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Renúncia, impeachment e outras dos piores juízes supremos

Dos Estados Unidos, claro. No país onde nasceu o conceito do tribunal dos tribunais, com juízes ilibados e vitalícios, vários sujaram a toga

Por Vilma Gryzinski 7 mar 2019, 13h42

“Vou mandar 50 mil meninos para o Vietnã e vou mandar você para a Suprema Corte.”

Assim o presidente Lyndon Johnson anunciou, em 1965, ao amigo e consultor Abe Fortas que teria o lugar mais prestigiado do país para qualquer jurista.

Embora Fortas não fosse um jurista qualquer e tivesse reclamado que iria ganhar muito menos como membro da Suprema Corte do que em sua banca de advogado, aceitou. E se deu mal.

Johnson continuou a se aconselhar com Fortas. Eram aliados nas medidas progressistas no campo dos direitos para a população negra do sul, onde subsistiam medidas segregacionistas.

E em outras coisas. Chegava a ligar para grandes empresários e transmitir recados do presidente. Quando Johnson o promoveu a presidente da Suprema Corte, a toga caiu.

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“Ele participava regularmente de reuniões da equipe da Casa Branca, informava o presidente sobre deliberações secretas da Corte e, em nome do presidente, pressionou senadores que eram contra a Guerra do Vietnã”, dizia um documento do Senado.

Pelos padrões que vemos hoje num certo país que copiou o sistema de um supremo tribunal como ápice da garantia de independência entre os três poderes, o motivo final foi quase banal.

Fortas havia dado um seminário de direito pago pela fundação de um ex-cliente, sob investigação por traquinagens na bolsa. Quantia envolvida: 15 mil dólares.

Foi um escândalo que o levou a renunciar. Transformou-se no único juiz a deixar a Suprema Corte americana por conduta suspeita.

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O único caso de impeachment na Corte aconteceu em 1804 e envolveu ninguém menos que um dos signatários da Declaração da Independência, Samuel Chase.

Nomeado pelo primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, para a primeira Suprema Corte, Chase entrou em choque com outro gigante da história americana (cheio de defeitos, mas por enquanto ninguém cortou as perninhas dele), Thomas Jefferson.

FALTA DE DECORO

A disputa está no cerne da formação política dos Estados Unidos: o poder do governo federal em relação aos estados, municípios e cidadãos.

Chase era um federalista nesse sentido, favorável a um governo central forte. Quando foi eleito presidente, Jefferson já estava na corrente oposta. Criou o Partido Democrático-Republicano e cortou várias atribuições, inclusive fiscais, do governo federal.

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No choque entre os dois, a Câmara dos Representantes votou a favor do impeachment de Chase pelas acusações de partidarismo político, manipulação e incitação de jurados, falta de decoro judicial e expressão de opiniões “altamente indecentes, extrajudiciais e destinadas a prostituir sua alta investidura com objetivo eleitoreiro”.

Chase foi absolvido pelo Senado e continuou na Suprema Corte até morrer. Ainda hoje não existe consenso sobre seu caso: se foi uma vitória da independência do Judiciário ou um incentivo à autonomia descontrolada de juízes politizados.

A pior decisão da Suprema Corte em todos os tempos foi provavelmente a escrita por Roger Taney no complexo caso de um escravo, Dred Scott, que pedia a emancipação baseado no fato de que havia morado num estado que não reconhecia a escravidão.

A resposta de Taney foi que negros de origem africana não podiam ser cidadãos dos Estados Unidos e não tinham direito às proteções constitucionais.

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Um erro moral, jurídico e político que provocou reações violentas. Contribuiu, entre muitos outros elementos para a Guerra Civil travada entre estados do norte e do sul em torno da questão da escravatura.

Detalhe: Taney era sulista, católico e contra a escravidão. Havia emancipado seus escravos.

ORGIAS SEXUAIS

O juiz James Clark McReynolds era tão antissemita que, durante três anos, se recusou a dirigir a palavra a Louis Brandeis, o primeiro juiz judeu da Suprema Corte. Hugo Black tinha sido da Ku Klux Klan, mas entrou para a história como defensor do New Deal e das proteções constitucionais para os negros.

Adeptos de teorias conspiratórias acreditam que Antonin Scalia, o juiz brilhantemente conservador encontrado morto na cama de um resort de luxo para caçadores em 2016, foi vítima de um plano maquiavélico.

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Mesmo se tivesse havido uma autópsia, dispensada pela juíza local chamada Cinderela Guevara, a incredulidade continuaria.

Dois juízes da atual corte enfrentaram denúncias de assédio sexual, Clarence Thomas e Brett Kavanaugh. São odiados pelos progressistas.

A juíza Ruth Bader Ginsburg (85 anos, dois cânceres e várias costelas recentemente quebradas) é venerada pela mesma turma.

O medo de que vá para outro plano e abra outra vaga para um indicado por Donald Trump faz com que ofereçam a ela até órgãos para transplante. Inclusive costelas.

“É ofuscantemente claro que os juízes não têm mais capacidade do que todos os demais de determinar o que é moral”, disse Scalia certa vez num discurso em Harvard.

Católico das antigas, ele provocou: “Aceito, por exemplo, em nome do debate, que as orgias sexuais eliminam tensões sociais e devem ser encorajadas”.

Falava, teoricamente, do tipo de orgia mostrada “naquele” vídeo, divulgado “naquelas” circunstâncias. Em cima do ponto de ônibus, não debaixo da toga.

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