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O show vai começar: guia rápido do julgamento de Trump

Advogados brilhantes, táticas bombásticas e estratégias eleitorais, senadores que se odeiam e são odiados e presidente explosivo; pena que o assunto é chato

Por Vilma Gryzinski 21 jan 2020, 11h35

Não existe uma única alma ingênua entre todos os envolvidos no julgamento do impeachment de Donald Trump que começa hoje no Senado.

Excetuando-se, claro, os manifestantes, de um lado e do outro.

Os demais são um serpentário de cobras criadas e muito conscientes de que a possibilidade de condenação – e, portanto, remoção – de Trump é quase nula.

Simplesmente não existe a maioria de dois terços necessária para aprovar o que nunca foi aprovado na história americana: a remoção de um presidente por “traição, suborno e outros crimes qualificados”.

Por isso, a intenção dos democratas é prolongar o quanto for possível o julgamento solene, com times dos melhores advogados constitucionalistas e criminais do país tanto na acusação quanto na defesa.

Quanto mais a coisa durar, mais se consolida a ideia de que Trump montou uma operação paralela para insuflar autoridades ucranianas a investigar a atuação de atividades nada republicanas de Joe Biden e seu filho Hunter no país.

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Uma manobra eleitoreira suja e, segundo a acusação, ilegal. Embora o assunto seja aborrecido e envolva interesses políticos desconhecidos num país mais remoto ainda.

Nada remotamente parecido com o caso de Bill Clinton, com o interesse natural que aventuras sexuais provocam.

Ainda mais de um presidente acusado de assédio sexual por uma funcionária pública, Paula Jones, agarrada num quarto de hotel em Arkansas.

Poucos se lembram que foi isso que acabou trazendo Monica Lewinsky para a história, as confidências dela a uma amiga falastrona, o perjúrio público do presidente (“Nunca tive relações sexuais com aquela mulher”, disse, famosamente) e uma enxurrada de revelações íntimas que desaguou no vestido manchado de sêmen, submetido a teste de DNA como no caso dos estupradores comuns.

Como os pobres ucranianos podem competir com isso?

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Não podem. Em compensação, nada se compara ao ódio despertado por Trump.

É esse ódio que os democratas pretendem alimentar. Os republicanos, claro, querem acabar com a coisa toda o mais depressa possível.

Por onde vão começar e quais as figuras políticas e jurídicas que mais devem parecer está no resumo a seguir.

OS DELITOS

Os americanos chamam de “artigos de impeachment”. O mais sério contra Trump é abuso do poder conferido pelo cargo de presidente ao “solicitar a interferência de um governo estrangeiro, da Ucrânia, na eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos”.

Fez isso ao coletar ao governo da Ucrânia – o famoso telefonema a Volodymyr Zelinsky – que anunciasse publicamente investigações que “beneficiariam sua reeleição, prejudicariam as perspectivas de um adversário político e influenciariam em seu favor a eleição presidencial de 2020”.

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Para complicar, e talvez esteja aí a maior encrenca para Trump, condicionou a liberação da ajuda militar de 391 milhões de dólares para a Ucrânia, aprovada pelo Congresso.

Uma acusação adicional é a de obstruir a ação da Câmara dos Representantes ao orientar funcionários e órgãos do governo a não atender as intimações apresentadas durante a fase de investigação para um processo de impeachment.

A DEFESA

A apresentação dos argumentos dos dois lados vai se desdobrar em dois dias para cada lado, divididos em 16 horas.

Quando os democratas aprovaram o impeachment, convocaram uma equipe de quatro advogados constitucionalistas, escolhidos pelas credenciais no mundo acadêmico e pela repugnância por Trump.

O time de defesa do presidente tem estrelas igualmente qualificadas, mas escolhidas por outro critério.

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Como fez frequentemente com seu gabinete, Trump gosta de gente que apareça bem na televisão.

O mais conhecido, justamente pela presença regular em programas jornalísticos, é o veterano Alan Dershowitz.

O constitucionalista foi o mais jovem professor de Harvard, aos 28 anos. Mas fez carreira fora da academia, dando consultoria em casos espetaculosos como os de Mike Tyson e O. J. Simpson.

Posteriormente, ajudou a reforçar a equipe que conseguiu uma pena excepcionalmente branda para Jeffrey Epstein, o milionário enquadrado por abuso sexual de menores.

