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Por Vilma Gryzinski
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Uma rainha quase eterna, como os diamantes

Autoridade moral, prestígio e 90 sacudidos anos fazem de Elizabeth II parecer primeira e única

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h21 - Publicado em 20 abr 2016, 20h12
As aparências importam: Elizabeth e mulher de seu neto e herdeiro, Kate, fazem bem sua parte na grande encenação real

As aparências importam: Elizabeth e mulher de seu neto e herdeiro, Kate, fazem bem sua parte na grande encenação real

Todo mundo gosta da rainha porque ela é mulher, está fazendo 90 anos e enfrenta seus deveres reais com expressão inescrutável, mas não antipática, há 64 anos. Com tanto tempo de casa, ela virou quase uma figura eterna no mundo inteiro. Tanto que não é preciso nem identificá-la como Elizabeth II. Rainha é ela e pronto.

Sobre a parte de ser mulher, dois aspectos se entrelaçam. Primeiro, é muito mais divertido ver vestidos, chapéus e diamantes do tamanho de variados ovos de passeriformes e outros vertebrados endotérmicos, do que as hoje comportadas roupas dos reis. Segundo, porque os monarcas modernos precisam encarnar a nação, representar o estado e elegantemente ajudar seus países a vender produtos e serviços, tudo isso sem exercer uma só gota de poder, exceto o do exemplo moral.

Elizabeth faz tudo isso, impecavelmente, sem uma sombra sequer de interferência indevida, uma tendência mais frequente entre homens coroados. O filho dela, por exemplo, vive escrevendo cartinhas a ministros dos governos que se sucedem segundo o sistema parlamentarista, pedindo explicações e dando opiniões.

Um rei Charles, se e quando a rainha se for, será mais difícil de suportar. Uma parte importante do balé entre chefes de governo, que têm o poder executivo, e chefes de estado monárquicos, ancorados nos frágeis direitos de sangue, é fazer de conta que as considerações destes são todas levadas em conta. Elizabeth desempenha o papel com autoridade e experiência.

O príncipe herdeiro de 67 é mais metido. Independentemente de suas opiniões serem certas ou erradas – em geral, são erradas ou baseadas em premissas falsas -, ele tem o desejo equivocado de interferir mais em questões importantes, que vão desde meio-ambiente até arquitetura.

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Ao pairar soberanamente acima dos ventos do momento, a rainha criou uma aura mítica que o povo, na ampla maioria, adora. Tudo nela é visto como autêntico, desde a paixão por cachorros e cavalos – os únicos seres que arrancam dela risadas abertas -, até as “roupas de rainha”, que nenhuma outra mulher no mundo poderia usar sem parecer ridícula.

São sempre coloridas, para o público vê-la melhor, com chapéu combinando. Por baixo dos casacos, vestidos ainda mais coloridos. Ou, num truque bolado por sua costureira, Angela Kelly, apenas um pedaço de tecido costurado ao casaco, dando a falsa impressão de ser outra peça. Com menos volume, a roupa cai melhor e também fica mais fácil de ser trocada.

Como só as pessoas muito superficiais não dão importância à aparência, as roupas são uma parte relevante da grande encenação da monarquia. A visita recente à Índia do neto de Elizabeth, William, e da mulher dele, Kate, mostrou isso com clareza de um diamante real.

William será o rei, depois do pai, e é filho de Diana, ainda instalada num espaço mental semi-olímpico. Mas todo mundo queria ver mesmo era o vestido de inspiração indiana de Kate, e mais outro vestido no mesmo estilo, e outro, e outro, sem contar os brincos de opalas azuis, os sapatos de salto anabela, a saia com tecido do Butão e por aí vai. Isso que ela nem usou as tiaras da realeza que, lentamente, para não parecer aproveitadora, começa a desfilar em ocasiões de alta solenidade.

O papel de William e Kate é importante para preservar o prestígio da monarquia. Ao contrário da rainha, hoje inatacável, o casal principesco também entra na roda das críticas. As mais recentes foram por sua falta de entusiasmo no trabalho de representar o país e participar daqueles eventos chatíssimos, mas obrigatórios.

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Kate desapareceu por meses a fio de compromissos públicos e William, que cultiva sua imagem trabalhando como piloto de ambulância aérea, ficou mal quando se soube que dava plantão apenas vinte horas por semana. A certa altura, parecia que ela estava brigada com o marido, que foi sozinho ao casamento de uma ex-namorada, no Quênia.

Isso não costuma ser um bom sinal, mas as dúvidas sumiram quando o habitual olhar apaixonado do casal reflorou na Índia. Mas o fato de que tenham dois filhos pequenos para cuidar, e continuar a linhagem real, não amenizou a má vontade pelo baixo índice de entusiasmo do casal com o trabalho de membros da realeza, especialmente quando comparado à aparentemente titânica capacidade de Elizabeth de, aos 90 anos, enfrentar uma quantidade massacrante de compromissos.

Além da fama de laborfóbica, Kate também enfrenta infindáveis críticas pelas roupas de grife. E não adianta explicar que quem paga o guarda-roupa é seu sogro, com dinheiro próprio, não dos estipêndios públicos. Claro que se ela usasse umas roupinhas baratas, seria mais criticada ainda.

Um grande número de efemérides aumentou nos últimos tempos a aura da rainha: o jubileu de 2012 em que comemorou 60 anos de sua ascensão ao trono; o dia de setembro do ano passado em que ultrapassou a rainha Vitória como a monarca com reinado mais longo e, agora, as comemorações de seus noventa anos, feitas no dia em que realmente nasceu e na data oficial, em junho.

Imaginar um Reino Unido sem Elizabeth é difícil, mas não haverá outro jeito quando chegar a hora. Ela já viveu quase um décimo do tempo de mais de mil anos de história relativamente contínua da monarquia inglesa. Chato mesmo será aguentar o reinado de Charles e sua consorte, Camilla, antes que William e Kate assumam seu lugar. Ainda bem que existem aqueles diamantes enormes. Estes, como se sabe, são para sempre.

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