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TV Talibã: parece filme de Woody Allen, mas é o retrato do Afeganistão

Invasão de estúdio de televisão por barbudos armados mostra a realidade do que deve ser esperado para um país sob domínio dos jihadistas

Por Vilma Gryzinski 31 ago 2021, 08h44

Uma única imagem conseguiu rivalizar, em impacto global, com o vídeo de moradores de Araçatuba amarrados em carros e usados como escudos humanos por assaltantes de banco.

São cenas de um estúdio de televisão invadido por oito talibãs mostrando o apresentador de um programa de debates dizendo, sob pressão, que os afegãos não devem ter medo do novo regime.

O nível de surrealismo, comparável ao da velha comédia de Woody Allen sobre uma republiqueta de bananas com guerrilheiros incrivelmente parecidos com os barbudos cubanos, é difícil de ser superado até pelos padrões alucinados que a queda de Cabul tem propiciado.

Por bons motivos, o vídeo viralizou, num sinal de que nem o controle absoluto que agora os talibãs têm sobre o país, incluindo as comunicações por celular, está imune a fotos e vídeos reveladores.

Detalhe importante: os invasores do estúdio de televisão tinham por objetivo tranquilizar a população, uma mensagem que está sendo repetida pelo “novo” Talibã, ou a versão 2.0 do movimento jihadista que resistiu durante vinte anos e retoma o poder sob o impacto da vexaminosa retirada americana.

“O presidente Biden deveria assistir o vídeo e dizer se os militantes posando atrás do apresentador visivelmente petrificado estão portando armas americanas”, provocou Masih Alinejad, jornalista iraniana com nacionalidade americana.

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As armas não parecem diferentes do arsenal habitual dos talibãs, mas a jornalista tocou numa das muitas chagas deixadas pela retirada americana: a incrível quantidade de armamentos dados pelos Estados Unidos para as agora inexistentes forças armadas afegãs. Fora o que os últimos americanos no país deixaram para trás. 

Tudo agora nas mãos dos talibãs, o que os transforma de guerrilheiros com arsenal tosco, compensando pelo engajamento na jihad, na décima-quinta maior força armada do planeta.

O botim inclui 75 mil veículos, indo desde o Humvee – o jipão de deslocamento rápido – uma verdadeira fortaleza móvel conhecida como MRAP – veículos resistentes a minas que valem 500 mil dólares cada um.

Mais: 200 aeronaves, incluindo helicópteros Black Hawk e uma frota Super Tucanos A-29, o avião de ataque fabricado pela Embraer – o Talibã vai precisar de pilotos e técnicos altamente treinados para manter tudo isso no ar, mas ganhou uma força estratégica simplesmente espetacular (outra possiblidade, é que transfira segredos tecnológicos para China, Rússia ou Irã em troca de vantagens).

Armas de assalto são 600 mil, incluindo fuzis M4 e M16. Mais 16 mil equipamentos de visão noturna, uma vantagem tática que os talibãs não tinham. 

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Assim que o último avião americano decolou, talibãs equipados com o que existe de melhor dos pés à cabeça – nesta, os monóculos de visão noturna por infravermelho, montado na frente do capacete (custo: 3.700 dólares cada) – assumiram o controle. Os guerrilheiros de chinelos ou tênis surrados ainda são a maioria, mas a coisa está mudando.

A quantidade e a qualidade dos armamentos fazem dos atuais talibãs uma força incomparavelmente mais bem equipada do que os militantes que tomaram o poder em 1996, quando o país estava totalmente destruído pela guerra civil e os armamentos soviéticos dados ao regime comunista derrubado poucos anos antes não eram mais renovados.

Como vai se comportar este Talibã triunfante, que montou uma saída humilhante para os americanos e agora não tem, nem remotamente, rivais à altura de seu poderio bélico e político? Quanto tempo vão durar as promessas de moderação, mesmo dentro dos padrões da sharia? 

Pessoas comuns ou até personalidades como o apresentador do programa de televisão invadido já estão descobrindo e muito mais virá pela frente.

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