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Proibições sauditas: xadrez, bufês e até bonecos de neve

Mulheres poderão dirigir, mas os chefões religiosos continuam a dar sentenças malucas; vice-ministro que deixou passar imagem com Yoda é demitido

Por Vilma Gryzinski 28 set 2017, 09h19

É grande a tentação de dar risada da decisão da monarquia saudita de permitir que as mulheres dirijam.

Vamos resistir a ela e reconhecer que é uma parte importante das mudanças que estão acontecendo no reino do deserto. Algumas chegam a público, outras circulam só nos salões dos palácios fabulosamente luxuosos.

A mais importante foi praticamente um golpe em família: o rei Salman passou por cima da ordem de sucessão e nomeou seu filho favorito como herdeiro direto.

Mohammed bin Salman, chamado pelas iniciais -MBS – tem 33 anos e uma vida inteira de poder pela frente. Isso se não bater de frente com os círculos mais ardorosamente fundamentalistas, uma das forças mais influentes do país, com um apoio considerável entre a população comum.

Por isso, duas decisões anunciadas em menos de uma semana foram uma demonstração de força do herdeiro. A primeira, foi autorizar mulheres a entrar num estádio esportivo para assistir apresentações comemorativas da data nacional saudita.

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O  espírito festivo se estendeu a algumas ruas, onde homens e mulheres se misturaram ao som de músicas tradicionais ou do batidão eletrônico A proibição da livre circulação entre os sexos é tão forte que sustentava a fatwa, ou sentença religiosa, interditando mulheres ao volante.

Se começassem a dirigir, argumentava a fatwa, as mulheres poderiam sair sem um mahram, o acompanhante obrigatório, sob a figura do marido, pai ou até filho. Deixadas a seu próprio arbítrio, acabariam interagindo com homens fora da família. E todo mundo sabe como isso termina.

BONECOS ERÓTICOS

Temendo que essa maluquice fosse abandonada, em resposta a pressões de uma parte da população mais jovem e a preocupações com a imagem do reino, um xeque apresentou outro argumento: dirigir “afeta os ovários e empurra a pélvis para a frente”.

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É por isso que mulheres que dirigem “têm filhos com problemas clínicos em graus variados”, garantiu Saleh al-Luhaidan, uma autoridade religiosa que vive sendo consultado a respeito de questões não incluídas diretamente no Corão, a fonte suprema.

Por exemplo: é legítimo hackear sites imorais? Claro, respondeu o xeque, a invasão, nesse caso, se inclui na categoria altamente autorizada de “fechar uma porta do inferno”.

Consultar autoridades religiosas sobre assuntos da vida moderna sem precedentes nos textos sagrados, como doação ou transplante de órgãos e inseminação artificial, não é incomum em crenças como o judaísmo e igrejas cristãs.

A Igreja católica, com seu plantel de cientistas e teólogos de alto nível, costuma oferecer as respostas mais completas, mesmo que, obviamente, não tenham aceitação unânime.

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Sem uma estrutura altamente hierarquizada, os xeques muitas vezes fazem interpretações individuais grotescas. Em países como a Arábia Saudita, cuja própria existência decorre de uma interpretação fundamentalista dos textos religiosos, as fatwas podem ser incorporadas à legislação ou se enquadrar na categoria de conselhos bizarros.

Em programas de televisão especialmente dedicados às dúvidas religiosas, os xeques pontificam. Um deles já pôs na lista dos proibidões fazer bonecos de neve – no norte do país, os invernos podem ser rigorosos.

A aparente inocência dos bonecos é enganosa. Primeiro, eles reproduzem uma imagem humana, o que é rigorosamente proibido. Além disso, são uma imitação de hábitos dos infiéis – todos os não-muçulmanos – e, portanto, promovem “a lascívia e a erotização”.

‘PERDA DE TEMPO”

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Resolvida a questão dos bonecos, restam outras dúvidas. Por que o sistema de comida em bufê com preço fixo é religiosamente incorreto?  Responde o xeque Sale al-Fawzan:  à luz da sharia, “o valor e a quantidade do que é vendido devem ser pré-determinados antes que sejam comprados”.

O jogo de xadrez vive sendo colocado na lista negra. “É uma perda de tempo e uma oportunidade de desperdiçar dinheiro. Causa inimizade e ódio entre as pessoas”, decretou um xeque do mais alto nível. A Associação Saudita de Xadrez, bravamente, sobreviveu

O xadrez já foi proibido no Irã dos aiatolás xiitas, mas a regra mudou, e no Iraque idem. Pokemon, nem pensar. Na Indonésia, mais próxima dos “idólatras” hinduístas, a ioga (“o”, gritam fanáticos do tapetinho) vivem entrando na lista.

Usar amarelo-açafrão é proibido para todos os homens muçulmanos que levarem a coisa ao pé da letra. Mickey Mouse é um “soldado de Satã”. E O Sol continua a girar firmemente ao redor da Terra.

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É bom nem entrar na questão de quais pelos corporais devem obrigatoriamente ser aparados ou depilados e quais não podem retirados de jeito nenhum.

Se ouvissem os mais estritos, muitas muçulmanas devotas, que cobrem a cabeça com o véu, não teriam sobrancelhas caprichosamente desenhadas, compensando os cabelos ocultos.

Envoltas no véu e na bata negra sem sem os quais não podem sair à rua, as sauditas que quiserem, se os maridos deixarem, vão poder dirigir a partir de junho do ano que vem. As que não quiserem, ou puderem, continuaram com seus motoristas, geralmente indianos ou paquistaneses.

E o Yoda, onde entra? Por distração, a montagem do simpático personagem com o rei Faisal, na cerimônia de criação da ONU em 1945, foi impressa em livros didáticos. O vice-ministro encarregado do setor foi demitido. Aí, precisamos concordar: isso aconteceria em qualquer país.

“Quando você olha para o lado escuro, cuidado deve ter”, diria o mestre de Guerra nas Estrelas. Todo mundo sabe que George Lucas colocou elementos do sufismo, uma vertente esotérica do Islã,  na evoluída criatura, mas vá defender isso diante de um xeque saudita.

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