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Por Vilma Gryzinski
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Patrulhamento: desde quando todos têm que se ajoelhar?

Gesto contra a violência policial tem valor quando é espontâneo; quando é forçado, por pressão social ou para “ficar bem na foto”, torna-se ridículo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 19 jun 2020, 09h53 - Publicado em 19 jun 2020, 08h27

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, disse uma coisa ingênua:

“Só me ajoelho para duas pessoas, a rainha e a patroa, quando a pedi em casamento”.

A patroa, termo usado de forma propositalmente popular, é a brasileira Erika Rey.

Ex-executiva de marketing da Google, conheceu o marido em circunstâncias engraçadas: durante a Copa do Mundo de 2002 e ele começou perguntando se ela era argentina.

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Raab estava respondendo uma pergunta em entrevista a uma estação de rádio: ele se ajoelharia como fazem os integrantes e simpatizantes do Black Lives Matter?

“Sobre essa coisa de ajoelhar, talvez tenha uma história mais amplificada, mas me parece tirado de ‘Game of Thrones’, soa como um símbolo de subjugação e subordinação, mais do que de libertação e emancipação”.

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“Mas entendo que outras pessoas tenham sentimentos diferentes, é uma questão de escolha pessoal”.

Tragam-nos a cabeça de Dominic Raab, exigiram as patrulhas virtuais.

Raab foi para o pelourinho por tudo: fazer graça, não se curvar e ignorar que o gesto original foi do jogador de futebol americano Colin Kaepernick; que começou se ajoelhando durante o hino nacional como uma forma de protesto contra a violência policial e se propagou nas grandes manifestações desencadeadas depois da morte de George Floyd.

O ministro saiu correndo para dizer que tem “respeito total” pelo BLM e as pessoas deveriam ter o direito de escolher se se ajoelham ou não.

Óbvio? De jeito nenhum.

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Em muitas instâncias, não se ajoelhar virou sinônimo da palavra mais usada no momento, “racista”, temporariamente substituta de “fascista” – isso quando as duas não se sobrepõem.

Os amedrontados, incluindo grandes empresas apavoradas com a ideia de sofrer um boicote, correm para se por de joelhos ou fazer contribuições para o BLM – mais de 500 milhões de dólares, contando-se outras organizações negras.

Também tornou-se obrigatório dizer que as manifestações são pacíficas, exceto por uma extrema minoria.

Todo mundo viu, nos Estados Unidos, os saques, incêndios e outras violências praticados em grande escala.

Mas falar é proibido porque implicaria em algum tipo de restrição “à causa” – ou à maneira como está sendo praticada.

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Também pega mal notar que as cidades americanas onde houve os maiores violências são governadas há décadas por políticos do Partido Democrata e não fizeram nada para melhorar o ensino e o acesso ao trabalho para as minorias, as formas mais garantidas de romper o ciclo da exclusão.

O patrulhamento pode envolver denúncias anônimas ou inventadas, um tipo de pressão repugnante.

Em outras circunstâncias, seria até divertido ver os grandes oligopólios da informação, entre outros, correndo para soltar a grana e se dobrar à turba virtual.

Nas condições atuais, é mais do que moralmente discutível, é perigoso.

O Google, um monopólio que faria os capitalistas do começo do século XX parecerem cordeirinhos, “advertiu” dois sites conservadores americanos que os anúncios estariam bloqueados – uma sentença de morte, pois é daí que vem a renda de todos os espaços digitais.

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Os sites são o The Federalist, que parece escrito por cavalheiros de peruca branca, e o ZeroHedge, mais voltado para a economia.

Sua “culpa”: comentários preconceituosos. Na sessão, obviamente, de comentários. E foi um repórter de um canal de televisão que “entregou” os supostamente faltosos. Jornalistas pelo direito de não informar, que tal?

Quem acha que a violência, virtual ou real, é necessária para chamar atenção e promover mudanças tem que assumir isso.

Da mesma forma, quem não concorda com a plataforma do BLM, – acabar com “a supremacia branca, o capitalismo, o patriarcado e a heteronormatividade” – pode muito bem manifestar o repúdio ao racismo e à violência nas manifestações encabeçadas pelo grupo.

Mas tem que assumir o potencial de quebra-quebra.

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A organização desfruta no momento de 62% de opiniões positiva entre os americanos, uma prova da rejeição em massa à brutalidade absurda da morte de George Floyd . E também da forma impressionante como o BLM dominou a narrativa.

Quem adere e ajoelha voluntariamente, pode perfeitamente sentir que está fazendo um gesto contra a injustiça de todas as formas, inclusive racial, uma das grandes pragas da humanidade.

Vários políticos democratas, encabeçados pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, assim o fizeram no começo do mês.

O resultado foi uma ótima foto.

Quem ajoelha ou pede perdão por culpas de antepassados distantes, por medo ou preventivamente, para não virar alvo, não sabe o que está despertando.

“Eu entendo o sentimento de frustração e de inquietação que move o Black Lives Matter”, disse Dominic Raab, preocupado com as repercussões.

O ministro foi criado na religião anglicana, da mãe.`Por parte de pai, é filho de refugiado, um judeu da antiga Checoslováquia que conseguiu ir para a Inglaterra depois que seu país foi entregue de bandeja à Alemanha nazista, através do Tratado de Munique de setembro de 1938.

Raab substituiu Boris Johnson durante o período em que o primeiro-ministro ficou internado com Covid-19. Já disputou o lugar dele e pode futuramente voltar a disputar.

Que político não quer o lugar de chefe de governo?

Segundo as últimas notícias desse front, O Banco da Inglaterra, mãe de todos os bancos centrais, e a Igreja Anglicana fizeram seus autos-da-fé.

Integrantes das duas instituições foram beneficiados por indenizações pagas aos donos de escravos nas colônias caribenhas quando houve a abolição, em 1833.

Mais: nos Estado Quaker, das aveias, vai mudar o nome de preparados para panqueca e xaropes da linha Aunt Jemima, com um desenho de uma mulher negra. Motivo? Enquadra-se num “estereótipo racista”.Na Inglaterra, o arroz Uncle Ben’s vai pelo mesmo caminho.

De grão em grão, os expurgos de um ridículo atroz vão crescendo e os joelhos se dobrando.

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