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Por Vilma Gryzinski
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O estilo bateu, levou de Salvini e o estupro e morte de Susanna

As complexidades de duas histórias que se entrelaçam, a bronca do novo líder italiano e o sacrifício uma menina judia de 14 anos na Alemanha

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 jun 2018, 10h15 - Publicado em 14 jun 2018, 09h05

A palavra xenofobia é invocada atualmente com uma facilidade espantosa.

Até os coitados dos brasileiros de Roraima, confrontados com a chegada em massa de venezuelanos em fuga do paraíso bolivariano, descobriram de repente que são perversos xenófobos, provavelmente piores do que Donald Trump.

Tal como telefone e outras criações, sobretudo no campo científico, xenofobia é um termo inventado no século XIX com a junção de duas palavras gregas, embora não tenha nada a ver com a Grécia antiga (onde estrangeiros eram considerados bárbaros, com uma boa dose de razão, e sujeitos à escravização).

É xenofobia reagir negativamente à transformação de cidadezinhas medievais europeias em campos de refugiados?

Ver serviços públicos, como hospitais e escolas, sobrecarregados por novos e não pagantes usuários?

Acordar de manhã e ver ruas tomadas por um mar de homens curvados em preces para Alá?

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Ter medo duo aumento de crimes que pareciam confinados a incidentes isolados nos países desenvolvidos?

E, ao mesmo tempo, ter todos esses sentimentos e desejar uma solução humana para os migrantes em massa?

Duas histórias paralelas e sem nenhuma relação aparente que se desenvolveram esta semana mostram como é complicado lidar, pelos padrões da civilização ocidental, com grandes números de pessoas que querem sair de países miseráveis, quando não vivendo surtos de guerra e violência, e desfrutar das benesses das sociedades avançadas.

Uma foi o bate boca de Matteo Salvini, o líder de um dos dois partidos que foram o novo e, como sempre, precário governo italiano, com o presidente Emmanuel Macron.

Encarnação do mauricinho/melhor aluno da classe/garoto prodígio, Macron tem colocado as garrinhas de fora num campo em que só pode sair perdendo.

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Adversários como Trump (espetado por tuítes, esmagado por um aperto de mão no Canadá) e Salvini (criticado pela atitude “cínica” e irresponsável” de fechar os portos a carregamentos de humanos vindos da África) não brigam na categoria peso punho de renda de Macron.

Projetado de uma liderança regional e um partido necessariamente excludente, a Liga do Norte, agora só Liga, para o duplo comando nacional (caminhando rapidamente para o comando único), Salvini sapateou com gosto.

Exigiu desculpas e, com razão, uma abertura das fronteiras da França, se quiser dar lição de moral em outros países, especialmente numa Itália com 170 mil migrantes africanos para administrar.

À Espanha, agora sob administração de esquerda, desejou boa sorte por receber o navio com migrantes rejeitado pela Itália.

Também com razão, por menos que se aprecie o seu estilo estridente, disse que os deslocamentos em massa para a Sicília e outros portos italianos mais próximos são um comércio.

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Vindos de um cinturão de países da África negra, os migrantes convergem para a Líbia, pagando caro a viagem. São transportados em botes até os navios de ONGs variadas que os levam para a travessia do Mediterrâneo.

Pedem asilo político na Itália e, se rejeitados, têm toda a rede de advogados públicos para infinitos apelos.

Os que se perdem no trajeto garantido pelas ONGs podem acabar vítimas de naufrágios, aumentando a solidariedade e o desejo de ajudar dos europeus e americanos que se condoem com tanto sofrimento.

E o papa Francisco está sempre por perto para dizer que todos os países têm a obrigação de abrir fronteiras aos estrangeiros da África e do Oriente, mesmo quando existe o risco de aumentar a quantidade de atentados terroristas e outras ameaças à segurança.

Como filho de imigrantes italianos, o argentino mantém as mesmas concepções criadas pelas correntes humanas que rumaram para o Novo Mundo, inclusive o Brasil, nos séculos XIX e XX (todos com vistos, documentos de entrada, carimbos, exames médicos e outras exigências, lembre-se).

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Em condições histórias completamente diferentes, os migrantes atuais não têm nada dos lavradores italianos ou das governantas alemãs que acabavam na selva brasileira, trabalhando em condições duras, geralmente com sucesso notável.

O progresso econômico e social da Europa e dos Estados Unidos acabou criando uma contradição: migrantes clandestinos que chegam já esperando desfrutar das vantagens do estado de bem-estar social.

Existem também fenômenos culturais novos, inclusive o ressurgimento da identidade muçulmana, levando os novos migrantes a rejeitar qualquer tipo de integração aos novos países, confinando-se a espaços onde vigoram regras religiosas.

E existem, claro, as pragas humanas, homens brutos, violentos e inconformados com um estilo de vida em que mulheres dividem todos os espaços e desfrutam de liberdade de movimentos.

Entra aí a história de Susanna Feldman, a menina de apenas 14 anos, estuprada por dois homens e estrangulada.

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Filha de emigrantes judeus da Moldovia, Susanna desapareceu depois de sair com um grupo de amigas em Wiesbaden. Uma das meninas acabou contando para os pais que Susanna havia sido estuprada e assassinada, mas a polícia, alertada, disse que não havia o que fazer: sem corpo, sem crime.

É inacreditável , mas a investigação só começou quando outro menino, um refugiado afegão de 13 anos, contou ter ouvido a seguinte história: Ali Bashar, iraquiano de 21 anos, havia se exibido, contando ter estuprado e matado uma garota judia.

Detalhe: mesmo acusado de outro estupro, de uma menina refugiada de 11 anos, e de assalto, ele não só estava livre como pegou toda a família, passou no consulado iraquiano, conseguiu passaportes novos (facílimo, como se sabe) e voltou para o Curdistão, a região praticamente independente do Iraque.

A pedido das autoridades alemãs, Ali Bashar foi preso e deportado pelos curdos, sem cerimônias. Por qualquer padrão que se use, saiu ganhando.

A questão dos refugiados e migrantes clandestinos vem desestabilizando a Europa e provocando rachas na União Europeia – com suas palavras precipitadas e agressivas, Macron só piorou uma situação já ruim.

Até na Alemanha, onde Angela Merkel parece uma rocha inabalável até aos 1,2 milhão de estrangeiros aos quais abriu as portas, as tensões estão bombando.

O partido Alternativa para a Alemanha, da direita dura, atingiu a posição de terceiro mais votado única e exclusivamente devido à questão.

Agora, Merkel enfrenta uma dissidência interna, do ministro do Interior, Horst Seehofer. Ele está traçando uma estratégia conjunta com o jovem primeiro-ministro da Áustria, Sebastian Kurz, e com o próprio Salvini.

A peça principal seria rejeitar os refugiados que são registrados em outros países europeus – ou seja, todos, uma vez que não existe acesso direto à Alemanha.

Parece que Angela Merkel não gostou. Até agora, ela também não falou nada sobre o terrível martírio de Susanna Feldman, estuprada várias vezes por um falso refugiado, cujo pedido de asilo já havia sido rejeitado, e por um outro elemento do mal, um turco de 35 anos.

Colocar a pecha de criminosos em todos os migrantes é uma injustiça terrível. Mas também é repugnante tentar ignorar o medo e a revolta dos cidadãos confrontados com atos de barbárie e ainda por cima chamados de xenófobos.

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