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Veia aberta da América Latina

O Brasil chegou lá, com o confronto entre dois populistas em 2022

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 18 jun 2021, 10h08 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00

“Em que momento se ferrou o Peru?” A frase de Mario Vargas Llosa logo na abertura do clássico Conversa na Catedral virou uma espécie de mantra para quem quer entender, às vezes com exasperação ou até desespero, os traços em comum que amarram a América Latina no fundo do poço do atraso político (todo mundo sabe, ou intui, que o fabuloso escritor usou uma palavra mais crua do que “ferrou”, permitida pela liberdade literária). A eleição de Pedro Castillo como novo presidente peruano deu uma nova urgência à pergunta de Vargas Llosa — que arriscou sua reputação e a tranquilidade que os 85 anos deveriam lhe garantir para fazer campanha por Keiko Fujimori, derrotada por algumas dezenas de milhares de votos.

A eleição peruana teve a característica de colocar no segundo turno dois populistas, um de esquerda e uma de direita — peculiaridade que se desenha no horizonte político do Brasil para o próximo ano. Pedro Castillo parece ter saído de um laboratório do populismo latino-americano: filho de agricultores analfabetos, professor de escola rural e profeta da redenção de um povo esquecido e espezinhado pelas elites, mas fadado a cumprir um destino messiânico assim que deixar que Deus, a pátria e o marxismo-leninismo à peruana iluminem seu trajeto glorioso. O apelo às pulsões emocionais onde operam sentimentos como religiosidade e patriotismo é uma das características mais orgânicas dos populistas, seja ele um cholo que continua na lida de seus animais em sua aldeia andina, como Pedro Castillo, ou um bilionário que saiu de um palácio de mármore em Nova York, como Donald Trump.

“O ‘militantismo’ passional e irracional transborda da vida real para o mundo virtual”

“É o populismo o código genético do povo latino-americano, o destino de sua cultura, insensível à tragédia venezuelana, à decadência argentina, ao totalitarismo cubano, ao sultanismo nicaraguense? Os latino-americanos não podem viver a política a não ser como religião?” Estas perguntas retóricas, mas tão fundamentais, foram feitas pelo historiador italiano Loris Zanatta, estudioso do populismo que escreveu, no The New York Times, um dos melhores artigos já publicados sobre o assunto. Diante da vastidão intimidadora do tema, o professor da Universidade de Bolonha arrisca até resumir o que é essa geleia geral que não nos deixa — ou a qual não queremos deixar. “A melhor definição”, escreveu ele, “é a minimalista: o populismo é a nostalgia de absoluto, homogeneidade, unanimidade, mais além da filiação ideológica formal à direita ou à esquerda. Daí seu impulso totalitário de apagar os limites entre indivíduo e comunidade, política e religião.”

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A recompensa emocional e o senso de pertencimento que essa dissolução de fronteiras traz são os mesmos entre os que pregam uma estrela vermelha no peito para entoar gritos de guerra na Avenida Paulista e os que empunham uma bandeira verde-amarela numa passeata de motos. O “militantismo” desbragado, passional, irracional, transborda da vida real para o mundo virtual, onde o show de extremismos virou uma banalidade corriqueira. Todos querem certezas religiosas. Como Santiago Zavala, o alter ego de Vargas Llosa em Conversa na Catedral, temos muitas respostas à pergunta: “Em que momento se ferrou o Brasil?”.

Publicado em VEJA de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

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