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Quando Tucker faz biquinho, a direita vibra e a esquerda surta

Apresentador da Fox é um fenômeno de audiência e cria expectativas de que tenha ambições políticas próprias - e não são pequenas

Por Vilma Gryzinski 22 jul 2020, 08h18

Tucker Carlson tem sempre alguma coisa a dizer sobre os assuntos mais importantes. 

E o que ele diz não só faz sentido como cala fundo no seu espectador mais importante, Donald Trump.

Exemplos: pandemia de coronavírus tem que ser levada a sério, dar a ordem para explodir o iraniano Qassem Soleimani não foi uma decisão sábia e os Estados Unidos precisam perseguir ativamente o objetivo de deixar as intervenções militares em países estrangeiros no passado.

Parece coisa de esquerda?

Não é. Mesmo.

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O recordista de audiência entre programas jornalísticos nos canais por assinatura – 4,3 milhões em junho, a maior de todos os tempos – está à direita de Gengis Khan.

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É uma direita muito específica dos Estados Unidos, nacional-populista e isolacionista, moldada na rejeição à política externa intervencionista que atingiu o ápice durante o governo de Bush filho com a invasão do Iraque.

Tucker fala tão mal do Partido Republicano que parece estar pensando em criar uma alternativa a ele. 

Ou quem sabe sacudir as estruturas do partido convencionalmente conservador com uma candidatura à Casa Branca em 2024?

“Se ele concorresse, seria um candidato formidável”, disse ao Politico o profissional de campanhas Luke Thompson, que montou a fracassada tentativa de Jeb Bush contra Trump em 2016.

Jeb Bush é o tipo de republicano que Tucker descasca e engole vivo em sua máquina diária de moer carne.

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A máquina, claro, funciona nos dois sentidos.

Tucker é um dos apresentadores da Fox que estão sendo acusados de assédio sexual, o pecado original da Fox que afundou o genial criador do único nicho de direita entre os grandes veículos de comunicação, Roger Ailes, e também incinerou seu antecessor no horário nobre, Bill O’Reilly.

Cathy Areu, convidada habitual do programa, disse que a equipe técnica não tirou seu microfone de ouvido certa noite só para que Tucker a convidasse a passar por seu quarto de hotel.

Ela e Jennifer Eckhart, ex-assistente de produção, acusam de assédio sexual a elite da Fox, Tucker, Seam Hannity e Ed Henry, já demitido por outros comportamentos indevidos. Sobre ele recai a acusação mais pesada de estupro.

Tucker Carlson faz um programa com um formato simples: abre com um diálogo – quando faz a expressão raivosa clássica, escondendo os dentes com os lábios, se o assunto demanda – e depois faz uma entrevista.

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Se for um entrevistado com o qual concorda, tudo rola com tranquilidade, embora no tempo televisivo. A coisa pega fogo quando tem um defensor de ideias contrárias, daqueles acostumados ao embate agressivo.

Tucker já foi acusado de ser um supremacista branco, o xingamento do momento. Existem campanhas quase constantes para bloquear seus anunciantes – alguns cedem, mas o sucesso do programa é um imã de publicidade.

Em 2018, um grupo de antifas entrou no jardim de sua casa, bateu em portas e janelas, pixou o A num círculo que é o símbolo do anarquismo. Tucker fez um escarcéu e acabou mudando de endereço com a mulher e os quatro filhos.

Agora, acusa um repórter do New York Times de estar rodeando sua nova casa com as piores intenções.

Inevitavelmente, Tucker é comparado com o “padre do rádio”, Charles Coughlin, um sacerdote que livrou fenômeno político na década de trinta.

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Coughlin chegou a ter uma audiência de 30 milhões de ouvintes, seduzidos por sua retórica poderosa sobre assuntos políticos e econômicos numa época em que a Grande Recessão criava desesperança e medo.

O padre começou a testar um programa de rádio depois que a Ku Klux Klan queimou uma cruz na frente de sua igreja – o anticatolicismo era um dos pontos programáticos da organização racista.

Com o tempo e o sucesso, Coughlin criou uma organização, a União Nacional pela Justiça Social, e foi ficando cada vez mais parecido com uma versão americana do fascismo europeu, inclusive pelo antissemitismo.

Alguns de seus temas poderiam ser repetidos palavra por palavra por Tucker Carlson, principalmente a investidas contra os “donos do dinheiro”.

“Nosso governo ainda defende um dos piores males do capitalismo decadente, o de que a produção deve ser apenas em benefício dos donos, do capitalistas, e não dos trabalhadores”, dizia o padre.

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Só para dar uma ideia de como os opostos se encontram, Glenn Greenwald, o das gravações interceptadas da Lava Jato que tiveram efeito zero, é um entrevistado relativamente frequente do programa.

Quando eclodiu o caso das gravações, Tucker afirmou erroneamente que se tratava de líderes envolvidos em corrupção. Disse também que Greenwald poderia ser condenado a prisão perpétua “num dos sistemas carcerários mais rígidos do mundo”.

Tudo errado.

Tucker Carlson tem um contrato de seis milhões de dólares anuais, fora os bônus.

Está longe de ser um dos recordistas da pequena e espantosamente bem remunerada tribo dos apresentadores de programas políticos assim definidos: à direita, com várias graduações, estão dos da Fox; a esquerda, todos os demais.

Numa de suas declarações mais estrondosas, contra as ondas de imigrantes sem qualificação profissional ou educacional, disse ele: “É como se tivéssemos a obrigação de aceitar os pobres do mundo, mesmo quando tornam nosso país mais pobre, mais sujo e mais dividido”.

Outra: “Trump pode ser vulgar e ignorante, mas não foi responsável pelos muitos desastres criados por líderes americanos. Não invadiu o Iraque nem resgatou Wall Street. Não baixou as taxas de juros a zero, não abriu as fronteiras e não ficou calado, inerte, enquanto o setor manufatureiro desabava e a classe média morria”.

Mais uma sobre imigração, abrangendo a deputada Ilhan Omar, somaliana islamista de esquerda (sim, existe isso): “Nenhum país pode importar grandes quantidades de pessoas que o odeiam e esperar sobreviver. Os romanos foram os últimos a tentar isso, com os resultados previsíveis”.

Assunto, com boas tiradas, é o que não falta. Agora que ele pode se tornar a notícia, sempre uma posição desconfortável para jornalistas, o biquinho raivoso vai rolar mais ainda.

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