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Trump piscou e Irã festejou? Melhor para o resto do mundo

A batata do regime iraniano está assando no maior forno do planeta e a crise ainda tem espaço para piorar se os homens de turbante quiserem mesmo o martírio

Por Vilma Gryzinski 22 jun 2019, 16h50

O que falta para completar as esquisitices de um mundo em que Renan Calheiros dá lições de moral e ética e o site Intercept ensina aos bobinhos locais o que é bom jornalismo?

Bem, na realidade aumentada dos Estados Unidos, onde as coisas realmente contam, a última inversão maluca é a seguinte: Donald Trump está sendo acusado de ter vacilado ao cancelar, faltando apenas dez minutos para o ponto de não retorno, um ataque retaliatório a alvos iranianos em represália pela derrubada de um drone americano no Golfo Pérsico.

Atenção: os críticos de Trump são os mesmos que o acusavam de: 1) ser louco; 2) ser louco e estar a ponto de levar o país para mais uma guerra insensata no Oriente Médio; 3) ser louco a ponto de “matar todos nós”, nas inesquecíveis palavras de Michael Moore.

Trump piscou? Sim.

Foi uma atitude errada?

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O mundo ficou pior ou melhor?

As respostas não podem atender ao imediatismo das perguntas.

A explicação dele: “Pensei por um segundo e disse, sabe de uma coisa, eles derrubaram um drone não tripulado, ou um avião, chamem como quiserem, e aqui estamos nós com 150 pessoas mortas, o que aconteceria em meia hora depois que eu desse o sinal verde. Achei que não seria proporcional.”

Imaginem só, o homem pintado como ogro belicoso falando em proporcionalidade, um dos mais difíceis conceitos da guerra justa. Num resumo rápido, os ataques em resposta a agressões militares, como foi a derrubada do drone se ele estivesse mesmo em águas internacionais, têm que seguir um padrão proporcional à investida inicial.

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Quem decide o que é proporcional ou não, em última instância, é a ONU.

Detalhe importante: o Irã usou uma foto fake para “comprovar” que a aeronave não tripulada – um monstro com envergadura de 35 metros, não aqueles drones portáteis, e autonomia de 32 horas de voo, usadas para sugar imagens digitais de alta resolução quase em tempo real – estava em seu território aéreo.

Este é o mesmo país que, em 2013, propagou o feito de colocar em órbita e trazer de volta um macaco. O inocente símio fotografado na decolagem era diferente do macaco que, muito supostamente, voltou.

Se o assunto no Oriente Médio não fosse tão sério, envolvendo um potencial e espantoso conflito, seria o caso de dar risada dos truques iranianos e das condenações a Trump, por “indecisão”, “fraqueza” e termos similares.

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Nesse curioso mundo invertido do momento, muitos políticos de oposição e órgãos de imprensa que abominam Trump – estão torcendo pelo regime iraniano. Para eles, mostrar o presidente americano como um idiota medroso e incompetente é um ponto a favor da causa, mesmo que os homens de turbante estejam cantando vitória.

A ironia é que Trump está sendo atacado por representantes de duas correntes políticas antagônicas.

Numa, estão os democratas para os quais Barack Obama revelou virtudes quase divinas de equilíbrio e responsabilidade quando a Síria atravessou a linha vermelha estabelecida por ele mesmo e usou armas químicas contra civis.

A outra é a da velha guarda republicana que atingiu o ápice de seu pensamento estratégico com a sequência de desastres recorrentes da invasão do Iraque. Normalmente, é um pessoal abominado, não sem razão, pela imprensa considerada progressista. Para malhar Trump, vários foram ressuscitados.

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“O modo como o presidente Trump está administrando as crescentes provocações iranianas no Golfo Pérsico está corroendo a credibilidade global americana e nossos interesses vitais”, disse para a televisão NBC Michael Makovsky, presidente do Instituto Judaico para a Segurança Nacional da América e ex- assessor de Donald Rumsfeld, o odiado secretário da Defesa da época de Bush filho e da invasão do Iraque.

A argumentação de Makovsky – cujas atribuições em geral o relegariam ao círculo do inferno reservado pelos progressistas para os judeus belicistas que “querem que os Estados Unidos lutem até o último homem” em favor de Israel, segundo expressões usadas por eles – está longe de errada.

Aliás, estaria certa na seguinte circunstância: se tudo ficar por isso mesmo, liberando o Irã para forçar mais a barra, na esperança de intimidar o governo americano até conseguir um alívio nas sanções econômicas, usadas para abrir negociações sobre um novo acordo de contenção de seu programa nuclear bélico.

Existe também a opção de que o regime iraniano tenha decidido partir para o martírio. Ou seja, provocar os Estados Unidos até levar uma boa traulitada, o que unificaria o país, criaria uma formidável encrenca internacional, abalaria a reeleição de Trump e ainda prejudicaria a nova proposta americana para um acordo de paz entre palestinos e israelenses.

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A primeira parte da proposta será apresentada nessa terça-feria, numa conferência internacional em Bahrain. Como prometido pelo genro e assessor de Trump, Jared Kushner, é uma proposta diferente de todas as que, até hoje, não deram certo.

A parte inicial prevê a criação de um fundo global de investimentos de 50 bilhões de dólares para transformar a economia dos territórios palestinos, criando uma nova realidade de progresso e desenvolvimento.

Cinquenta bilhões de dólares não é um preço muito alto para resolver um dos mais encrencados problemas mundiais, tanto do ponto de vista moral – garantir segurança para Israel e dignidade nacional para os palestinos -, quanto da perspectiva da instabilidade politico-econômica que cria.

É claro que palestinos de diversas tendências estão boicotando a proposta e é claro que o Irã, que usa a causa palestina como bandeira para colocar o maior país xiita como grande propugnador da sonhada destruição de Israel, vai fazer tudo o que puder para sabotar o plano de paz.

Importante: dos 50 bilhões, 27,8 iriam para a Cisjordânia e Gaza, outros 9,2 bilhões para o Egito, 7,4 bilhões para a Jordânia e 6,3 bilhões para o Líbano. Ninguém vai ficar rico se apostar em que está dentro e quem está fora devido à obviedade das respostas.

A parte de Israel nisso tudo ainda não foi revelada. Mas vale lembrar que o governo israelense, por quanto tempo ainda existir, não está demonstrando grande entusiasmo. E o cancelamento do ataque retaliatório ao Irã também não pegou muito bem.

Entrar em mais uma eleição infernal, depois de uma grande e recente vitória, com a força da América desfechada sobre o Irã não faria nada mal ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Acontece que Trump, o Conciliador, também está pensando em eleição.

Como já disse que tinha “engatilhado e apontado”, uma expressão de encantadora masculinidade tóxica quando bem empregada, mas resolveu pensar melhor, Trump tem que usar muito bem os outros instrumentos de pressão sobre o Irã para não passar a imagem de vacilão. Ainda bem que a caixa de ferramentas da única hiperpotência do planeta é muito, muito grande. Nesse curioso mundo invertido do momento, muitos políticos de oposição e órgãos de imprensa que abominam Trump – a vasta maioria – estão torcendo pelo regime iraniano.

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