Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Venezuela: “soldados de camiseta” contra os de verdade

O inacreditável atentado com drones revela a farsa do esquema militar de Maduro - e como, apesar de tudo, o regime consegue sobreviver

Por Vilma Gryzinski
5 ago 2018, 14h04

Nunca a expressão carioca “barata voa” foi tão apropriada para descrever uma situação quanto a que aconteceu no desfile em que Nicolás Maduro foi alvo de “artefatos voadores do tipo drone que continuam uma carga explosiva”

As cenas já estão gravadas na memória do mundo. Cilia Flores (Chanel fake, cabelo fake e título fake de “primeira combatente”, em lugar de monumental chefe de quadrilha) é praticamente a primeira a reagir, com expressão perplexa, a alguma coisa que aparece no ar.

Não se dá ao trabalho de avisar o marido. Os seguranças, teoricamente bem treinadíssimos pelos mentores cubanos, demoram um tempo suficiente para vários tiros – se houvesse.

Os escudos erguidos em torno de Maduro formam uma cabana improvisada e tosca. Mesmo assim, os quase dois metros de altura do presidente desaparecem rapidamente. Um guarda-costas do tamanho dele fica olhando em volta, com cara de perdido. Não é um dia de heróis.

Diante do palanque, batalhões de integrantes da Guarda Nacional Bolivariana desmancham-se com uma rapidez que envergonharia seu indômito patrono, o Leão de Ayacucho.

“Fujam do país onde um homem sozinho detém o poder: é uma nação de escravos”, escreveu Bolívar.

Continua após a publicidade

Um milhão de venezuelanos acabou ouvindo, se não ao Libertador, à necessidade de sobrevivência num país estraçalhado em todos os sentidos.

Os que ficaram, refluíram nos atos de protesto, sufocados por um regime que seguiu os conselhos de Fidel Castro e “refundou” todas as instituições capazes de resistir à onda vermelha – principalmente as Forças Armadas.

PERDA TOTAL

O Movimento Nacional dos Soldados de Camiseta disse que mandou os dois drones com explosivo plástico C4, mas atiradores de elite da “guarda de honra” de Maduro conseguiram derrubá-los. Sete militares sofreram ferimentos.

Continua após a publicidade

“Não conseguimos hoje, mas é uma questão de tempo”, disse pelo Twitter o grupo constituído por “militares e civis patriotas e leais ao povo da Venezuela, baseados em argumentos legais e constitucionais”.

Exatamente a mesma linguagem usada pelo policial galã Óscar Pérez, que desviou espetacularmente um helicóptero militar para soltar granadas em cima do Supremo Tribunal e terminou morto meses depois, em transmissão ao vivo pelo Facebook, com apenas seis companheiros.

A expressão “soldados de camiseta” refere-se aos manifestantes comuns que regularmente enfrentam as múltiplas forças de segurança, inclusive os bandos de civis armados  pelo bolivarianismo como primeira trincheira.

Continua após a publicidade

Foi consagrada numa música de Douglas Ascanio e Henry Linárez. A expressão em espanhol coloquial é “soldados de franela”, referência ao material original das roupas de baixo (“Nuestra lucha sin mas defesas qui unos soldados de franela/ Guerreros juvenis dando sus vidas por Venezuela”).

A divisão do tráfico de drogas e dos grandes negócios, principalmente a distribuição de comida, entre os comandantes militares garante a lealdade ao regime na base  do princípio da perda total: todos estão comprometidos com o “roubo do século”, o outro nome do bolivarianismo. Caindo um, caem todos.

A única possibilidade de rebelião é das patentes médias para baixo, onde nem os aumentos regulares atenuam a desgraça.

Continua após a publicidade

Um sargento, por exemplo, ganha seis salários mínimos – mas, no país da inflação de 1 000 000%, o salário mínimo vale 1,5 dólar. Os pequenos achaques são o único instrumento de sobrevivência, alternativa a uma rebelião ainda longe de se propagar, até onde dá para ver, apesar de atos teatrais como o ataque dos drones.

PIG NOSE

É interessante ver que, além dos culpados de sempre, Maduro nomeou explicitamente Juan Manuel Santos, que nessa terça-feira deixa a presidência da Colômbia.

Os dois países, nascidos da mesma matriz, exemplificam os opostos em muitos sentidos. Nenhum é mais flagrante do que a alternância de poderes. Santos transmitirá a faixa presidencial a Ivan Duque, um pupilo de seu ex-mentor transformado em inimigo absoluto, Álvaro Uribe.

Continua após a publicidade

Duque tem 41 anos, trabalhou no BID e foi roqueiro na nada distante juventude, com uma banda chamada Pig Nose. Define-se como um sendo de “extremo centro”.

Aparentemente, entende de todos os assuntos sobre os quais fala, em especial de economia. Parece um milagre na vizinhança, hoje.

A Colômbia tem um monte de problemas, inclusive a produção de coca, que nunca foi tão alta, e o plano de pacificação rejeitado pela maioria da população pelo excesso de concessões aos narcoguerrilheiros das Farc. O próprio Uribe, com sua enorme capacidade de projeção de poder, está enrolado em processos.

Mas também tem uma coisa que, nem remotamente, existe na Venezuela de hoje: perspectivas.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.