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Vanguarda do atraso: Sanders prega vantagens do castrismo

Numa absurda viagem ao passado, o mais cotado candidato democrata a presidente dos Estados Unidos parece esquerdista latino-americano

Por Vilma Gryzinski 26 fev 2020, 13h25

Bernard Sanders tinha 18 anos quando Fidel Castro entrou em Havana, instalou-se no Hilton Hotel como representante das Forças Armadas Rebeldes da Presidência. E nunca mais deixou o poder.

Foi em 1959 e poucos habitantes do planeta Terra ainda podem ter alguma lembrança direta dos acontecimentos.

Sanders estava acabando o segundo grau, tinha dentões bem separados – não o teclado de piano de hoje – e ainda ia demorar alguns anos para adotar a cabeleira revolta e os óculos obrigatórios para o figurino de jovem agitador de esquerda naquela época.

Metaforicamente, ele não desvestiu o figurino revolucionário.

Aos 78 anos, com uma chance real de ser escolhido candidato pelo Partido Democrata para disputar a presidência com Donald Trump, ele continua o mesmo.

Isso adiciona um elemento de alta imprevisibilidade numa eleição que, na cabeça de tantos democratas, estava decidida: qualquer um, principalmente se se chamasse Joe Biden, venceria um presidente que odeiam, execram, abominam.

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E, melhor ainda, aparece atrás em todas as pesquisas contra um democrata genérico.

Como a dinâmica eleitoral tem vida própria, sem falar na cabeça inescrutável dos eleitores, nada está saindo de acordo com os planos.

E o inesperado parece imaginado por um escritor surrealista.

Bernie Sanders bate o pé e insiste numa declaração que parece saída das entranhas do atraso da esquerda brasileira dos anos noventa.

“É simplesmente injusto dizer que foi tudo ruim”, disse ele sobre o regime cubano, responsável por ter propelido para a Flórida, desde aquele tempo em que Bernie era um colegial promissor, mais de 10% de sua população, muitos enfrentando riscos de balas ou tubarões.”

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Fidel Castro “lançou um grande programa de alfabetização”, e “ensinar as pessoas a ler e a escrever não é uma coisa ruim”,  isse ele numa entrevista a Anderson Cooper – que empata no antitrumpismo com Sanders, mas ainda consegue identificar uma bobagem quando vê uma.

Desde então, Sanders bateu o pé e repetiu várias versões da mesma falácia, inclusive no debate de ontem.

Também poderia dizer que Stálin industrializou a União Soviética e Mao Tsé Tung conseguiu alimentar 600 milhões de chineses (mesmo que tivesse que matar uns 50 milhões até chegar lá).

O primitivismo do argumento é de doer. Dá até preguiça relembrar como regimes tirânicos de economia estatizada e partido único criam o inferno na terra para redistribuir pobrezas em nome da igualdade e outros objetivos nobres que o pessoal na fila do pão nem costuma se recordar mais quais são.

A paixão juvenil por Fidel Castro, um fenômeno latino-americano, mal subsistiu em bolsões acadêmicos nos Estados Unidos, ao contrário da disseminação universal entre os primos continentais pobres e eternamente atormentados pelo sentimento de inferioridade.

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As bobagens de Bernie, um anódino senador independente com o aspecto folclórico de se dizer socialista democrático, são de dar risada – se ele não estivesse na corrida para a Casa Branca.

Claro que tem um batalhão de escavadores profissionais indo atrás delas. Um exemplo: em 2011, portanto já com vasto período para ser exposto às realidades da vida, adicionou um editorial do progressista Valley News, o jornal local, exaltando justamente os representantes do populismo esquerdista que já davam sobejas provas de campeões mundiais da corrupção.

“Nos dias atuais, o sonho americano está mais apto a ser realizado em países da América do Sul, em lugares como Equador, Venezuela e Argentina, onde a renda é mais igualitária do que na terra de Horatio Alber. Quem é a república de bananas agora?”.

Almas menos generosas poderiam devolver a pergunta diante do neoboliviariano que quer ser presidente dos Estados Unidos.

Quais suas chances?

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Melhor falar em vantagens competitivas diante de um eleitorado que procura opções.

A maior delas: não é Donald Trump.

Outra: como Trump, fala exatamente o que pensa, sem os filtros de políticos experientes, embora atualmente parecendo gagá, como Joe Biden, ou o nível quase robótico de respostas prontas de Pete Buttigieg.

Poder falar besteira, mas é besteira dele, não empacotada por infinitos assessores.

Aliás, quando chama os assessores, a coisa piora. Por exemplo, desafiado a dizer como vai pagar tantas reformas prometidas, pediu ajuda aos universitários. Valham-nos São Adam Smith.

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É só imposto em cima de imposto para bancar os 30 trilhões de dólares do sistema universal de saúde, mais outros 5,4 trilhões de anistia aos empréstimos universitários, mais o Green New Deal (Terror Verde, ironizam os críticos) e por aí vai.

Qualquer diretório universitário brasileiro conseguiria, se se esforçasse, fazer melhor.

São apenas cinco dias até a Super Terça, quando a balança pode pender definitivamente em favor de Sanders nas primárias.

Na segunda pior das hipóteses, uma candidatura Sanders afundaria junto o Partido Democrata, tirando-lhe a maioria de que desfruta na Câmara, sua maior arma, embora empunhada sem sabedoria, como na tentativa já antecipadamente fracassada de conseguir a condenação de Trump no processo de impeachment.

Na menos pior, do ponto de vista dos democratas, Sanders venceria e faria um governo caótico. Se Donald Trump não consegue nem construir um muro, imaginem um presidente que queira implantar, no gogó, uma mudança de regime nos Estados Unidos.

Presidentes americanos podem muito menos do que parece. Excetuado-se a política externa, a função deles é propor leis ao Congresso. Existe, claro, o uso da caneta, principalmente em determinadas questões administrativas.

A outra alternativa é a reeleição de Trump. E por 40 milhões de votos a mais (uma projeção louca, mas divertida de ser debatida, baseada na diferença de 18 milhões de votos que Richard Nixon teve em 1972, quando esmigalhou a versão da época de Sanders, o senador Eugene McGovern).

Os americanos escolheriam, assim, entre mais quatro anos de Trump e um presidente que tem um fraco por Fidel Castro.

Quem é a República de Bananas agora?

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