Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Um balde de água fria na concorrência: Trump passa raspando

Seu primeiro ano na Casa Branca foi um milagre de sobrevivência considerando-se o ódio da oposição e as armadilhas que cria para si mesmo

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 19 jan 2018, 13h42 - Publicado em 19 jan 2018, 12h06

O presidente não bate bem, o presidente viu um OVNI, o presidente expôs seu pênis a visitantes da Casa Branca.

Tem uma doença grave, cheirou cocaína, vomitou em cima de um dignatário estrangeiro. Usou um charuto para praticar um tipo de atividade sexual com a amante. Desvirginou uma estagiária no quarto da esposa. Ah, sim, dorme em quarto separado dela. E só come porcarias.

Todo mundo já percebeu que não estamos falando de Donald Trump. Exceto, comprovadamente, pelas duas últimas informações. (Logo, logo vai aparecer quem são os demais).

Lembrar as bizarrices de outros presidentes americanos é um recurso batido, embora irresistível no atual momento de síndrome aguda de transtorno trumpiano.

No primeiro ano de um governo que transcorreu em ritmo quase alucinado de crises – reais, fabricadas, exageradas pela imprensa ou criadas por ele mesmo -, é quase impossível fazer uma avaliação imparcial de Trump.

O mero fato de que tenha completado um ano já é espantoso. Mesmo antes de tomar posse, Trump foi acusado de nada menos que traição à pátria.

Continua após a publicidade

Que outro nome teria mancomunar-se com o mais antigo inimigo dos Estados Unidos para ganhar uma eleição?

O conluio com os russos, ainda sendo escrutinado em diversas instâncias, foi denunciado não apenas pelos suspeitos de sempre, mas por alguns dos nomes mais elevados da comunidade de inteligência.

O final capítulo ainda está em discussão, mas muitos americanos têm certeza absoluta de que Trump é um vendido ao inimigo, a mais pesada acusação que pode ser feita a um líder político.

Racista, fascista e nazista são outros adjetivos brutais que entraram para o léxico político pós-Trump.

Diante dessa muralha de rejeição, é difícil imaginar que alguma coisa que ele venha a fazer melhore sua imagem. Aliás, o que ele já fez de positivo é atribuído a fatores alheios à sua vontade ou forças anteriores a seu mandato.

Continua após a publicidade

Crescimento econômico que pode beirar 4% no último trimestre de 2017? Ah, a recuperação já estava prevista (e olhem só o risco de inflação).

Bolsa batendo os 26 mil pontos? O presidente não tem influência sobre o mercado (imaginem o que diriam se a valorização das ações estivesse no buraco?).

O menor índice de desemprego desde 1973? Planos de investimentos de pequenas e médias empresas? Repatriamento de recursos? Não existe indicador que convença os céticos.

Detonar Trump, como muitos espertos já perceberam, virou uma indústria. Michael Wolff, o autor de Fogo e Fúria, é um exemplo.

Seu livro tem partes espetaculares, incluindo as declarações incendiárias de Steve Bannon sobre as besteiras comprometedoras do entorno familiar de Trump.

Continua após a publicidade

Mas ao decidir “provar” que absolutamente todos os integrantes do alto escalão consideram Trump inepto, em termos de equilíbrio mental, Wolff vendeu uma mercadoria que não tinha, como declarações de membros do gabinete com quem nunca falou, o que acabou contaminando as boas informações que tinha.

Muitos foram atrás, sonhando com a possibilidade de invocação da emenda constitucional que prevê a instauração do vice-presidente em caso de morte ou grave impossibilidade do titular.

Caso este não tenha levado tiros devastadores, como John Kennedy e Ronald Reagan, a vigésima-quinta precisa do aval de catorze pessoas para ser invocada: o vice-presidente e todos os membros do gabinete têm que se basear em fatos confiáveis referentes às faculdades físicas ou mentais do presidente.

A intervenção radical precisa do endosso de dois terços do Congresso. É um processo totalmente à parte do impeachment, que julga se o presidente cometeu crimes graves que justifiquem seu afastamento.

Trump construiu carreira pública como ricão mulherengo, do ramo enrolado da construção civil e dos cassinos, e depois apresentador de um reality show sendo agressivo, boquirroto, antipático e novo riquíssimo.

Continua após a publicidade

Para as elites de diferentes estratos, é quase uma ofensa pessoal que seja presidente e não tenha mudado em nada seu estilo. O check-up que fez há poucos dias é um sinal curioso dessa rejeição.

