Recado de Trump: caros falsos amigos, fonte de dólares secou
Ajuda suspensa ao Paquistão e ameaça de corte à Autoridade Palestina são sinais da nova era da impaciência estratégica. A questão é se vai funcionar
Países podem não ter amigos, mas existe um limite para o preço a pagar por seus interesses? Como em muitos outros aspectos, Donald Trump está aí para testar limites.
Na terça-feira, enquanto o livro-bomba sobre ele estava a horas de ser divulgado, Trump bombardeou pelo Twitter: “Não é apenas ao Paquistão que pagamos bilhões de dólares a troco de nada, mas também a outros países, e mais outros. Por exemplo, pagamos aos palestinos centenas de milhões de dólares por ano e não recebemos apreciação nem respeito”.
Além do uso do verbo pagar, tão inimaginável na diplomacia quanto seria de se esperar de Trump, chama a atenção a relação de causa e efeito manifestada sem a anestesia habitual do palavrório enfeitado. Quem paga, exige; quem recebe, retribui.
E não deu outra. Na quinta-feira, foi suspensa a ajuda militar – um termo menos direto – de 1,3 bilhão de dólares por ano ao Paquistão.
O sono não deve ter ficado mais tranquilo em vários lugares importantes de Ramallah, a cidade onde funciona a Autoridade Palestina, o governo dos territórios ocupados por Israel na região das Cisjordânia.
Quem vê manifestações infinitas de palestinos queimando retratos de presidentes americanos, provavelmente não se dá conta que os Estados Unidos bancam o governo autônomo, criado com o acordo de paz de 1994, a polícia e os próprios palestinos que têm o status de refugiados.
Além de ser bonzinhos, os Estados Unidos têm interesse em manter a viabilidade, a estabilidade e a moderação (comparativa, o parâmetro é Gaza, onde o Hamas domina) do governo palestino, pensando no presente e num futuro Estado independente.
Claro que, com a onisciência de seus métodos de espionagem, os americanos sabem de tudo. A corrupção, os desvios e o duplo discurso da AP e de seu octogenário líder, Mahmoud Abbas, um para o consumo interno e outro para o externo.
Sabem também que as ongs através das quais chega a ajuda humanitárias campos de refugiados são explicitamente antiamericanas – na Cisjordânia, no Líbano e na Síria, onde, acreditem, os americanos bancam a parte do leão.
Sem contar os 343 milhões de dólares – metade de toda a ajuda externa recebida pela AP – da bolsa-terrorista, as pensões pagas às famílias dos mártires, como são chamados aqueles que matam israelenses judeus (além de alguns drusos) e são mortos por eles.
Nos últimos 23 anos, foram 5,2 bilhões de dólares – uma ninharia se abrisse caminho a um acordo de paz definitivo. Como Abbas quis falar grosso depois que o governo americano reconheceu Jerusalém como capital de Israel e fechar a via da negociação, mesmo que empacada hé muitos anos, Trump disse que vai pagar para ver.