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Por que a esquerda odeia Boris sem sequer conhecer seu perfil

Ao contrário de outros populistas de direita, o novo primeiro-ministro é uma flor da elite bem-pensante, mas Brexit basta para surtar oposição

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 24 jul 2019, 18h52 - Publicado em 24 jul 2019, 17h44

Nunca ninguém perdeu dinheiro, ou reputação, ao apostar no clássico do ceticismo sobre o prognóstico reservado a qualquer novo governante: não tem a menor chance de dar certo.

E poucos governantes assumiram com tantas chances de dar errado como Boris Johnson.

Mesmo que ele consiga o impossível e conduza o melhor processo possível de desligamento do polvo de mil tentáculos, a União Europeia, vários setores da economia sofrerão impactos negativos muito antes que os positivos comecem a mostrar resultados.

A oposição baseada em argumentos racionais ao Brexit tem fundamentos profundos e reais, refletidos em literalmente milhões de análises de especialistas, economistas, banqueiros,  associações empresariais e comerciais, executivos e acadêmicos demonstrando-os.

A defesa do Brexit é fundamentada essencialmente numa expressão de desejos: o Reino Unido pode se dar melhor se sair do mercado comum que levou cinquenta anos para ser construído se se reinventar como potência comercial independente e aproveitar as janelas de oportunidades criadas por menos regulamentações e menos protecionismo.

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O maior mistério sobre Boris Johnson é, justamente, se entrou no ônibus do Brexit por convicção profunda ou para fazer graça, ser do contra e conquistar um espaço mais popular (embora ninguém desconfiasse de quanto o era antes do choque mundial do referendo de junho de 2016).

Constitucionalmente, Boris é um membro da elite pró-Brexit, mais ainda do que David Cameron, o primeiro-ministro que convocou o referendo achando que assim se livraria da pressão da ala antieuropeísta do Partido Conservador.

Os dois, por sinal, estudaram em Eton, onde o uniforme diário era fraque, e Oxford, o circuito dos eleitos. Começaram como jornalistas, uma profissão ainda de prestígio, pelo menos como ponte, antes de seguir o destino manifesto da política.

Como filho de um funcionário de carreira da União Europeia, com o nome insuportavelmente elitista de Alexander Boris de Pfeffel Johnson, o novo primeiro-ministro nasceu em Nova York, fez o primeiro grau na escola belga da casta europeísta e foi prefeito de Londres duas vezes com uma clássica agenda cosmopolita.

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Fortaleceu Londres como cidade global e, no varejo, ancorou sua imagem num programa de dar arrepios a qualquer direitista de raiz: o cicloativismo.

“Todo mundo” das classes dirigentes onde Boris circula morreu de dar risada quando Michael Gove, seu “frenemy” predileto, diminuiu as chances, que já não eram grandes, de ganhar a eleição interna do partido quando reconheceu ter cheirado cocaína “várias vezes” em festas num passado nem tão distante.

Se perguntassem a Boris? Bem, não haveria resposta. Ele focou totalmente na mensagem eleitoral e não desviou um milímetro — uma raridade, considerando-se seu perfil indisciplinado e falastrão.

Contar piadas, geralmente às próprias custas, é um sinal de classe social superior na Inglaterra e talvez uma compulsão de Boris. Da mesma forma que se fazer de palhaço e aparecer com roupas ridículas ou desleixadas — nem a namorada nova, Carrie Symonds, conseguiu evitar que, em seu dia de glória, exibisse os punhos da camisa faltando abotoar um botão.

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GREGO ANTIGO

Existem os riquinhos engomados,  de punhos de renda e ternos de Saville Row, como David Cameron, e os riquinhos relaxados, de punhos desabotoados, como Boris. Em geral, o povão prefere os segundos.

O esnobismo invertido permite que a irmã dele, por exemplo, tenha ironizado quando Boris defendeu o uso do inglês por todos os residentes no Reino.

“Lá em casa, nós falávamos grego antigo quando éramos crianças”, disse Rachel Johnson. Ela aderiu ao partido Change UK , que é contra o Brexit, e tentou uma vaga no Parlamento Europeu.

Detalhe: Boris Johnson realmente fala grego antigo, um dos cursos mais puxados do Balliol College, de Oxford.

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Foi o Brexit que propeliu Boris de  conservador excêntrico e populista a inimigo mortal das esquerdas.

E inimigo perigoso: foi vital para a vitória do Brexit, derrotou todos os prognósticos de que se autodestruiria antes de chegar a primeiro-ministro e ainda tem a possibilidade, que ninguém pode cravar se será testada, de ganhar uma eleição geral.

A imagem mais tola dele foi pintada na série Brexit, onde aparece como um apalermado sem noção. Detalhe: a série mostra o estrategista Dominic Cummings, interpretado por Benedict Cumberbatch, como único responsável pela campanha vencedora.

Na série, Cummings supostamente se arrepende pela campanha, embora na vida real tenha entrado para o novo governo: uma tacada de Boris Johnson.

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Ele também levou três rivais da disputa interna: Sajid Javid, o novo ministro das Finanças, além de Dominic Raab e o próprio Michael Grove. Relevou o fato de que Gove apunhalou-o pelas costas na eleição que todo mundo gostaria de esquecer, a de Theresa May.

Jornais de esquerda como o Guardian estão surtados com Boris e as apresentadoras da BBC, também conhecida como BBzeera, atingiram novos níveis de entortamento de boca ao longo dos últimos e triunfais dias.

É claro que o teste da realidade começa imediatamente. Boris tem 99 dias para resolver a encrenca do Brexit.

Chamá-lo de islamofóbico ou  sexista não vai ajudar a entender melhor como isso pode – ou não – acontecer.

Embora ele realmente seja sexista no sentido atual da palavra:  gosta de sexo e não necessariamente com a esposa.

Talvez, bem hipoteticamente, isso contribua para sua popularidade entre a massa.

Um conservador esclarecido e moderno, com voto,  seria  realmente um perigo.

Só falta um Brexit que dê certo. Ou, pelo menos, não dê formidavelmente errado.

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