústria farmacêutica provoca doenças de propósito, para faturar.

Outra teoria conspiratória que está infectando mentes: o genoma original do novo corona foi roubado por uma pesquisadora chinesa que trabalhava num laboratório no Canadá onde estudavam cepas anteriores do vírus em busca de vacinas.

Para complicar, Wuhan é realmente o único lugar da China onde existe um laboratório de nível 4 de segurança, o máximo (são 13 nos Estados Unidos, oito nos países da União Europeia).

Mais conspiração: o Corona 2019-nCoV, nome oficial da praga, não teve origem no mercado de peixes e outros bichos de Wuhan, considerado o marco zero, mas migrou para lá vindo de outros casos. Quem sabe tenha escapado do laboratório?

“Quem sabe” é expressão típica usada por alguém que quer dizer uma coisa, mas prefere se prevenir.

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“Quem sabe” o novo corona não saiu de um laboratório não chinês, mas da CIA, diz uma teoria paralela.

A agência de inteligência dos Estados Unidos leva um bocado de culpas no lombo há décadas. Não é nada incomum a persistência da convicção de que o HIV foi uma invenção maligna da CIA para: 1) exterminar a população negra americana; 2) exterminar a população da África.

O fato de que homens que fazem sexo com homens sejam 27 vezes mais suscetíveis à AIDS do que outros segmentos é devidamente subtraído da teoria, como se fosse manifestação de preconceito.

A distribuição populacional desse tipo de transmissão tem características únicas. Em 2017, 57% das novas infecções por HIV entre homens que se incluem nessa categoria foram na Europa Ocidental e nos Estados Unidos; 45% na América Latina e Caribe; 25% na Ásia; 20% na Europa Oriental, Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África, e 12% na África Central e Ocidental.

Para complicar, a CIA realmente fez experiências com diferentes tipos de substâncias de potencial uso bélico, inclusive LSD.

Pior: o infame episódio conhecido como “experimento de Tuskegee”, nome de um instituto de pesquisas, envolveu 600 americanos negros, na maioria trabalhadores rurais, num estudo iniciado em 1932 sobre sífilis.

Desse grupo original, 399 tinham a forma latente da doença, mas não receberam nenhum tipo de tratamento, mesmo depois que a penicilina passou a ser usada eficientemente.

Tomavam placebos para que os pesquisadores acompanhassem a progressão da doença, uma barbaridade unanimemente condenada.

Desconfiar do “governo” de forma geral pode ser uma atitude saudável, mas podem ter consequências deletérias. Em novembro passado, quatro funcionários do sistema de combate ao Ebola foram mortos em dois ataques no interior do Congo.

No auge da última epidemia, os agentes de saúde eram atacados ou expulsos quando chegavam a lugarejos isolados.

Eram considerados transmissores da doença.

Cientistas chineses sequenciaram e divulgaram o genoma do novo coronavírus. Isso ajuda a identificar mais rapidamente a doença e, eventualmente, descobrir uma vacina.

Mas o vírus do conspiracionismo é mais difícil, talvez impossível, de ser combatido.

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