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Por Vilma Gryzinski
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Terror em Londres: progressão de pena, saidinha e outras

Caso do criminoso condenado por terrorismo que, colocado em liberdade pela justiça, matou dois a facadas expõe os extremos da bandidolatria

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 2 dez 2019, 18h51 - Publicado em 2 dez 2019, 18h48

Não é só aqui, não.

E mais: o absurdos do caso de Usman Khan, o terrorista esfaqueador que matou dois jovens advogados que estavam num encontro justamente para ajudar criminosos como ele, expõe distorções que estarrecem o mais desiludido dos brasileiros.

Só para dar uma ideia: a primeira reação do pai de uma das vítimas, o advogado Jack Merritt, foi dizer que não gostaria de ver a morte do filho ”usada” para a imposição de “sentenças mais draconianas ainda”.

Já deu para entender o espírito da coisa quando até terroristas reincidentes são considerados uns coitadinhos, vítimas da sociedade e do furor punitivo do sistema malvado.

Isso num país com casos cabeludos de extrema leniência.

Usman Khan foi dominado por cidadãos comuns, inclusive um que pegou uma presa de baleia narval, a mais bizarra das armas da história da reação em defesa da vida de outrem, e partiu para cima do assassino armado com dois facões.

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A rara presa da baleia do Ártico estava numa das paredes do Fishmongers’s Hall, literalmente o pavilhão dos peixeiros, o prédio em estilo neoclássico que fica bem numa das entradas da London Bridge.

O prédio histórico, que remete às antigas guildas, ou associações profissionais, reunidas na City, era usado par reuniões de um programa de Cambridge, Learning Together, Aprendendo Juntos, destinado a reabilitar criminosos renitentes.

O jovem, bonito e idealista Jack Merritt, de 28 anos, era um dos coordenadores. A outra vítima letal era a voluntária Saskia Jones, de 23 anos, também formada por Cambridge.

Usman Khan era considerado um caso exemplar. Tinha usado os bondosos idealistas para conseguir autorização e viajar para Londres, participar do encontro do Aprendendo Juntos.

O primeiro que atacou foi Jack.

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O fato de que Usman Khan estivesse num sistema equivalente ao de liberdade vigiada, com tornozeleira eletrônica, já é inacreditável.

Ele foi condenado em 2012 por planejar um atentado terrorista com uma gangue de outros criminosos, todos seguidores de um dos maiores disseminadores do jihadismo militante no Reino Unido, Anjem Choudary.

Tramavam um atentado ambicioso, de grandes proporções, como havia acontecido em Mumbai, na Índia. Queriam explodir a Bolsa de Valores de Londres e outros lugares de grande visibilidade, além de assassinar personalidades políticas e religiosas, incluindo Boris Johnson, o primeiro-ministro que na época era prefeito de Londres.

Pela lei, Khan e os outros deveriam ser condenados obrigatoriamente à prisão perpétua por terrorismo. Mas recebeu uma sentença de detenção para a proteção pública, com obrigatoriedade de cumprir seus 16 anos.

Automaticamente, entrou em regime de progressão quando cumpriu a metade – um recurso que depois foi eliminado, mas não podia ser aplicado retroativamente.

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Soa conhecido, não?

RAIAS DA LOUCURA

Com cartas muito bem escritas ao juiz responsável, prometendo se dedicar a “ser um bom muçulmano e um bom cidadão britânico”, conseguiu sair no regime de liberdade vigiada, com tornozeleira eletrônica.

Entrou para o programa de Cambridge e ganhou até um computador, especial, sem conexão com a internet, para se dedicar à poesia e outras atividades elevadas.

O próprio programa de recuperação de criminosos, uma atividade tão necessária quando atinge os que verdadeiramente querem se regenerar, é encrencado pela militância anti-sistema que atinge as raias da loucura.

Uma de suas fundadoras, a professora Ruth Armstrong, batalhou incansavelmente por sua libertação e se envolveu a tal ponto no caso de um assassino de origem britânica que matou uma menina de 14 anos nos Estados Unidos que arrumou até um emprego para ele no restaurante mexicano do marido.

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O assassino, Dempsey Hawkins, conseguiu ser solto, foi para Cambridge e assediou pelo menos uma mulher que conheceu num site de encontros. A mulher disse que hoje dorme com uma faca debaixo do travesseiro.

Aliás, um dos homens que destemidamente partiram para cima do terrorista também é um assassino que participava do grupo de ressocialização.

Devia cumprir prisão perpétua pela morte de uma jovem com idade mental de adolescente, mas estava numa saidinha.

Um terrorista que finge ter se regenerado, enquanto planeja assassinar inocentes a facadas, e num assassino que participa da nobre reação coletiva para contê-lo. Quem imaginaria uma história dessas?

E tudo ainda aconteceu faltando poucos dias para a eleição em que Boris Johnson tenta conseguir a maioria parlamentar para fazer o Brexit e Jeremy Corbyn paira como uma ameaça nada desprezível.

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Declarando-se trabalhista, de esquerda e ateu, David Merritt, nem chorou direito o filho, Jack. Acusou Boris Johnson de tentar politizar e faturar com a morte do filho.

Mas qual seria a opção de um primeiro-ministro – e nada incidentalmente, integrante da lista de potenciais assassinados.

Não falar nada? Não dizer que o caso de Usman Khan foi um erro terrível que não deve ser repetido?

A transição da bandidolatria para a terroristolatria chegou a ponto de haver reclamações pela ação da polícia.

Armados e instruídos sobre o que fazer em caso de suspeita de explosivos, os policiais que chegaram rapidamente ao local tiraram os civis que dominavam o terrorista, viraram-no de barriga para cima, viram um colete-bomba – falso, como depois se saberia – e rapidamente dispararam.

Tudo dentro do protocolo, num caso cristalino do excludente de ilicitude.

As críticas só não foram mais violentas porque quem comanda a polícia é uma nomeada pelo prefeito de Londres.

Sadiq Khan compartilha o sobrenome, muito comum entre descendentes de paquistaneses, com o terrorista. É do Partido Trabalhista e está vendo muito bem como Jeremy Corbyn se enrola com sua simpatia nada oculta pelo Hamas e até pela turma de Anjem Choudary.

Preso por discurso de incentivo à violência terrorista, Choudary também foi beneficiado pelas concessões não só da lei como da previdência social: suas mulheres ganham o equivalente ao bolsa-família.

Simpatizante da Al Qaeda, o pregador aderiu ao Estado Islâmico.

E o Reino Unido pode ter um primeiro-ministro que acha esse pessoal bacana.

Aliás, mesmo depois do atentado e das perversões jurídicas que revelou, Jeremy Corbyn disse que terroristas condenados “não necessariamente” deveriam cumprir as sentenças na íntegra.

Mais uma vez, soa conhecido.

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