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Presidente do México a bandidos: “Pensem nas mamacitas”

Ele também já lamentou a prisão “desumana” de El Chapo nos Estados Unidos; adivinhem o que está acontecendo com a criminalidade que prometeu combater

Por Vilma Gryzinski
10 set 2019, 10h27

É interminável o manual de absurdos risíveis de tantos perfeitamente ridículos líderes latino-americanos.

Mas também é triste ver que o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, depois de passar a vida buscando o cargo e finalmente o alcançando em meio a muitas esperanças dos eleitores mexicanos, esteja fazendo suas contribuições.

A última de AMLO, um doppelgänger mais instruído do prisioneiro e influencer de Curitiba pré-condenação, foi apelar aos sentimentos filiais dos narcotraficantes que transformaram o México num teatro de horrores.

O presidente estava tratando de um caso específico, a ameaça de bandidos do estado de  Novo Laredo a distribuidores de gasolina que ousem vender combustível ao Exército, diretamente envolvido no fracassado combate aos criminosos.

“A coisa não é assim”, disse o presidente em seu tom brando, sugerindo a reabilitação espontânea dos narcos.

“Pensem em suas famílias, pensem em suas mães, em suas mamacitas, sabem como elas sofrem pelo amor sublime que têm pelos filhos, eles precisam pensar nisso.”

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O apelo de AMLO coincidiu com a viralização de um vídeo inominável: um homem nu tem seus órgãos genitais devorados por um pit bull enquanto membros de uma quadrilha da Cidade do México assistem o castigo infligido por estupro.

A cena poderia ter acontecido em muitos outros países latino-americanos onde reina o princípio de quem deve não treme.

São os campeões de homicídios e barbaridades características do tráfico de drogas, onde a impunidade, a corrupção de agentes do Estado e as disputas territoriais derivam para atos hediondos de violência.

Inclusive, claro, o nosso.

O estilo guru latino do presidente mexicano não está funcionando muito.

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O número de homicídios aumentou este ano, atingindo o recorde histórico (17.608 em seis meses, mas deve ser maior), 5% a mais do que no primeiro semestre de 2018.

A taxa por cem mil habitantes deve atingir 30. No Brasil, com todas suas enormes diferenças regionais, é de 24,7. A notável queda deste ano ainda continua. Nos Estados Unidos, igualmente continentais, a média da 6,2.

No México, também está aumentando outro indicador de falência do Estado, o número de linchamentos.

Jornalistas mortos foram dez, sendo três em uma semana. Um foi baleado na saída de um bar em Playa Del Carmen, o esplêndido polo turístico da Costa Maya. Estava sob proteção da justiça.

BANDIDOLATRIA

AMLO é um populista com características próprias. Chama seu plano de governo de Quarta Transformação, num estilo meio messiânico.

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Quando assumiu, cortou carros e outras regalias de funcionários públicos, aposentadorias e planos médicos de ex-presidentes, entre mordomias que enlouquecem os cidadãos comuns.

Também podou verbas de cultura, pesquisa, esporte e saúde. Mandou reduzir em 30% os custos operacionais de hospitais públicos. Peitou uma briga com o sindicato dos professores, uma das entidades mais reacionárias em qualquer lugar do planeta.

A coisa que mais funcionou até agora, excluindo-se a afirmação de que atingiu “corrupção zero” no governo federal, foi o controle da entrada de imigrantes clandestinos nos Estados Unidos.

Ameaçado por Donald Trump de tarifas punitivas nas exportações para o mercado americano, o presidente simplesmente cumpriu a lei. O número de travessias caiu em 56%. .

O fracasso no combate à criminalidade é o que mais pesa para um presidente ainda com altos índices de aprovação e de simpatia popular.

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Ambas submetidas a duras provas quando o presidente tem ataques de bandidolatria, como quando lamentou a condenação à prisão perpétua de Joaquín Guzmán, o infame EL Chapo do cartel de Sinaloa, em fevereiro.

“Uma condenação para ficar na prisão por toda a vida, uma prisão hostil, dura, desumana; sim, causa comoção”, disse numa das entrevistas diárias, em declaração lida e não fruto de um deslize de momento.

“Sou humanista e não desejo mal a ninguém, não gosto de chutar cachorro morto.”

Qual a parte da diferença entre mal e justiça, ainda que apenas parcial diante das atrocidades cometidas pelo narcotraficante, que o presidente não entendeu?

E onde está o humanismo de fazer uma referência apenas vaga às vítimas do criminoso, lá no fim da declaração?

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El Chapo, o baixinho sanguinário e extraordinariamente bem sucedido no transporte de cocaína por todos os meios imagináveis, e alguns inimagináveis também, para os Estados Unidos, pegou a sentença obrigatória de prisão perpétua mais 30 anos pelos crimes de que foi acusado.

Num tribunal do Brooklyn, depois de ser extraditado para os Estados Unidos, considerando-se a futilidade de tentar mantê-lo preso no México.

A sentença está sendo cumprida numa Supermax, penitenciária de segurança máxima, no Colorado.

É um lugar definitivamente hostil, sem as mordomias desfrutadas por El Chapo, inclusive sexo, em seus período no sistema prisional, interrompido por duas fugas.

Mas nada que se compare ao destino de presos  mexicanos sem poder nem dinheiro.

E infinitamente melhor do que a “sala da morte”, o aposento reformado, com azulejos, isolamento acústico e um ralo central para escoamento de sangue, numa mansão em Cidade do México onde um dos carrascos do traficante operava. Ninguém saia vivo de lá.

É claro que o antiamericanismo infantil pesou nas declarações absurdas do presidente mexicano.

O apelo aos narcos de Novo Laredo, para que ponham a mão na consciência e pensem em suas mamães, deve ser debitado ao contato com parentes de peixes pequenos do crime.

O presidente disse que onde vai, sempre existem dois tipos de mães apelando a ele: as das vítimas do crime e as com filhos condenados.

A mãe de El Chapo era e continua a ser muito bem tratada, mesmo em seu jeito bem simples de viver. Só não foi para o julgamento do filho porque os Estados Unidos não deram visto.

AMLO é da turma que acha que, por terem sido muito pobres, El Chapo e sua mãe são vítimas da sociedade. E os outros, tantos milhões, pobres que continuaram honestos, são o quê? Bobos?

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