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O enigma alemão e a tragédia na Itália: qual a explicação?

Saber por que morrem tão poucos na Alemanha e tantos italianos abre várias suposições, desvendá-las ajudará a entender melhor o vírus e seus efeitos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 mar 2020, 07h48 - Publicado em 20 mar 2020, 07h17

A coluna de caminhões do Exército levando os mortos sem sepultura de Bergamo, uma das cidades devastadas pelo coronavírus, foi, com razão, chamada de uma das imagens mais tristes da história da Itália.

Os caixões enfileirados no chão, outra imagem chocante, foram armazenados nos caminhões e levados para cremação em outras regiões.

Como já estava lamentavelmente previsto, a Itália se tornou ontem o país com mais mortos pelo corona em todo o mundo: 3 405. Na China, são 3 249.

Enquanto morrem mais de 400, quase 500 pessoas por dia na Itália, sem que o confinamento comece a mostrar resultados, na Alemanha, no total, ontem foram 44. 

O número de infectados é um terço dos na Itália. A essa altura, já sabemos que é uma comparação provisória ou até enganosa, pois depende do número de exames feitos e do número de casos reais.

Este, em qualquer lugar, só será conhecido depois das pesquisas por amostragem que mostrarem qual a proporção da população já desenvolveu anticorpos ao novo corona, mesmo sem ter tido sintomas ou apenas manifestações mais leves.

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Vai demorar. Quando houver esses dados, os índices de letalidade cairão, pois mostrarão um contágio muito maior do que os contabilizados – mas o mortos continuarão mortos.

Mesmo no calor da batalha, no entanto, os índices de letalidade já indicam diferenças impressionantes. Principalmente quando compararam países com padrão de vida parecido e sistemas de saúde compatíveis com seu desenvolvimento.

No momento, a coisa está assim. Na China, onde tudo começou e agora está refluindo, ficou em 4%. Na Itália, mais do que dobra, para 8,3%. Grã-Bretanha, ainda atrás do ritmo no continente europeu, tem 3,9% e França, 2,9%.

Por que a disparidade?

“Não temos uma resposta real e é provavelmente uma combinação de fatores”, respondeu, sem firulas, Richard Pebody, da Organização Mundial de Saúde.

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A segunda mais alta expectativa de vida do mundo – ou seja, uma população mais idosa – é frequentemente citada, mas deixa várias incógnitas.

“A média de idade dos pacientes hospitalizados é mais alta, 67 anos, enquanto que na China era 46”, disse Walter Ricciardi, conselheiro médico do governo italiano.

Ricciardi também acha que a causa dos óbitos registradas nos hospitais tem um certo peso: todos que entram com corona e não resistem, são incluídos na cota do vírus, sem levar em conta outras doenças graves pré-existentes.

Com todos esses fatores, a disparidade com a Alemanha continua enorme.

O que mais influencia? Especialistas concordam que a Alemanha tem uma grande vantagem em matéria de número de leitos em UTIs. São 28 mil, fora os que estão sendo acrescentados.

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Dá 29,2 por 100 mil habitantes. A Itália tem 12,5.

A expectativa de vida também é alta na Alemanha, 82 anos, praticamente igual à da Itália. 

A coisa vai piorar? Com certeza. Mas a Alemanha já está em quinto lugar em número contagiados (China, Itália, Irã e Espanha) e continua muito distante em letalidade.

A resposta que paira em muitas mentes recorre ao estereótipo da eficiência alemã em relação ao estilo mais informal da Itália – ninguém que esteja acompanhando a batalha titânica dos médicos e outros profissionais de saúde ousaria falar nisso agora.

Existem, porém, fatores culturais que estão entrando na lista de hipóteses. Populações onde o distanciamento social já é uma prática teriam vantagem sobre as que se beijam e abraçam.

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Seria uma das explicações buscadas para o caso mais estranho ainda do Japão. Devido à intensidade dos contatos com a China, era projetada uma onda devastadora num país já tão exposto a desastres naturais.

O tsunami simplesmente não aconteceu. O número de casos registrados no Japão não chega a mil.

As aulas foram suspensas, mas o país não precisar entrar na quarentena obrigatória. A detecção precoce de focos localizados parece ser uma das vantagens. 

Outra: é um país sem contatos físicos, onde as pessoas se cumprimentam com diferentes graus de curvatura da cabeça e do corpo, sem dar as mãos.

Já se sabe muita coisa sobre o novo vírus: seu genoma, como ataca preferencialmente os homens mais velhos e, por consequência, com outros problemas de saúde, principalmente pressão alta. O caminho do estrago que faz nos pulmões, avançando para a falência renal quando entra já num caminho sem volta.

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Ainda falta saber muito. Principalmente, a pergunta que todo mundo faz: quando vai acabar?

Para os especialistas, existe outra pergunta igualmente importante: ele vai voltar?

Por enquanto, uma das hipóteses mais temidas, a de que pessoas infectadas uma vez possam ter outro contágio, parece quase eliminada – foram apenas quatro casos detectados na China.

Podem ter sido flagrados numa espécie de janela imunológica.

“O sistema imunológico demora cerca de um mês para aprender a desenvolver uma resposta imunológica ao vírus”, disse ao El País o imunologista Eduardo Fernández Cruz.

O novo vírus é “inteligente”, como em geral os das gripes, com grande capacidade de adaptação, ou mais limitado?

“Os vírus podem pensar. Fazem coisas que não esperamos. Adaptam-se ao meio-ambiente. Transformam-se para sobreviver”, resumiu no passado o pesquisador Michael Lai, considerado o “pai do coronavírus”, por estudar os antecessores do atual.

Os vírus que ganham a corrida evolutiva são os mais contagiosos, não os mais letais. Hospedeiros vivos garantem mais a propagação dos elementos dos que os mortos.

O mundo inteiro está trocando o pneu com o carro do coronavírus rodando em velocidade total. 

Desvendar seu comportamento, entender as disparidades regionais e por que tratamentos parecidos em países similares estão dando resultados diferentes é vital.

“Nosso conceito de normalidade está sendo testado como nunca antes”, disse  Angela Merkel, com a habitual falta de drama, mas alguns tons a mais de gravidade.

“Desde a II Guerra Mundial, nunca houve um desafio a nossa nação que exigisse tanta unidade de propósito e ação”.

A primeira-ministra não é mulher de usar palavras fortes, muito menos evocar uma guerra que a Alemanha provocou e pela qual pagou um preço brutal, para fazer efeito ou jogar para a plateia.

Todos os chefes de governo estão falando a mesma coisa. Merkel, que é química física por formação, demorou muito mais do que quase todos os outros para se pronunciar, mas o tom didático e grave passou o recado.

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