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Por Vilma Gryzinski
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Para ganhar, vale tudo: Netanyahu promete até voo direto para Meca

Chegando a mais uma eleição em que nada é garantido, primeiro-ministro cultiva eleitorado árabe, em outro de seus truques espertos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 22 mar 2021, 07h59 - Publicado em 22 mar 2021, 07h16

Num país onde centros de vacinação provisórios já estão sendo fechados, pelo alto grau de imunização da população à Covid-19, Benjamin Netanyahu deveria estar entrando tranquilo na quarta eleição em apenas dois anos.

Como não existe dia tranquilo para políticos israelenses, Bibi está dando o sangue para fazer mais um ato de alto malabarismo político na eleição de amanhã e garantir que entre em seu décimo-quinto ano como primeiro-ministro. 

Formidavelmente capacitado a brigar por votos, ele cultiva agora pelo menos uma fatia do eleitorado árabe israelense – para quem acha que “Israel versus palestinos” é uma narrativa simples, lembre-se que um em cada cinco cidadãos árabes o apoia.

A promessa de voos diretos para os muçulmanos que querem fazer a peregrinação a Meca, como é dever de todos os seguidores da religião de Alá, faz parte dessa campanha.

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Outro componente: cartazes eleitores com a frase “Estamos todos com Abu Yair”. Tradicionalmente, os árabes passam a ser chamados de Abu, seguido do nome do filho, quando se tornam pais do primogênito. Yair, obviamente, é filho mais velho – e cheio de problemas pela extrema militância – de Netanyahu.

“Ele surpreendeu todo mundo ao cortejar os árabes”, comentou Tamir Sheafer, professor de ciências políticas da Universidade Hebraica. 

“O modo como apresentou os árabes ao longo de sua carreira foi muitas vezes lamentável. Então, isso representou uma grande guinada tática”.

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Guinada tática praticamente é o nome do meio de Netanyahu, ex-capitão da legendária unidade de operações especiais Sayeret Matkal.

Os motivos são conhecidos: Netanyahu concorre pelo partido mais votado de Israel, que possivelmente elegerá 31 deputados, segundo as pesquisas (e os eleitores vivem dando os maiores sustos nos pesquisadores), mas precisa ter como aliados pelo menos 61 representantes na Knesset, o parlamento israelense de 120 cadeiras.

Seus aliados naturais são mais à direita ainda do que o Likud, tanto de partidos nacionalistas laicos quanto religiosos. 

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Está aí um dos problemas adicionais que Bibi enfrenta. O sucesso espetacular de Israel na vacinação do país inteiro – fato que ele obviamente martela sem parar – foi acompanhado de uma forte hostilidade aos ultraortodoxos, ou haredim, os judeus que se dedicam inteiramente à religião.

Como estudar em yeshivás e rezar em sinagogas, obedecendo os ensinamentos de rabinos tratados como gurus, é a parte dominante da vida dos ultraortodoxos, foi alto o nível de rejeição a medidas tornadas obrigatórias pela pandemia, como evitar todo tipo de aglomeração e acatar o confinamento.

Por causa dessa vida obrigatoriamente coletiva, foram altos os índices de infecção entre os ultraortodoxos – e também de rejeição entre a população que vive uma vida laica e se sentiu ameaçada pelo descumprimento às regras.

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Esta rejeição pode afetar a votação no conjunto de partidos que está ou pode estar sob a bandeira de Netanyahu. Nem que seja minimamente, em eleições tão apertadas como as israelenses, qualquer coisa pode fazer a diferença.

Inclusive, claro, os votos dos árabes israelenses, que são 20% da população de Israel e costumam votar na frente de partidos da sua comunidade, saídos originalmente da esquerda, ou simplesmente boicotar a eleição.

Se o resultado for, de novo, indeciso, Netanyahu, como líder do partido majoritário, vai continuar no comando do governo, apesar do desconforto e da precariedade dessa posição. 

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Caso a balança penda só um pouco para o outro lado, o líder oposicionista mais bem colocado é Yair Lapid, um ex-apresentador do principal programa jornalístico da televisão israelense, que está também fazendo tudo para arrebanhar uma coalizão viável.

Uma ligeira maioria dos israelenses – 51% – não quer que Netanyahu continue à frente do governo, principalmente pelos processos por corrupção aos quais responde.

“É fácil votar contra Netanyahu, ele fez por merecer”, escreveu no Jerusalem Post o historiador Gil Troy.

“Estaremos votando contra sua arrogância e demagogia, contra seu filho fora de controle e sua mulher enxerida, que vem interferindo na nomeação do alto escalão de segurança há anos”.

“E estaremos votando contra uma política de divisão, distorção e corrupção que congelou a alma de um líder outrora grande, que costumava acordar perguntando ‘O que fará Israel progredir?’, mas agora pergunta ‘O que vai me manter fora da cadeia?’”.

O que fará Netanyahu continuar no governo? Sua excepcional capacidade de luta – e alguns truques que podem parecer infantis, como prometer os voos diretos para Meca. 

Se funcionarem, terá motivos para ser chamado, mais uma vez, de “rei de Israel” pelos partidários. E de uma enorme quantidade de impropérios pelos adversários. Com vacina e tudo.

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