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Totalmente isolado: democratas abandonam governador assediador

Tocar, apalpar, beijar, insinuar são algumas das ações imputadas a Andrew Cuomo, o chefão de Nova York - mas não cair na real e ver que não dá mais

Por Vilma Gryzinski 5 ago 2021, 09h03

Quando o New York Times, o New York Post, o Washington Post e o Wall Street Journal, tão divergentes politicamente, pedem a mesma coisa, a situação está brava. E dificilmente um político  já esteve em posição tão ruim quanto o governador de Nova York, Andrew Cuomo.

Se não renunciar, como pedem os editoriais – com o apoio de ninguém menos do que Joe Biden e de todo o establishment democrata -, Cuomo será submetido a impeachment e vai perder o governo do estado que considerava praticamente uma capitania hereditária, recebida via seu pai, Mario Cuomo, um político legendário.

“A pasta já saiu do tubo e não vejo como possa voltar”, resumiu o presidente estadual do Partido Democrata, Jay Jacobs, que recomendou a Cuomo que renuncie.

Como todo político flagrado em alguma besteira, Andrew Cuomo se considera uma vítima e não reconhece de jeito nenhum os seus erros.

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Respondeu à massacrante investigação da procuradora-geral Letitia James, que vasculhou onze casos de mulheres assediadas por Cuomo, com um documento de 85 páginas e um vídeo, na maioria de fotos de políticos como Barack Obama e George Bush, além do próprio Biden, abraçando cidadãs comuns, além de outros cumprimentando-se com beijos e abraços, para alegar que só estava sendo empático e tem o hábito de beijar mulheres e homens. Ainda por cima, insinuou que seu comportamento era produto da herança italiana.

Cuomo não vai entregar os pontos. Ou nem pensa nisso. É exatamente a mesma disposição à resistência demonstrada por Eliot Spitzer, o governador de Nova York forçado a renunciar depois que a agenciadora brasileira Andreia Schwartz revelou ao FBI que uma rede de prostituição o contava entre seus clientes.

O caso de Spitzer, apesar de formidavelmente escandaloso, não redundou em processo criminal. Nunca foi comprovado que ele tivesse usado dinheiro público para bancar as prostitutas de alto padrão cujos serviços contratava.

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Cuomo está numa situação mais complicada. Das onze mulheres cujos casos foram esquadrinhados na investigação, nove foram ou continuam a ser funcionárias públicas. Isso torna mais grave o delito de assédio sexual. Mesmo que não renuncie ou caia depois de um impeachment, Cuomo vai enfrentar vários processos.

Entre os casos de servidoras assediadas, o mais impressionantes é o de uma integrante da polícia estadual – aqueles que usam chapelão e farda cinza -, lotada na segurança do governador. 

Depois de conhecê-la na cerimônia de inauguração de uma ponte, Cuomo mexeu os pauzinhos para que fosse transferida para seu esquema de segurança, mesmo sem tem o mínimo exigido de três anos de serviço.

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“Ha ha eles mudaram o mínimo de três anos para dois. Só para você”, escreveu ele num e-mail à policial.

Além das insinuações constantes de natureza sexual, Cuomo avançou o sinal quando ficou a sós com ela num elevador. Pós o dedo na nuca dela e foi descendo pela espinha. “Ei, você”, disse. Em outra ocasião pediu um beijo. Em mais uma, deslizou a mão pelo umbigo dela e foi descendo até o quadril.

Como é possível que no clima reinante na sociedade americana, de regras extremamente severas para policiar o assédio sexual, Cuomo tenha passado anos tentando seduzir assessoras? E com a experiência que teve como procurador-geral – o mesmo cargo da mulher, a implacável Letitia James,  que agora o enquadrou?

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O poder, obviamente, cria uma sensação de invulnerabilidade. Cuomo é governador desde 2011 e pretendia continuar assim, ignorando os incentivos – obviamente anteriores ao escândalo – para que tentasse a presidência.

As primeiras acusações de assédio começaram a aflorar em dezembro do ano passado, quando Cuomo ainda era tratado como um gênio da política. Chegou a receber um Emmy, como se fosse uma celebridade do show business, pelas 111 entrevistas coletivas que deu durante o auge da pandemia. E ainda teve tempo para escrever um livro sobre liderança em momentos de crise.

Robert De Niro, Ben Stiller e Spike Lee apareceram em vídeos na cerimônia de premiação desmanchando-se em elogios ao governador. O que não foi dito: Cuomo foi considerado durante a pandemia, mesmo com os resultados tétricos de Nova York, como o grande antagonista de Donald Trump.

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O Emmy o colocou, segundo um sarcástico comentarista, na mesma categoria que Selina Meyer, a desbocada e incompetente vice-presidente da série Veep, e Frank Underwood, o monstro político de House of Cards.

Outros analistas acreditam que Cuomo foi tão rapidamente abandonado pelos democratas por causa do estilo imperioso e agressivo à la Underwood.

“O sr. Cuomo não é um cara bacana e tratou mal tantas pessoas que as acusações de assédio sexual parecem transgressões previsíveis numa litania de abusos que remonta há muito anos”, escreveu Elizabeth Spiers num ensaio para o New York Times em que o compara a um “Maquiavel machão que vê as outras pessoas como um instrumento para acumular poder”.

Esta definição poderia incluir praticamente todos os políticos. Alguns são pegos e sobrevivem. Outros afundam de vez e acabam como comentaristas de televisão, posição em que o governador de Nova York faria companhia ao irmão, Chris Cuomo, da CNN.

Ele não tem nenhuma intenção de acabar assim, mas colocou a si mesmo numa situação com poucas alternativas.

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