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Por Vilma Gryzinski
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Por ignorância ou hipocrisia, identidade de homófobos na Holanda é escondida

Será que eles são? São. Agressores de casal gay têm origem marroquina e refletem agressões constantes num país pioneiro dos direitos dos homossexuais

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 6 abr 2017, 07h31 - Publicado em 6 abr 2017, 07h18

Holandeses heterossexuais de terno, mãos dadas e sorriso de superioridade moral produziram imagens encantadoras  de consternação e reação às agressões sofridas por um casal gay em Arnhem.

Cerca de duas mil pessoas depois fizeram uma passeata de protesto, em tom compungido , como exigia a ocasião. Nada das fantasias divertidas da Parada Gay nem de cartazes ridicularizando Donald Trump.

Estranhamente, ninguém acusou Trump pelo crime, como acontece hoje com tudo de ruim na face da Terra. Mas também ninguém acusou  pelo nome nem identificou pela cultura os perpetradores das pancadas sofridas por Ronnie Sewratan-Vernes quando andava de madrugada de mãos dadas com Jasper Vernes-Sewratan – eles são casados no papel e usam os respectivos sobrenomes invertidos.

Foram presos quatro “meninos” e um “homem”, os primeiros com idade de 14 a 16 anos. O advogado de um deles disse que seu cliente vai contra-atacar e processar os agredidos, alegando que eles iniciaram a briga.

O advogado também negou que todos tenham origem marroquina. O que significa que alguns têm – única maneira de obter uma informação obsessivamente escondida, por desconhecimento do contexto ou má-fé, na maioria das publicações de qualidade que deram a notícia.

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INTOLERANTES TOLERADOS

A agressão não foi grave – Ronnie perdeu um dente e ficou com pequenos cortes nos lábios -, mas execrável e revoltante. E simbólica: jovens de origem marroquina são os responsáveis, na maioria, por ataques contra gays num país onde o respeito pelas liberdades individuais é exemplar e precursor.

A tradição de respeito por todos os cidadãos e o desejo de eliminar qualquer tipo de discriminação, inclusive por origem nacional e religião, acabam gerando distorções que vão além da hipocrisia praticada como homenagem à virtude.

Não só na Holanda, mas em países como a Alemanha e a Suécia, perpetradores de crimes são sempre identificados como “adolescentes” ou “homens”, inclusive nos casos de violência ocorridos em centros de asilo para estrangeiros. Na Grã-Bretanha, suspeitos ou criminosos de origem paquistanesa ou vindos de algum outro país muçulmano são sempre “asiáticos”.

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“Muçulmano”, evidentemente, é a palavra chave. No desejo de não criminalizar uma religião inteira, a informação, muitas vezes importante, é completamente escamoteada.

Ha Holanda, a discriminação, aberta ou dissimulada, de muçulmanos contra homossexuais, amparada em princípios religiosos não modernizados como em outras religiões, tem uma dimensão política maior.

Em 6 de maio de 2002, a pouco mais de uma semana que poderia até levá-lo a ser o futuro primeiro-ministro, o deputado holandês Pym Fortuyn foi assassinado com cinco tiros a queima roupa.

Fortuyn era homossexual e fazia campanha política contra a “tolerância com os intolerantes”. Ou seja, a conciliação excessiva com os abusos discriminatórios contra mulheres e gays praticados em diferentes graus por homens muçulmanos.

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PÉ DA LETRA

O grau mais extremo, evidentemente, é visto atual no território ocupado pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque. A última execução de um “acusado” de homossexualismo, orgulhosamente divulgada, foi no fim de março, em Mosul.

Um jovem de agasalho amarelo é jogado do alto de um prédio – a “torre mais alta” da cidade,  como demanda a lei islâmica na versão levada ao pé da letra. O corpo alquebrado depois é apedrejado por homens e meninos.

Pym Fortuyn, um carismático professor de sociologia e publicitário. foi assassinado por Volkert van der Graaf no estacionamento de uma estação de rádio onde havia acabado de dar uma entrevista. O assassino era um militante ecológico que abominava a vítima por fazer dos muçulmanos “bodes expiatórios”  e ameaçar a “parte mais frágil” da sociedade.

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As consequências do assassinato político reverberam até hoje.  O partido de Fortuyn aliou-se com o do então pouco conhecido Geert Wilders, unidos pela mesma plataforma: a imigração em massa de muçulmanos ameaça sociedades ocidentais baseadas em princípios democráticos e libertários incompatíveis com as exigências religiosas.

Wilders, que vive isolado e sob proteção constante, levou a ideia a extremos deformados, defendendo a proibição do Alcorão e o fechamento das mesquitas na Holanda. Recentemente, foi condenado por causa de um video em que aparece dizendo a um grupo de partidários: “Vocês querem mais marroquinos ou menos?”. Adivinhem qual foi a resposta.

Na última eleição, em 15 de março, o partido de Wilders aumentou para vinte o número de deputados. Como não correspondeu à expectativa de ser o partido mais votado e, assim, teoricamente tentar uma coalizão de governo, foi retratado como fora do mapa. Mais um resultado da expressão de desejos, da ignorância ou da má fé.

POODLE QUE ROSNA

Mas com certeza o primeiro-ministro Mark Rutte teve uma vitória marcante, com 33 deputados. Rutte é um cinquentão com ar juvenil, óculos sem aro e jeito de mauricinho. Mora sozinho, sem companhia feminina ou masculina conhecida. Passa férias com a mãe. Claro que, se fosse gay assumido, contaria até pontos a favor.

Para os que se enganam com seu jeitinho de poodle, Rutte, que é de direita, engrossou a voz durante a campanha – um resultado direto da ameaça representada por Wilders. Durante a campanha, disse que aqueles que “perseguem gays ou mexem com mulheres de minissaia” precisam se adaptar à sociedade holandesa ou cair fora.

Será que alguém ficou com medo? Pelo menos, Rutte não apareceu de maõzinha dada com ninguém como fizeram outros políticos. Evidentemente protegidos por guarda-costas e bem longe dos bairros onde jovens de origem marroquina fazem “exibições de hipermasculinidade”. É esta a ridícula explicação de um estudo sobre a relação entre criminalidade e origem nacional e religiosa na Holanda. Chorem, poodles.

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