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Sabe a última do presidente? Piada da vez é com a Ucrânia

Humorista, despreparado, relações suspeitas, baixinho, judeu: Volodymyr Zelensky é um espanto até pelos padrões da antipolítica atual

Por Vilma Gryzinski 22 abr 2019, 14h34

A essa altura, muita gente já sabe que o novo presidente da Ucrânia escreveu e estrelou uma série de televisão sobre um desconhecido que acaba sendo eleito presidente da Ucrânia.

Volodymyr Zelensky pode ser assim considerado o primeiro metapresidente da história (humorista presidente já existe um, Jimmy Morales, da Guatemala, e o italiano Beppe Grillo talvez poderia ser, se quisesse).

A série intitulada Servidor do Povo é sobre um professor de história de segundo grau que faz um vídeo viral com um desabafo sobre a incompetência e a corrupção dos políticos, temas com os quais muitos brasileiros podem se identificar.

Seus alunos fazem um crowdfunding, a fama do professor desconhecido cresce e assim a coisa vai.

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Na vida real, seja lá o que isso signifique hoje, Zelensky se candidatou com um apoio bem mais consistente: o do dono do canal de televisão onde seus programas humorísticos eram apresentados, Igor Kolomoisky.

Por incrível coincidência, Kolomoisky também era dono de um banco, nacionalizado pelo presidente massacrado nas urnas pelo comediante Petro Poroshenko.

Obviamente, Kolomoisky, hoje baseado em Israel, virou um inimigo mortal de Poroshenko, milionário do ramo de biscoitos que comprovou uma espécie de doutrina ucraniana: todo político acaba sendo um fiasco monumental, quando não um traidor desgraçado, e contribui para o país ficar pior ainda.

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Poroshenko, por exemplo, foi eleito como uma esperança de mudança depois da revolução popular de 2014 que expulsou do país o formidavelmente corrupto e traidor Viktor Yanukovitch.

Na véspera de assinar um tratado com a União Europeia, Yanukovitch pegou um avião e foi fazer um acordo secreto com Vladimir Putin. Hoje vive exilado na Rússia, depois de desencadear uma sequência de desgraças: repressão brutal antes da queda, a invasão russa da Crimeia e um conflito atualmente em fase morna, mas insolúvel, entre ucranianos de origem russa e os puro sangue.

É justamente este conflito, a fase recente de uma relação complicada com mais de 700 anos de história, que torna a eleição de Zelensky mais interessante ainda.

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Ele é filho de cientistas judeus de língua russa que viviam perto de uma antiga base militar soviética na Ucrânia e trabalhavam em pesquisas do ramo bélico.

Nenhuma dessas características o tornariam popular no ambiente de nacionalismo renascido, e em alguns casos exacerbado, pela revolução e o conflito com a Rússia.

Zelensky, que lembra Mr Bean, o personagem do comediante inglês Rowan Atkinson, passou a campanha relegando a origem judaica ao limbo. Seu assessor de imprensa se recusou a tratar da questão.

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Quando falou sobre o assunto, Zelensky fez piada: “O fato de que eu seja judeu mal pega o vigésimo lugar na minha longa lista de defeitos”.

Representantes da comunidade judaica comentaram que o novo presidente, casado com uma ucraniana cristã, não segue a religião. E não resistiram às fofocas: dizem que se converteu ou que batizou o filho.

Essas histórias são relevantes à luz do terrível antissemitismo e do sofrimento inominável vivido pela Ucrânia, talvez o país mais brutalmente massacrado para a imposição do regime comunista.

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Para dobrar a população, principalmente os agricultores inseparáveis da terra e da religião, o regime stalinista submeteu a Ucrânia nos anos trinta a uma espécie de genocídio pela fome. O confisco e o racionamento extremo provocaram um número calculado entre três e sete milhões de mortos, talvez mais.

É esta tragédia que precisa ser conhecida quando se sabe que houve ucranianos que receberam os alemães em 1941 como libertadores, outros se incorporaram ao novo invasor e outros lutaram, simultaneamente, contra soviéticos e nazistas.

Também houve um índice alto de colaboração na perseguição e morte aos judeus. Os campos de extermínio na Polônia foram ativados justamente para sistematizar o genocídio judaico e aliviar o impacto sobre os militares alemães, estressados pelos constantes fuzilamentos em massa de crianças, mulheres e homens na Ucrânia.

Soa inacreditável, mas foi isso que aconteceu. Como Zelensky vai administrar esta história de sangue? E como vai conduzir as relações com a Rússia de ambições imperiais renascidas? Recuperar a economia estraçalhada? Honrar a promessa de combate à corrupção? Sobreviver ao buraco negro devorador de reputações?

O humorista-presidente foi extremamente cauteloso durante a campanha. Falou vagamente em tentar uma coexistência com a Rússia, o vizinho inevitável, sem muitos detalhes sobre como faria isso com um país que engoliu para sempre um pedaço de território ucraniano e alimenta a rebelião em regiões fronteiriças.

Com 41 anos e 1,63 de altura, o que criou um desequilíbrio visual num debate com Poroshenko, um homenzarrão de cabeça de tamanho aproximado de um contêiner, o primeiro ato de Zelensky como presidente praticamente eleito foi receber a polícia em casa e ser multado por ter mostrado seu voto para as câmeras de televisão.

“Prometo que não os decepcionarei”, disse aos ucranianos. Não vai demorar muito para que eles saibam se foi piada ou verdade.

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