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Trump: é certo ou errado largar aliados e tirar EUA da Síria?

Presidente perdeu um general formidável e ganhou mais inimigos por uma decisão que deixou os amigos de cabelo em pé e pode ser parte de acordo secreto

Por Vilma Gryzinski 22 dez 2018, 14h42

Nunca tanta gente defendeu uma intervenção militar americana. Até os maiores adversários de qualquer ato bélico surtaram quando Donald Trump anunciou, abruptamente e pelo Twitter, como é seu estilo, que vai tirar os 2 000 militares americanos atualmente em território sírio.

A maior parte das críticas veio daqueles que odeiam tudo o que Trump faz, mesmo se for exatamente aquilo que defendem.

Virou até piada comparar dois editoriais do New York Times. Um de 19 de janeiro, lamenta o plano de intervenção “mal concebido, dependente demais de ações militares e movido a expressão de desejos”. Pior ainda, deixaria as tropas americanas atoladas na Síria perpetuamente.

O outro, do último dia 19, chicoteia a decisão de retirar estas mesmas tropas, classificada de “perigosa, desprovida de qualquer contexto estratégico mais amplo ou de qualquer justificativa pública”.

Mas a decisão também perturbou tanto o outro lado do espectro político que levou ao pedido de demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis, o último daqueles que Trump chamava de “meus generais”.

Diz carta de demissão, mais devastadora ainda por ter sido escrita em termos corteses e diplomáticos: “Nossa força como nação está intrinsicamente ligada ao nosso amplo e único sistema de alianças e parcerias.”

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“Temos que fazer todo o possível para promover uma ordem internacional que mais coadune com nossa segurança, nossa prosperidade e nossos valores, e somos fortalecidos nesse esforço pela solidariedade de nossas alianças.”

“Temos que ser resolutos e claros em relação aos países cujos interesses estratégicos entram em crescente tensão com os nossos.”

Traduzindo, Mattis acusou Trump de enfraquecer aliados e, mais criticamente, de favorecer a Rússia.

Tudo isso foi comprovado pelas reações negativas, indo desde Israel aos curdos sírios a quem as forças especiais americanas deram um apoio vital para reduzir o domínio do Estado Islâmico a duas pequenas, embora ainda letalmente ativas, fatias de território.

Combater os ultrafundamentalistas islâmicos do ISIS foi justamente o motivo do envio de um número relativamente baixo de militares altamente especializados à Síria e ao Iraque.

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Grã-Bretanha e França, que também têm comandos de operações especiais in loco, ficaram igualmente pasmas com a decisão unilateral de Trump.

Em Israel, a maior crítica é que a saída dos americanos abre um “corredor” direto entre Irã, Síria e Líbano.

E o único elogio que conta veio, justamente, de Vladimir Putin.

Vamos entrar, aqui, num terreno pantanoso. Não é completamente impossível que a decisão de Trump tenha alguma lógica oculta – fora cumprir a promessa de campanha de acabar com as intervenções americanas. Ou até algum tipo de concatenação com os russos.

A suspeita vem de uma reportagem feita pelo site Axios, insuspeito de qualquer resquício de trumpismo.

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Segundo a reportagem, Putin propôs a Israel, em setembro, através de Nikolai Patrushev, seu assessor de Segurança Nacional, um grande acordo.

Israel intermediaria junto aos Estados Unidos os seguintes pontos: congelamento das sanções contra o Irã, retirada das tropas americanas na Síria e abertura de um “diálogo” entre os dois países.

Em troca, a Rússia garantiria a solução para a maior preocupação de Israel: a saída das forças iranianas que ajudaram a manter o presidente Bashar Assad no poder e, basicamente, ganhar a guerra civil.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recusou, considerando que as sanções americanas restauradas por Trump são de interesse existencial para Israel.

Teria a proposta chegado por outros meios a Trump? Ou ele é mesmo o maluco precipitado, sempre a um milímetro da queda final no despenhadeiro, como dizem seus adversários?

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A súbita saída americana vai permitir à Turquia avançar sobre os curdos da Síria? E o que Trump conversou com Recep Tayyip Erdogan num telefonema pouco antes do anúncio do presidente americano?

São perguntas simples para situações incrivelmente complicadas, incluindo no pacote os curdos a quem os americanos deram os meios para combater o Estado Islâmico.

Heroicamente, sem dúvida nenhuma, como é tradição desse povo perseguido e dividido entre quatro países: Turquia, Iraque, Síria e Irã.

E, como todo mundo no Oriente Médio, divididos entre si também. Os curdos que dominam a região norte da Síria são da mesma corrente do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o PKK, grupo dominante na Turquia.

Seguem uma ideologia que mistura socialismo, anticapitalismo, nacionalismo e uma versão própria do feminismo. É por isso que tantas mulheres entraram no combate, valentemente, ao Estado Islâmico, uma mistura impensável em qualquer outro lugar do Oriente Médio – exceto, claro, Israel.

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Condenado à prisão perpétua na Turquia por campanhas terroristas, o líder do PKK, Abudllah Ocalan, escreveu um livro intitulado Jineologia (não confundir ginecologia), sobre esta forma peculiar de luta pela igualdade das mulheres.

Nada é simples no Oriente Médio. Nem mesmo a defesa de Trump feita por alguns poucos de que a retirada das tropas na Síria foi uma decisão “ousada e corajosa” que caminha para encerrar um ciclo de intervenções que custou seis trilhões de dólares aos americanos, sem falar no preço em vidas humanas.

Em princípio, os Estados Unidos não podem sair do Oriente Médio. Quando saem, como pretendeu Barack Obama com a retirada das forças americanas do Iraque, logo têm que voltar.

É o preço de ser superpotência, mesmo com tantos erros e custos no currículo.

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