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Trump joga tudo: paz no Oriente Médio, guerra no Senado

Propor um acordo para uma das maiores encrencas do mundo já é naturalmente complicado, ainda mais no meio do vulcânico julgamento do impeachment

Por Vilma Gryzinski 28 jan 2020, 07h27

Que presidente anunciaria o “acordo do século” exatamente no momento em que o Senado está em pleno julgamento do seu futuro político?

Donald Trump, claro.

Em condições normais, as perspectivas já não seriam animadoras: o único interlocutor viável para discussões sobre um acordo permanente entre Israel e palestinos, Mahmoud Abbas, nem responde telefonemas de Trump.

O plano em si já é conhecido nas partes que favorecem Israel: reconhecer Jerusalém como capital e a região de Golã, conquistada da Síria guerra de autodefesa de 1967, como território legitimamente israelense.

O que ainda vai ser feito: reconhecer a anexação da maioria das das áreas palestinas onde Israel instalou uma vasta população judaica, hoje superior a 500 mil pessoas.

“Abordamos estas questões em ordem decrescente de complexidade”, disse o embaixador americano, David Friedman, que trabalhou em conjunto com o genro e assessor não remunerado de Trump, Jared Kushner.

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O que os palestinos ganhariam com isso? As perdas territoriais seriam compensadas por um estado próprio para “viver com dignidade, em paz e com independência, orgulho e oportunidades”.

Ah, como seria bom para toda a humanidade se isso pudesse acontecer.

Não é uma esperança absurda, especialmente considerando-se que vários países árabes apoiariam a troca e os mais ricos bancariam a parte das “oportunidades”.

Mas as chances são zero.

Todo mundo sabe disso, inclusive os dois homens que potencialmente liderariam Israel na discussão dos detalhes, tão infernalmente complicados quanto todo o resto, Benjamin Netanyahu e Benny Gantz.

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Trump teve que convocar ambos a Washington por causa da indefinição política em Israel.

Sem falar na indefinição do futuro político do próprio Trump.

Tendo sido levado a julgamento no Senado, depois da aprovação do impeachment na Câmara, com garantias férreas de que a maioria republicana garantiria um processo – e uma absolvição – a jato, Trump está sendo emparedado pela realidade de Murphy na política: “Tudo que tem uma chance de dar errado, dá”.

Para não falar nas próprias complicações de Netanyahu, que continua a ser primeiro-ministro em condição de interinidade, com negociações empacadas para formar uma maioria parlamentar e a perspectiva de três processos por corrupção.

Aproveitando uma chance rara de falar alguma coisa que faça sentido fora do seu quadrado, disse o primeiro-ministro palestino, Mohammed Shtayyeh: “Isso é um plano para proteger Trump do impeachment e Netanyahu da cadeia”.

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Sem nenhuma referência ao sobrenome dele, a coisa realmente não está para amadores.

E, como sempre, são os aliados, ou ex-aliados, os maiores inimigos.

No momento, Trump tem dois desses nessa condição.

Um é Mitt Romney, um senador republicano que não suporta o homem que alcançou o que ele não conseguiu – ser eleito presidente – e tem uma espécie de ética, digamos, insuportável para um mórmon.

Romney é o republicano mais inclinado a fazer tudo o que Trump não quer no momento: votar pela convocação de testemunhas.

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Com mais três votos, a coisa será aprovada, garantindo mais tempo para sangrar o presidente praticamente de forma contínua nas sessões televisionadas.

O outro é John Bolton, o ex-assessor de segurança nacional que saiu rompido com Trump e escreveu um livro supostamente bomba.

Segundo o New York Times, o ex-assessor bigodudo diz no livro que ouviu Trump mandar explicitamente que a ajuda militar para a Ucrânia fosse retida enquanto o novo governo do país não anunciasse uma investigação sobre Hunter Biden, o filho-problema de Joe Biden.

Todo o processo de impeachment e, agora, de julgamento no Senado envolve a acusação de abuso de poder por causa dessa encrenca ucraniana.

A defesa de Trump, nada brilhante até agora, é baseada na negação de que tenha havido esse tipo de toma lá, dá cá.

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Se um assessor importante que acompanhou da maneira mais próxima possível, nos bastidores da Casa Branca, declarasse o contrário, aí sim haveria um “momento Nixon”.

A atitude de Bolton tem sido ambígua. Ele mandou o livro para ser checado pelo Conselho de Segurança Nacional, como estabelecem os regulamentos sobre a divulgação de informações potencialmente sigilosas.

Entra aí um detalhe de série de suspense, daquelas de fazer o público roer as unhas ou dar risadinhas incrédulas.

O principal encarregado da supervisão ética de livros de atuais ou antigos integrantes do Conselho de Segurança é o tenente-coronel Yevgeny Vindman.

Para quem acompanhou as audiências na Câmara que resultaram na aprovação dos impeachment o sobrenome soa conhecido.

Por um bom motivo: ele é irmão – e gêmeo idêntico – de Alexander Vindman, especialista em questões ucranianas que assessorou o Conselho de Segurança Nacional e deu um depoimento muito desfavorável a Trump.

É claro que todo mundo suspeita que o vazamento do livro de Bolton tem origem num dos gêmeos Vindman.

A realidade, mais uma vez, supera a ficção.

O plano de paz será apresentado ao meio-dia. Os dois Benjamins aprovaram. Dá muita pena ver mais uma chance perdida.

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