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Por Vilma Gryzinski
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O mais improvável dos heróis: o republicano que massacrou Trump

Na impossível posição de votar pela absolvição do ex-presidente e depois desancá-lo sem dó, Mitch McConnell consegue ficar sem o apoio dos dois lados

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 fev 2021, 08h38 - Publicado em 15 fev 2021, 08h27

Um “idiota”, “vendido”, “vendido ao sogro chinês”, “criatura do pântano”, “cara tão desfigurada quanto a alma”, “Bitch McConnell”, “quanto temos que esperar até o fóssil morrer?”. Resumindo, um “*****”.

Isso é uma pequena amostra do que partidários de Donald Trump estão dizendo de Mitch McConnell.

O líder dos republicanos no Senado, onde o partido ficou em minoria apenas pelo voto de desempate, escolheu uma das posições mais desconfortáveis do mundo: desagradar de forma deliberada os dois lados de uma questão politicamente radioativa.

Uma pessoa que faz isso, sabendo perfeitamente bem quais serão as consequências, ganha pelo menos o direito de ser ouvido. Pelo menos num mundo onde “ouvir o outro lado” não é um crime punido imediatamente com pena de morte virtual.

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O que fez McConnell: votou pela absolvição de Trump, o que já era garantido pela quantidade de senadores republicanos que não mudaram de opinião (43 contra, sete a favor, sendo que seriam necessários 17). Imediatamente em seguida, fez um discurso estarrecedor, muito melhor do que os argumentos altamente políticos, algumas vezes distorcidos, da equipe de deputados democratas que defendeu com brilho a condenação.

O senador de 78 anos, reeleito por mais seis no fim do ano passado – com ajuda de Trump –, disse que foi contra a condenação por considerar ilegítimo todo o processo desde o começo: impeachment contra um ex-presidente é um absurdo, na sua opinião.

Em compensação, McConnell colocou no colo de Trump a responsabilidade pela invasão do Congresso depois de seu discurso inflamado num comício em Washington.

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“Não existe dúvida, absolutamente nenhuma, de que o presidente Trump é responsável, na prática e moralmente, por provocar os acontecimentos daquele dia”, disse imediatamente depois do veredicto. “As pessoas que invadiram este prédio acreditavam que estavam agindo de acordo com os desejos e as ordens de seu presidente”.

“E acreditar nisso foi uma consequência previsível da escalada de declarações falsas, teorias conspiratórias e hipérboles imprudentes que o presidente derrotado continuou a gritar no maior megafone da face da terra”.

Com o tempo que tem de estrada, McConnell sabia que ia desagradar todo mundo. “Patético”, disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, culpando-o por não aceitar o processo de impeachment nos dias derradeiros da presidência de Trump, o que invalidaria seu argumento sobre a invalidade constitucional do procedimento.

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“Um cobrador de aluguel com camisa de banqueiro”, bufou o Guardian, estabelecendo o tom de toda a imprensa mais à esquerda.

Com seu tempo de estrada, McConnell não pode ignorar que reações assim eram altamente previsíveis.

Ele sempre foi considerado um estranho no ninho trumpista, um moderado desprezado pelos mais militantes como RINO – acrônimo em inglês de “republicano só da boca para fora”.

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Nas primárias de 2016, apoiou o candidato menos provável, o libertário Rand Paul, do Kentucky como ele. Aderiu a Trump sob acusações vindas da direita e da esquerda e garantiu fielmente as vitórias do ex-presidente, especialmente nas suas três nomeações para a Suprema Corte.

Sua mulher, Elaine Chao, filha de um milionário que deixou Taiwan para fazer fortuna nos Estados Unidos no ramo do transporte marítimo, foi secretária dos Transportes de Trump, conseguindo o prodígio de não se envolver em bate-bocas no clima altamente tóxico que marcou o governo. Pediu demissão depois da invasão do Congresso.

Por causa dessa conexão, McConnell era frequentemente acusado por trumpistas de raiz de ser manipulado pela China – esse é o nível do debate.

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O que motivou McConnell? Durante o governo Trump, ele foi confrontado duas vezes em restaurantes por antitrumpistas e o pessoal do Antifa fazia manifestações agressivas em frente sua casa, um sobrado sem muros como é frequente nos Estados Unidos.

Seguiu as exigências de Trump de não reconhecer a vitória de Joe Biden até o dia da votação final, no Colégio Eleitoral, quando passou a aceitá-la. No 6 de janeiro, revoltou-se ao ver a invasão do Congresso. Mesmo assim, manobrou para não deixar o impeachment ser aceito no Senado até os últimos minutos como presidente da casa.

Seu discurso cortante do sábado, quando culpou Trump peremptoriamente pela invasão do Capitólio, merece ser estudado por todos os descrentes da política e de seus atores principais e os interessados em saber qual o limite que faz com que os cautelosos se tornem destemidos quando valores importantes demais estão em jogo.

Apelidado de “tartaruga”, entre outros epítetos impublicáveis, Mitch McConnell colocou a cabeça para fora e rasgou o verbo – fora as próprias vestes, metaforicamente.

Não vai passar para a história como um grande senador, nem muito menos como herói. Mas, por não ter se calado, consciente de que levaria pancadas de todos os lados, ganhou respeito. Mais do que se pode dizer sobre tantos outros.

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