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Política na pandemia: quem está ganhando e perdendo

A extrema instabilidade da era do coronavírus chacoalha tudo, desde eleição nos EUA até quem vai governar Israel, sem falar nas disputas italianas

Por Vilma Gryzinski 23 mar 2020, 07h37

Um governador que fala até brutalmente sobre o tamanho da crise, antecipa o fechamento da maior cidade do país, toma medidas enérgicas e cobra providências do governo federal.

Isso tudo no estado de Nova York, onde já estão falando até em “presidente Andrew Cuomo”.

Com entrevistas diárias na televisão, sobre a situação grave no estado americano mais afetado pelo coronavírus, o governador ocupou um espaço que o principal candidato a presidente pelo Partido Democrata, Joe Biden, deixou estranhamente vazio.

Todo mundo achava que Bernie Sanders, recolhido em seu estado, Vermont depois de derrotas bravas nas primárias, iria sair da disputa presidencial e deixar o caminho livre para Biden.

Mas isso foi há uns 200 anos atrás – menos de uma semana na era do coronavírus.

Mesmo antes da pandemia, Biden já tinha a desvantagem dos 77 anos, com indícios de declínio cognitivo.

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Imaginem agora, num momento de crise sem precedentes, onde só os fortes e bem capacitados a fazer a opinião pública acatar decisões dificílimas terão alguma chance de sobreviver.

Muitos democratas sonham com uma alternativa e Cuomo surgiu correndo por fora.

Mesmo quando dá notícias ruins, como a previsão de que 80% dos nova-iorquinos serão infectados nos próximos nove meses e o pico de contaminações e mortes vai acontecer dentro de 45 dias.

E mesmo, ou principalmente, depois de melhorar a relação com Donald Trump e até elogiar o presidente por atender seus pedidos.

Às turras previsíveis por seus extremos ideológicos, os dois se reaproximaram na crise, mostrando que sabem pensar politicamente.

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O governador de Nova York, é claro, não deu o mais remoto sinal de ambição de conseguir o que seu pai, mais famoso e badalado, Mario Cuomo, desistiu de tentar: a Casa Branca.

A manifestação explícita de ambições pega mal em momentos como o atual.

E daqui até julho, a data marcada para a convenção democrata que ninguém nem sabe como vai acontecer, as placas tectônicas do mundo inteiro estarão em choque acelerado.

Como vai ser a escolha do candidato democrata, a campanha, a eleição de novembro? Está tudo no ar.

Mas a turma de Trump começou, definitivamente, a prestar mais atenção em Andrew Cuomo.

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Trump continua a ser Trump, com entrevistas confusas, mas captou perfeitamente que precisa passar a imagem de comandante arrojado.

Quando passou a agir, seu índice de aprovação na crise subiu para 55%, movido às injeções de dinheiro em escala cósmica para segurar o pavor do abismo.

Como mísseis nucleares, os pacotes são lançados regularmente, depois de negociados entre os Quatro Grandes: o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, faz a ponte com os políticos, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da minoria republicana, Kevin McCartney, mais o presidente republicano do Senado, Mitch McConnell, e o líder da minoria, Chuck Schumer.

Antes mesmo da abertura dos mercados, o veto ao último pacote já indicava mais uma segunda-feira de pavor.

Mas o dinheiro vai acabar saindo: não existe outra alternativa (e todos querem que saia, inclusive ou principalmente os democratas; a oposição pontual é às poucas garantias de que as empresas beneficiadas não usem o mar de dólares para comprar suas próprias ações e revalorizá-las).

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Todos entendem que precisam agir em conjunto e quais são as principais ações para não deixar a economia implodir completamente (24% de queda no PIB no segundo trimestre, previsão apocalíptica do Goldman Sachs) e criar condições para sua ressuscitação quando o pior passar.

“Trump quer derrotar o coronavírus – e garantir que o crédito será dele”, disse o site Politico, com o habitual viés antitrumpista.

Qual o político, em qualquer país, de qualquer tendência, que não quer a mesma coisa?

Existe, evidentemente, uma linha delicadíssima entre parecer firme e arrojado e passar a imagem de aproveitador da desgraça coletiva.

Em Israel, Benjamin Netanyahu está andando bem em cima dessa linha.

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A crise pegou Israel na mesma situação de impasse que vive há mais de um ano, com três eleições sucessivas que não definem quem pode formar maioria na Knesset, o parlamento.

Rápido na reação, mas sem grande sutileza, Netanyahu conseguiu duas coisas importantes de políticos aliados: adiar seu julgamento por corrupção e suspender o parlamento, com sete integrantes em quarentena.

A suspensão acaba hoje.

Netanyahu propôs um governo de união nacional, por três anos, a Benny Gantz, o líder da frente Azul e Branco com quem tem empatado sucessivamente. Cada um deles teria um turno de um ano e meio como primeiro-ministro.

Não economizou nos termos. “Podemos estar no meio de uma crise que não só é a pior em um século, mas a pior desde a Idade Média”, apelou.

Existiria um certo interesse político em exagerar o tamanho da catástrofe?

“Eu trabalho pela nação, segurando firme no timão para navegar entre icebergs, enquanto atrás de mim outros afundam como Titanics”

Nenhum outro está mais próximo dessa metáfora, feita evidentemente em interesse próprio, do que a Itália, já indo para mais de mil mortos por dia, um pesadelo que resiste a todas as medidas de paralisação.

Aprovado pela opinião pública, o primeiro-ministro Giuseppe Conte está sendo criticado não apenas por seu grande opositor da direita, Matteo Salvini, como por um aliado, Matteo Renzi.

O método de fazer anúncios dramáticos no meio da madrugada, pelo Face, como a paralisação completa de atividades econômicas, exceto pelas indústrias de produtos básicos, foi ironizado por Renzi, um ex-primeiro-ministro de centro-esquerda.

“Nós respeitamos as regras do governo sobre a quarentena. Mas o governo precisa respeitar as regras da democracia. O Parlamento precisa ser convocado. E façamos entrevistas coletivas, não um show no Facebook: isto é uma pandemia, não o Big Brother”.

Professor de direito que virou um primeiro-ministro acidental, como representante neutro dos partidos que têm voto e se aliam, Conte está no mesmo barco que todos os outros governantes do planeta, inclusive os mais escolados e profissionais: comprou (ou ganhou) passagem para um lugar e, de repente, se viu em outro, completamente diferente.

Uma emergência que muda dia a dia, ou hora a hora, especialmente cruel, no momento, nas democracias avançadas e resistente a tudo que esteja sendo feito, seja na hora aparentemente mais correta, seja com algum atraso.

Governantes e governados estão todos no mesmo, e sinistro, Big Brother, confinados, com regras inesperadas e surpresas a cada minuto.

Todas ruins, até agora.

Quem vacilar, está fora.

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