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Prostrado: na briga do Brexit, governo inglês fica emparedado

Imagem do esnobe Rees-Mogg mostra como a “guerra civil” dentro do próprio Partido Conservador está brava; saída será nova eleição?

Por Vilma Gryzinski
4 set 2019, 10h55

A estratégia do confronto com os parlamentares que querem bloquear o Brexit sem acordo explodiu no colo do primeiro-ministro Boris Johnson.

Sob a perspectiva de terem de suspender as sessões até meados de outubro, a arriscada jogada de Boris, os “rebeldes” somaram-se aos partidos de oposição para detonar Boris.

Assim, decidiram votar o projeto que impede o Brexit a seco, sem um acordo com a União Europeia. A votação será amanhã e a perspectiva é autoevidente.

O primeiro-ministro fica assim com as mãos amarradas. Talvez os pés também: não pode apelar para a “bomba atômica”, a convocação de novas eleições, sem a aprovação de dois terços dos parlamentares.

A imagem de governo nocauteado foi transmitida por Jacob Rees-Mogg, o bizarro parlamentar apelidado de “ministro para a integração ao século 19” por causa da linguagem deliberadamente esnobe, o jaquetão, os seis filhos e o castelo da família.

Como líder do governo, ele tem que ficar presente durante as intermináveis sessões, mesmo quando colegas de igual importância caem fora.

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Quando esticou seu 1,88 de altura bem no banco da frente da Câmara dos Comuns, onde ficam o primeiro-ministro e os ministros mais importantes, foi acusado de comportamento “arrogante e desrespeitoso”.  O Twitter caiu em cima.

Como o Parlamento, criado no formato atual em 1707 mas com primórdios que remontam a 800 anos, incluindo uma guerra civil e um rei decapitado por sua ordem, é bom manter um pouco de perspectiva quando se fala em momentos dramáticos.

Por isso, talvez seja melhor classificar a sessão de ontem de apenas melodramática, com toques de ópera bufa.

Boris Johnson estava discursando quando o parlamentar Philip Lee levantou-se do lado reservado aos conservadores, atravessou o curto espaço entre as bancadas e foi se sentar, no sentido literal e figurado, com a ala dos Liberal Democratas, um partido que ressurgiu da semi-extinção por causa da oposição ao Brexit.

Com isso, o governo perdeu a maioria que mantinha precariamente pela diferença de um único parlamentar. Some-se à virada os 21 “rebeldes” que votaram para que o Brexit a seco seja submetido à Câmara.

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Lee acusou o governo de “manipulação política, bullying e mentiras”. Não se pode dizer que esteja muito longe da verdade.

Johnson e sua turma, especialmente Dominic Cummings, o artífice propagandístico da vitória do Brexit, assumiram uma tática agressiva, dirigida em especial ao próprio partido.

Sabendo o que os “rebeldes” armavam, propuseram a suspensão temporária das sessões parlamentares.

Como Rees-Mogg também ocupa a posição de Lorde do Conselho, foi ele que pegou um avião e levou o documento autorizando a suspensão à rainha Elizabeth II, em temporada de verão em seu castelo na Escócia.

A suspensão era uma espécie de golpe preventivo para impedir exatamente o que está acontecendo agora.

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Para reforçá-la, o governo ameaçou expulsar do partido os parlamentares conservadores que votassem contra a linha oficial.

A situação é conhecida no Congresso brasileiro. Na Grã-Bretanha, com seu histórico emaranhado de tradições antigas e regras não escritas, a expulsão é chamada de “loose the whip”, perder o chicote ou relho. O dono do “whip”, encarregado da disciplina partidária, é o líder do governo.

Quando isso acontece, o parlamentar, obviamente, não perde o cargo, mas passa a ficar na turma dos independentes.

A ameaça de expulsão foi espetacularmente mal recebida por “rebeldes” de primeira linha, como Philip Hammond, ministro da Economia do governo de Theresa May.

Outros conservadores que fazem oposição ao Brexit a seco reclamaram que foram destratados por Dominic Cummings (Benedict Cumberbatch no filme sobre a campanha pela saída da União Europeia).

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Vestido como sempre – camisa branca amarfanhada, cabelos restantes despenteados -, Cummings recebeu os parlamentares de má vontade e chegou a dizer que nem sabia quem era quem.

Seja no Parlamento mais antigo do mundo, seja na modernista Esplanada dos Ministérios, todo mundo sabe o que nobres representantes do povo fazem quando se sentem ignorados, descartados ou mal tratados.

O governo Johnson perdeu a votação de ontem por 301 a 328, uma pancada. Votaram contra ele os partidos de oposição – Trabalhista, Liberal Democrata, os representantes da Escócia e da Irlanda do Norte, além dos “rebeldes” internos.

Para se vingar, o governo ameaça lançar outros candidatos conservadores nos distritos dos rebeldes, como Hammond e até John Bercow, o presidente da Câmara que se autoconcedeu poderes muito além da função e manipula as votações sempre para prejudicar qualquer caminho que leve ao Brexit.

Nossa, um integrante de um poder que exacerba suas funções e avança sobre território que não é de sua competência, já ouviram falar nisso?

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Boris Johnson está ouvindo. Para seus adversários, é um momento de glória.

Um deles sugeriu que fosse mantido exatamente assim: no governo, mas incapaz de governar, incapaz de ganhar votações no Parlamento e incapaz de convocar eleições gerais que, teoricamente, lhe dariam maioria para virar o jogo.

Dessa maneira, a data final de 31 de outubro passaria sem que nada acontecesse, exceto mais uma prorrogação do Brexit.

O fato de que a maioria dos eleitores não quer isso e não suporta mais a situação de paralisia que dura mais de três anos, evidentemente não é levado em consideração.

Existe ainda outra alternativa: fartos do impasse e da incapacidade dos conservadores para resolvê-lo, uma parte dos eleitores migraria em número suficiente para dar uma vitória a Jeremy Corbyn, o líder esquerdista do Partido Trabalhista.

Seria mais ou menos como se Sauron, o senhor de Mordor, tomasse o poder em toda a Terra Média.

Está faltando só um anel.

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