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Se o Irã fizer mais um movimento, vai ter guerra com Israel

Esta é a conclusão inevitável do confronto em relativa surdina no último fim de semana, quando provocação via drone levou a ataque aéreo em grande escala

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 12 fev 2018, 17h21 - Publicado em 12 fev 2018, 13h16

Perder sua força aérea para Israel já é quase uma tradição na Síria. A última vez que isso aconteceu em grande escala, foi em junho de 1982, no começo da Guerra do Líbano.

Resultado: 82 caças sírios de fabricação soviética derrubados (de um total de 100), 30 baterias antiaéreas destruídas. Sobrou uma. Israel teve dois caças avariados. Foi a maior batalha aérea desde a II Guerra Mundial.

Os combates entre os dois países, com enorme desvantagem tática e estratégica para a Síria, só tiveram um cessar-fogo por imposição do presidente Ronald Reagan. A imprensa soviética divulgou na época uma notícia não só falsa, como delirante: Israel tinha perdido 67 caças.

Como a parte mais importante para quem inventa uma fake news é não acreditar nela, a superioridade do material bélico fornecido pelos Estados Unidos a Israel ficou evidente.

David Ivry, o comandante da Força Aérea israelense na época, disse ter ouvido confidencialmente que os soviéticos identificaram muito bem seus pontos fracos – os mesmos, em termos tecnológicos, que acabaram levando ao desmanche do império vermelho.

Diante de um histórico assim, por que sírios e aliados não estão comemorando com grande festas o primeiro caça israelense que derrubam desde 1982?

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Provavelmente porque sofreram perdas que estão procurando esconder. Ou seguindo instruções de seus amigos.

Ter amigos importantes é a estratégia de sobrevivência do regime sírio. Rússia, Irã e Hezbolllah, hoje a força dominante no Líbano. Com esse tipo de apoio, conseguiu o que parecia impossível: manter-se no poder depois de uma guerra civil de proporções bíblicas, com a grande maioria do país, os muçulmanos sunitas, lutando ou torcendo contra.

Ir para um confronto com Israel agora seria uma loucura. Mas o regime sírio não tem muito poder de decisão. Quem vai decidir é o Irã.

O confronto do último fim de semana foi praticamente entre iranianos e israelenses. Começou 4h30 da madrugada do dia 10, quando um radar israelense detectou um avião não-tripulado, chamado em geral de drone, entrando no país pelo espaço aéreo da Jordânia.

Um helicóptero Apache já estava esperando quando o drone operado à distância por um técnico iraniano entrou em território israelense. Foi derrubado num ponto onde poderia ser recuperado e estudado – exatamente como os iranianos fizeram com o avião não-tripulado americano abatido em 2011, cuja tecnologia copiaram.

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Quinze minutos depois, aviões israelenses bombardearam o veículo móvel no qual estavam os equipamentos para operar o drone, perto de Palmira, a cidade com ruínas milenares onde o Estado Islâmico praticou barbaridades, antes de ser expulso. Os ocupantes do veículo, iranianos, foram mortos.

As baterias antiaéreas sírias, modernizadas pelos russos, reagiram em massa. Estilhaços de um míssil dirigido por calor atingiram um F16 israelense. O caça de 18 milhões de dólares caiu em território de Israel.

Piloto e artilheiro se ejetaram. O primeiro sofreu ferimentos sérios. Estão sendo investigados por possível erro técnico. O F16 é um avião de alta performance, com equipamentos que detectam quando é alvo de um míssil antes que seja disparado.

Israel reagiu com uma segunda onda de ataques aéreos contra doze instalações militares  na Síria, inclusive o principal centro de comando e controle.

Dos doze alvos, quatro era iranianos. Num deles, um aeroporto do exército sírio usado pela Guarda Revolucionária iraniana, havia pessoal militar russo, o que dá uma ideia do tamanho dos problemas em potencial.

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Aliás, o maior dos problemas. O governo israelense segue uma política de jamais criticar a Rússia publicamente, Benjamin Netanyahu fala regulamentar com Vladimir Putin e, como outros agentes envolvidos no caldeirão sírio, tem acordos tácitos para não desencadear confrontos indesejados.

A encrenca é que no Oriente Médio a lei das consequência indesejadas impera com um vigor letal. A Guerra do Líbano é um exemplo clássico: Israel entrou no país com a força arrasadora de sua superioridade bélica, demonstrada na destruição da Força Aérea síria, para resolver rapidamente problemas imediatos. Enrolou-se no pantanal libanês que, no fim, foi mais corrosivo.

A Síria pode ser, e tem sido, um Líbano ampliado, com o envolvimento de atores representando diferentes interesses nacionais, internacionais, sectários e étnicos.

Só um exemplo: o porta-voz de um grupo ligado à Al Qaeda na Síria elogiou o ataque israelense contra o maior de seus inimigos, Bashar Assad.

Já a  comemoração mais consequente da derrubada do caça-bombardeiro israelense foi feita pelo Hezbollah, mencionando, com uma boa dose de razão, uma “nova era estratégica”.

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A baterias antiaéreas russas mais avançadas desequilibram seriamente a superioridade bélica de Israel. Daí a necessidade de um ataque forte, mas limitado. E dos avisos sem meias palavras ao Irã.

Israel Katz, ministro da Inteligência, foi encarregado do recado: “Nós, e eles, sabemos o que foi atingido. Eles vão precisar de algum tempo para digerir, para entender como fomos direto aos alvos ocultos porque temos serviços de inteligência e capacidade de saber tudo o que acontece lá.”

A mesma lógica que faz Israel agir militarmente com presteza e sapatear nas feridas é a que garante que o Irã não deixará de responder. Se  exagerar, pode desencadear um conflito maior, o que não parece ser de seu interesse, muito menos dos russos.

Outro exemplo de como as alianças são complexas nesse cenário foi dado por Yoav Galant, general da reserva e atual ministro da Habitação, que fez um análise estratégica quase estonteante dos interesses envolvendo o Irã.

“De forma geral, posso dizer o seguinte: ninguém quer os iranianos lá”, disse, referindo-se a Síria. “Nem os países sunitas moderados – Jordânia, Egito, Arábia Saudita, Turquia – nem os europeus, preocupados com os milhões de sírios que saíram de seu país e foram para a Europa em consequência do controle alauíta. E certamente nem nós nem os americanos.”

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“Quanto aos russos, eles fizeram o trabalho sujo por um certo período. Num estágio mais adiante, chegaremos a uma situação em que estarão competindo pelos mesmo recursos e os russos, também, não vão querer os iranianos nessa área.”

Mas e a aliança dos russos com o Irã e o Hezbollah? “Eles não são contra nós, o que é espantoso”, garantiu Galant. Segundo a análise dele, os russos continuam a ter, primordialmente, o interesse de sempre: garantir suas bases navais em Tartus e Latakia.

“O Irã quer assumir o controle do Oriente Médio, pura e simplesmente”, resumiu ele. “Estão montando um exército na Síria e têm interesse em abrir uma frente, o Hezbollah 2.0, nas montanhas de Golã, e transferir armamentos para o Líbano.”

“Nós não vamos permitir.”

Com confrontos abertos ou mais na surdina, ou ainda via Hezbollah, Israel e Irã vão continuar se enfrentando. A guerra da Síria e na Síria ainda está longe de acabar.

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