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Sexo e poder: a “religião” universal dos gurus abusadores

Líderes de seitas, monges budistas, gurus indianos e, claro, padres católicos: o elo em comum dos homens do espírito que chafurdam nos prazeres da carne

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 15 dez 2018, 16h36 - Publicado em 15 dez 2018, 15h49

“Fomos intimados a nos despir, a mostrar nossas partes genitais (homens e mulheres), a lhe fazer felação, a nos deixar manipular sexualmente, a lhe dar fotos de nossas partes genitais, a fazer amor com sua parceira em sua cama e a lhe descrever nossas relações sexuais com nossas parceiras.”

A carta de denúncia poderia ser aplicada a praticamente qualquer um dos “líderes espirituais” que usam de sua posição de poder e controle para abusar de quem busca uma vida mais evoluída, iluminação, cura ou simplesmente uma educação religiosa.

No caso, foi feita por oito discípulos do segundo líder do budismo tibetano mais conhecido do mundo, depois do Dalai Lama.

Songyal Rinpoche estava com a vida ganha na França. Quando inaugurou seu maior centro religiosos em Roqueredonde, em 2008, recebeu a primeira-dama Carla Bruni, o ex-primeiro-ministro Alain Juppé e o próprio Dalai Lama, entre outras celebridades.

No ano passado, finalmente o templo caiu. Ele não somente xingava, espancava e abusava sexualmente de seguidores, como inventou uma teoria literalmente maluca, a da “sabedoria louca” para justificar por que fazia exatamente o oposto do esperado de um mestre do budismo.

Ter uma vida de luxo, Mercedes com chofer, cozinheira e massagista disponíveis 24 horas por dia, piscina aquecida e, heresia suprema, comer carne? Sem contar levar as discípulas mais jovens para a cama?

“Quanto mais ele se comporta de maneira inesperada, violenta, agressiva e desrespeitosa, mais isso prova que um ser iluminado, onisciente, acima das convenções sociais”, descreveu a antropóloga Marion Dapsance.

Ela passou sete anos pesquisando nos centros budista do falso santo homem na França e foi muito criticada quando lançou um livro expondo suas falcatruas.

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Songyal Rinpoche começou a ficar rico quando lançou O Livro Tibetano do Vida e da Morte – escrito por dois discípulos ingleses.

Mesmo depois de um processo por abuso nos Estados Unidos, que terminou em acordo de indenização, desenvolveu um cinismo quase cômico, se não fosse pelas pessoas enganadas em sua credulidade.

Quando levava uma discípula para a cama, chegava a virar  pinturas com divindades tibetanas. Do lado de trás havia fotos eróticas da atriz francesa Emmanuelle Béart, símbolo sexual dos anos oitenta.

Surfou na onda do Dalai Lama, que reúne as qualidades de perseguido pelo regime comunista chinês com a capacidade de espelhar um “budismo à ocidental”, uma espécie de autoajuda misturada com uma virtude universal, a compaixão.

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Nada a ver, evidentemente, com o budismo praticado pelos tibetanos, sem meditação e com constantes orações e rituais místicos para avançar o carma.

O afastamento do monge tarado foi tranquilo em relação aos protestos que aconteceram na Índia, também no ano passado, quando Ram Rahim Singh, um guru com pinta de rapper, foi condenado pelo estupro de duas seguidoras.

Mais de trinta pessoas morreram enquanto ele era levado de helicóptero para cumprir a pena. Os protestos tiveram números indianos: mais de 200 mil pessoas.

Ram Rahim Singh ainda vai ser julgado pelo homicídio de um jornalista, vítima de assassinato por encomenda depois de começar a investigar as práticas nada santas que rolavam no ashram.

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Os gurus têm uma grande influência na Índia, com milhões de seguidores que seguem seus conselhos tanto na vida espiritual quanto material. Têm também um longo prontuário de abusos sexuais, nem sempre punidos por causa, justamente, do poder que exercem não apenas sobre seus adeptos mas também autoridades temerosas de investigar figuras tão populares. Lembra algum outro país?

Um dos mais famosos gurus indianos das últimas décadas, Sri Sathya Sai Baba, morreu em 2011, sem que as acusações de abuso de meninos e adolescentes fossem adiante.

Sai Baba tinha seis milhões de seguidores, incluindo políticos, empresários e artistas indianos. Abriu mais de 1.200 centros em dezenas de países. A aldeia miserável onde nasceu prosperou com dezenas de tempos e até um aeroporto só para trazer devotos.

Era tratado como uma divindade, capaz de levitar o tempo todo, embora tenha ficado famoso com truques de mágica como “materializar” objetos.

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Como Nicolás Maduro e sua mulher eram seguidores, talvez ele tenha um carma muito longo a pagar, fora o dos crimes sexuais contra menores, o mais hediondo de todos.

“Era assim que perdíamos a inocência da infância”, contou numa entrevista o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. Ele foi abusado por um padre jesuíta americano na escola onde estudava, tal como um número incalculável de outros meninos.

O padre o acariciou nas partes íntimas exatamente no momento do sacramento da confissão. As Filipinas são o único país asiático com uma enorme maioria católica, resultado dos 300 anos em que foi colônia espanhola.

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Duterte é conhecido como um brucutu capaz de dizer as maiores barbaridades. A mais recente foi  que a população devia “matar os bispos”, que “não servem para nada”. Um porta-voz depois explicou que era “apenas uma hipérbole”.

Certamente também foi uma hipérbole quando ele disse que “90% dos padres” são gays e que a Igreja católica “é a instituição mais hipócrita do mundo”.

Hipocrisia em larga escala, evidentemente, não é uma exclusividade dos padres abusadores. E nem deveria haver um campeonato macabro sobre qual religião abriga mais criminosos sexuais, pervertendo de forma inominável a missão que eles próprios escolheram.

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