Primeiro, o site Politico garantiu que a série de exames não incluiria uma avaliação cognitiva. Quando incluiu, muitos órgãos de imprensa passaram a dizer que era um teste tosco, embora seja usado como triagem para avaliação de demência.

O médico responsável, Ronny Jackson, contra-almirante da Marinha, foi malhado por dizer que Trump tem “excelente saúde”. O colesterol alto, a dieta de fast food, o excesso de peso e a ausência de exercícios foram diagnosticados como doença coronária por incontáveis especialistas.

Houve jornalistas garantindo que Trump mentiu até na altura (1,90) e no peso (108 quilos). O entusiasmo do doutor Jackson foi amplamente ridicularizado, não obstante ele tenha demonstrado o mesmo estilo quando dava os resultados dos exames de Barack Obama.

Magro, longilíneo, mantido na linha dura alimentar pela mulher e quinze anos mais jovem do que Trump, Obama fumou durante muitos anos, até no início da presidência. Na juventude, também usou maconha e cocaína.

Continua após a publicidade

Não é, portando, o deus da saúde como acreditam os fanáticos do culto obamista (Trump não fuma nem bebe, seguindo o conselho do irmão mais velho, que morreu de alcoolismo).

Vários presidentes foram considerados mentalmente suspeitos. Reagan possivelmente já estava na fase inicial do Alzheimer durante seu segundo mandato. Jimmy Carter parou de dizer que tinha visto um OVNI depois que foi eleito presidente para não passar por maluco.

George Bush pai vomitou em cima do primeiro-ministro japonês. As artimanhas sexuais de Bill Clinton com Monica Lewinsky bem no coração do poder, ou em alguns cantinhos secretos da Casa Branca, envolveram um charuto, entre outras coisas. Ainda bem que Trump não fuma.

Clinton se considerava da mesma estirpe de John Kennedy, o mais promíscuo dos presidentes americanos. A estagiária desvirginada na cama de Jacqueline foi Mimi Alford. Ela contou em sua autobiografia que o venerado presidente a convenceu a praticar sexo oral num assessor quando estavam nadando na piscina da Casa Branca.

Depois do assassinato de Kennedy, Lyndon Johnson manteve a tradição da natação sem roupa. No caso dele, com convidados sobre os quais queria “estabelecer a superioridade genital”.

Ele era tão convicto da tal superioridade que vivia exibindo a prova. Baixava as calças para mostrar o pênis com alguma frequência. Ou, mais repugnante ainda, para ir ao banheiro anexo – com a porta aberta através da qual continuava falando com interlocutores.

Ou interlocutoras como Doris Kearns Goodwin, que foi assessora júnior da Casa Branca e depois se tornou autora de biografias de presidentes. Trump provavelmente seria mandado para Guantanamo se usasse o banheiro do Salão Oval na frente de uma mulher – e com bons motivos.

Aos 71 anos, com colesterol alto, comportamento político de risco maior ainda e adversários que se descrevem como “resistência”, não oposição, Trump não dá nenhuma indicação de que os próximos três anos serão menos atribulados do que o primeiro.

Isso se não houver acidentes de percurso do tipo que a história americana é farta. Um dos mais graves foi com o presidente Woodrow Wilson, que sofreu um acidente vascular em 1919. Durante o período em que ficou incapacitado, sua mulher, Edith, ocultou a doença e orientou decisões de governo.

Ambos eram viúvos quando se casaram – Wilson apenas um ano depois da morte da primeira esposa, Ellen. Uma das canalhices que a oposição circulava era que o presidente e Edith haviam assassinado Ellen. Ainda bem que as duas ex-mulheres de Trump continuam bem vivas.

Wilson foi presidente numa época de grandes transformações, incluindo a Revolução Russa e a Guerra Mundial. Também foi o período de intervenções americanas conhecido como “política das canhoneiras”.

“Vou ensinar as repúblicas sul-americanos a eleger bons homens”, disse Wilson em 1913. Entre outros lugares, os Estados Unidos fizeram uma intervenção militar no Haiti.

Mais de cem anos depois, Donald Trump usou uma expressão um tanto mais crua para se referir aos países de, digamos, marmelada.

Realisticamente, Trump desistiu do sonho imperialista de consertar a marmelada. Só quer mantê-la longe dos Estados Unidos. Isso se não for tragado pela versão americana da geleia geral.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

O Brasil está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por VEJA.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.