Preso de novo, no ano passado, ele se suicidou – ou foi suicidado – na prisão. Uma das jovens do harém de Epstein diz que Dershowitz também usava os serviços sexuais colocados pelo milionário à disposição de amigos ricos e famosos.

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Mas, aos 81 anos, Dershowitz continua a ser uma força formidável.

Trump também fez outra surpresinha: convocou Ken Starr, o procurador que começou, bem lá atrás, o processo de investigações sobre Bill Clinton.

Mas deixou de fora Rudy Giuliani, seu advogado particular que adoraria, segundo disse, tomar o depoimento de testemunhas.

Giuliani está mergulhado até o pescoço na operação paralela na Ucrânia, para levantar podres sobre os Biden, incluindo envolvimento com figuras mais do que duvidosas. Queimou o filme, mas certamente continua a dar muitos, muitos palpites.

Antes de começar o processo, os advogados de Trump já deram a linha: as acusações não apenas não se sustentam, como são anticonstitucionais.

O JUIZ

O processo americano é único. A Câmara determina se existem crimes que justifiquem o impeachment. Aprovado, o processo vai para o Senado, que se transforma em tribunal, sob a presidência do juiz-chefe da Suprema Corte.

No caso John Roberts, um caso clássico de juiz constitucionalista até a última célula, um conservador capaz de votar a favor de causas liberais, como no caso da reforma do programa de saúde conhecida como Obamacare.

Potencialmente, a decisão mais importante que poderá tomar é sobre a convocação de testemunhas.

E a convocação mais espetacular seria a de Hunter Biden, o filho do então vice-presidente que encontrou um emprego do outro mundo na maior empresa de gás natural da Ucrânia.

O que torna todo o caso mais interessante ainda é que, na tentativa de desconstruir Trump, os democratas acabem levando junto o seu candidato mais cotado, Joe Biden.

OS SENADORES

Mitch McConnell comanda a “resistência” trumpista, como líder da maioria republicana. Chuck Schumer recebe de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara, o bastão das forças oposicionistas.

O curioso é que, antes de entrar para a política, Trump tinha relações amistosas com Schumer. Ambos circulavam nos mesmos ambientes de Nova York.

Quando se candidatou, Trump encontrou uma enorme resistência em seu próprio partido. Inclusive de McConnell.

Com o surpreendente resultado eleitoral, McConnell virou trumpista desde criancinha. Já foi atacado num restaurante, onde almoçava com a mulher, Elaine Chao, secretária dos Transportes de origem chinesa.

McConnell queria um processo tão rápido, para acabar logo com a coisa toda, que encontrou resistência até entre alguns colegas republicanos.

Como Nancy Pelosi fez, do outro lado, McConnell tem conseguiu uma frente unida quase inabalável.

Exceto, claro, pelo fator surpresa.

Quem sabe o que pode aparecer mais sobre as tramoias de Trump na Ucrânia?

Vale lembrar que o caso todo começou quando um funcionário da CIA lotado na Casa Branca, Eric Ciaramella, usou um mecanismo estabelecido justamente para denúncias anônimas sobre atos discutíveis no serviço público.

É enorme a oposição a Trump no “sistema”, principalmente entre os serviços de informações e inteligência.

Aparentemente, tudo o que os democratas tinham contra Trump já foi despejado nas audiências na Câmara.

Mas quem pode garantir?

E o que seria preciso para mudar o voto de nada menos que 20 senadores republicanos? Ou fazê-los ter uma certa conversa com Trump, como aconteceu com Richard Nixon, “aconselhado” a renunciar antes de ser condenado com os votos de seu próprio partido?

O caso contra Trump, até agora, é quase ridículo em comparação com as falcatruas de Nixon. Mas o estilo trumpista não permite garantir muita coisa. Aliás, quase nada.

O POVÃO

Todo mundo passou a, saudavelmente, desconfiar das pesquisas. Mas ninguém pode viver sem elas.

Uma das mais recentes, do Gallup, traz um resultado interessante: a tendência contra a remoção de Trump está diminuindo.

Exatamente, com toda a constante barragem contra ele, 51% dos americanos não querem que seus senadores votem pela remoção de Trump. A favor, são 46%.

O curioso desse resultado é que a aprovação de Trump continua na faixa dos 44%, quase inalterada.

Portanto, mesmo desaprovando o presidente, uma faixa de eleitores não quer que ele seja tirado da presidência.

Talvez a proximidade da eleição de novembro influencie esta opinião. Já que é para tirar, que seja pelo voto.

Isso tudo só torna o show que começa hoje mais emocionante ainda.

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