Terror: corra que a polícia não vem aí
Agentes de segurança são eficientes e corajosos, mas também podem demorar demais
A polícia belga foi negligente em permitir que o terrorista Salah Abdeslam passasse quatro meses solto, escondido no bairro onde sempre morou, depois de enganar a polícia francesa que procurava os atacantes sobreviventes aos atentados simultâneos de 13 de novembro em Paris? Alguns políticos franceses e especialistas em segurança acham que sim.
Abdeslam certamente não passou esse tempo todo tomando chá. Planejava outros atentados com seus cúmplices, que desfecharam a onda de ataques de hoje. Prendê-lo vivo foi e continuará sendo importante, pelas informações que pode dar,. Mas permanece a pergunta: se demoraram tanto tempo para pegá-lo, os agentes belgas acabaram facilitando a prática de novos crimes?
Os atentados em Bruxelas, com 23 mortos ainda pela manhã, incluem mais uma grande cidade européia na lista das que já foram alvos de grandes atrocidades praticadas por terroristas muçulmanos. Madri, Londres e Paris carregam as marcas de violências hediondas e também uma certeza, repetida insistentemente pelas principais autoridades da área de segurança: vai acontecer de novo e será pior ainda. Em Londres, policiais e agentes anti-terrorismo estão sendo treinados para enfrentar até dez atentados simultâneos, considerando o que aconteceu em Paris em 13 de novembro do ano passado.
O que as pessoas comuns devem fazer em caso de atentados? Autoridades britânicas explicam: tentar escapar; se não conseguirem, procurar lugares protegidos; silenciar os celulares; avisar a polícia de quantos são, onde estão e o que fazem os atacantes. Mas em meio ao pânico em Bruxelas, o vice-primeiro-ministro Alexandre De Croo pediu aos belgas que parassem de usar seus celulares em chamadas porque as redes estavam ficando saturadas.
Dá pena do desamparo que tudo isso implica. Principalmente quando se vê as reações de israelenses comuns, na atual onda de ataques praticados isoladamente por palestinos. Um músico de rua arrebentou o violão na cabeça de um esfaqueador; um fotógrafo sentou o pau de selfie de outro – no melhor uso já registrado da infernal vareta. Um rabino arrancou a faca que o atacante havia cravado no seu pescoço e revidou.
As reações, evidentemente, são menos difíceis com atacantes isolados, armados com facas. Sem contar a situação excepcional de Israel, desde sua criação, e a disposição de seus cidadãos a não se deixar imolar passivamente. Mas quando o árabe israelense Nashat Milhem, viciado em drogas e possivelmente esquizofrênico, matou a tiros dois homens em Tel Aviv, o fato de que tinha uma arma de fogo o ajudou na fuga.
As forças de segurança israelenses demoraram uma semana para prender Milhem, numa casa próxima ao lugar em que sempre morou. Para ter certeza que era ele, analisaram o DNA de fezes encontradas num de seus esconderijos. Houve muitas críticas à demora em prendê-lo, mesmo que estivesse escondido, como o Abdeslam, filho de marroquinos nascido na Bélgica que tem nacionalidade francesa, perto da própria casa.
Existem as críticas dos cidadãos que se sentem abandonados – da mesma forma que existem os elogios aos homens e mulheres que enfrentam terroristas dispostos a morrer levando a maior quantidade de gente com eles; Salah Abdeslam foi uma exceção, tanto que largou o colete-bomba com o qual se suicidaria no estádio de futebol de Paris e acabou preso vivo. Em particular, o comando das forças de segurança também analisa e faz a autocrítica de suas operações, para errar menos nas próximas vezes. Sabem que os terroristas islâmicos estão fazendo exatamente a mesma coisa.
Mas o que poderá acontecer se europeus comuns, acostumados a gerações de segurança, educados para ser gentis com pessoas de todas as origens e horrorizados diante de qualquer menção à palavra autodefesa, começarem a perceber que estão indo para o matadouro enquanto autoridades policiais os aconselham a desligar o celular?