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Por Vilma Gryzinski
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Por um fio: Netanyahu pode ser reeleito ou ir para a cadeia?

Uma semana do barulho para o primeiro-ministro israelense, enrolado em denúncias de corrupção cujo destino será decidido por ex-aliado

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 21 jan 2019, 16h09 - Publicado em 21 jan 2019, 16h09

Um político bom de briga disposto a fazer praticamente qualquer coisa para continuar no poder e um jurista incorruptível decidido a enfrentar praticamente qualquer obstáculo para impor o domínio da lei?

Todos nós já vimos este filme antes e a tensão política que ele cria. Como em Israel, as tensões habituais em qualquer outro país são multiplicadas por dez, o país espera como se fosse o dia do Juízo Final o que o procurador-geral Avichai Mandelbit vai fazer esta semana.

A decisão, que “não será influenciada por nada que não sejam as provas e a lei”, concerne as três denúncias por corrupção apresentadas em inquéritos policiais contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Com carreira na justiça militar e kipá preto, típico de uma corrente dos ultraortodoxos, Mandelbit foi secretário de Governo de Netanyahu, uma posição estratégica, pela necessidade de articulação entre todos os ministros e conhecimento jurídico para preparar projetos de lei.

Quando Netanyahu o nomeou procurador-geral, Mandelbit foi considerado o ocupante do cargo mais direitista de todos os tempos.

Agora, obviamente, Netanyahu e seus partidários o acusam de fazer o jogo da oposição e da esquerda, em conluio com a imprensa.

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É um filme que passa o tempo todo em certos países. No caso de Israel, exacerbado pela tensão pré-eleitoral.

Netanyahu antecipou as eleições parlamentares para 9 de abril e chegar a elas como processado por corrupção evidentemente pode ter um peso importante, embora não definitivo.

Mandelbit já disse que o calendário eleitoral não vai pesar em sua decisão, um fato “sem precedentes na história da justiça israelense”, segundo esperou Bibi. Emprestando um termo constantemente usado por Donald Trump, ele diz que tudo não passa de uma caça às bruxas politicamente motivada.

Dos três inquéritos por corrupção passiva, fraude e outros “malfeitos”, o mais grave é a ação penal 3000, na qual Bibi é acusado de favorecer Shaul Elovitch, dono de uma gigante de telecomunicações, em troca de cobertura favorável em seu site de notícias, o Walla.

As inúmeras intervenções no site foram reconstituídas. Por uma incrível coincidência, sempre a favor de Bibi. Elovitch, que ganhou contratos do governo, primeiro negou tudo e depois disse que agiu por medo de ser prejudicado.

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Em outro inquérito, a cobertura favorável também foi a base de tudo, mas é mais enrolado: Bibi, segundo a acusação, propôs prejudicar a circulação de um dos jornais mais entusiasticamente afinados com seu governo para favorecer uma outra publicação. O acordo não chegou a ser concretizado.

Champanhe rosê, comida gourmet, charutos cubanos e outros mimos, pagos por Arnon Milchan, um produtor de cinema em Hollywood, rolavam na casa dos Netanyahu. Um projeto fiscal que favoreceria o generoso doador foi bloqueado pelo Ministério da Justiça.

Comparadas com as proporções da corrupção no Brasil, as acusações contra Netanyahu envolvem valores e favores quase risíveis, embora o princípio da honestidade na condução dos negócios públicos seja exatamente o mesmo.

As acusações também empalidecem diante do que esperam, antecipam e até garantem, ainda sem provas, os inimigos de Donald Trump para os quais o presidente é culpado de nada menos que traição à pátria e conspiração com os russos.

Em ambos os casos, ainda não existem conclusões avançadas. A investigação de Robert Mueller, ex-diretor do FBI, só pegou peixinhos até agora. Ainda não saiu uma palavra contra Trump – e a que saiu, acusando-o de ter orientado o advogado delator Michael Cohen de mentir em depoimento ao Congresso, foi desmentida por Mueller.

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Devido ao estilo e ao temperamento de Trump, o clima nos Estados Unidos é muito mais exacerbado. Trump sobrevive a praticamente um “escândalo final” por semana, criado por ele próprio ou exagerado ou fabricado pelos adversários.

Trump tem a seu favor, por enquanto, uma infindável rede de conexões comprovando decisões movidas pelo partidarismo dentro da própria máquina da justiça.

Ainda está por ser definido se os altos funcionários da Polícia Federal e do Departamento de Justiça agiam por motivos nobres, na convicção fundamentada de que ele jamais poderia ser presidente, ou se simplesmente atropelaram a imparcialidade exigida dos agentes públicos.

Todos os casos em que políticos entram no caminho da justiça provocam suspeitas em ambos os sentidos e levam junto a imprensa.

Só para lembrar: a imprensa não tem que ser imparcial, ao contrário dos agentes públicos, mas precisa ser baseada em fatos razoavelmente dignos de crédito e checados com padrões profissionais.

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Quando jornalistas exageram, dão chiliques, fazem campanha ou publicam dados não sustentáveis, municiam os que prefeririam viver num mundo sem eles. E ainda podem arrastar os profissionais corretos junto com eles.

Denunciar perseguição por parte da imprensa ganhou novas dimensões nos tempos atuais.

O Likud, partido de Netanyahu, deu um passo adiante nesses novos tempos: espalhou outdoors com as fotos de quatro jornalistas conhecidos pelas reportagens negativas envolvendo Netanyahu. Embaixo, a frase “Eles não vão decidir”, uma referência à eleição de 9 de abril.

Mandelbit, que encerrou a carreira na justiça militar com a patente de general de duas estrelas, também está sentindo o peso do momento. O túmulo de seu pai, um sionista da ultradireita laica, foi vandalizada.

No mês passado, teve que sair da sinagoga onde estava sendo o kadish, a oração funerária judaica, em homenagem a sua mãe porque alguns manifestantes cercavam o local.

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“Coisas assim não vão abalar um único fio de cabelo dele”, disse um ex-colega ao Times of Israel.

Mandelbit se tornou praticante aos 26 anos e segue uma escola ultraortodoxa criada por um rabino cabalista. Processar, ou não, o ex-amigo que o promoveu e agora o denigre é certamente um momento existencial difícil.

A política israelense, habitualmente comparável a sete sacos cada um com sete gatos dentro, está numa fase de recomposições.

Uma corrente mais à direita acha que Bibi está fazendo concessões demais, muito possivelmente por influência de Trump – sim, ao contrário do que a cobertura habitual faz crer, os americanos sempre foram e continuam sendo um fator moderador em Israel.

Em novembro, Avigdor Liberman renunciou como ministro da Defesa, acusando Netanyahu de contemporizar com o Hamas, desencadeando o processo que redundou na convocação de eleições.

A centro-esquerda também desfez a frente que compunha a União Sionista e só tem alguma esperança de não ser pulverizada por causa do eventual processo contra Netanyahu.

Com tantos elementos negativos, Bibi continua a ser o candidato mais viável – não convocaria eleições se não fosse assim.

Ah, sim, no meio disso tudo, aumentam os bombardeios contra alvos iranianos na Síria e todo mundo continua de cabelos em pé com a próxima retirada dos comandos americanos que combatiam o Estado Islâmico.

Para variar, um chefão iraniano, desta vez o comandante da Força Aérea, prometeu “varrer Israel da face da Terra”.

Isso é praticamente um dia normal de trabalho em Israel. Mas mesmos pelos padrões israelenses, é excepcional para um primeiro-ministro enfrentar a possibilidade de ser reeleito ou, teoricamente, acabar condenado ou na cadeia.

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