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Por Vilma Gryzinski
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O artefato de Kim é bem pequenininho e ficou mais perigoso

Com fabricação de bomba nuclear menor, para ser transportada por mísseis, Coreia do Norte dá o passo que será respondido com “fúria e fogo”

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 ago 2017, 10h42 - Publicado em 9 ago 2017, 08h12

Tamanho é importante quando se trata de bombas nucleares dirigidas para alvos a grande distância. Transportadas por mísseis de longo alcance, elas precisam ser menores e mais leves.

Ao miniaturizar suas bombas experimentais, a Coreia do Norte passou a reunir as duas condições para um ataque estratégico: os foguetes que estão sendo testados com grande estardalhaço e as ogivas de tamanho adequado. Estas foram obtidas em segredo, exposto por serviços de inteligência dos Estados Unidos e do Japão.

É por isso que o presidente Donald Trump subiu o tom do discurso para um nível quase crítico e disse que os Estados Unidos reagirão com “fúria e fogo”. O que parecia ser a montagem de uma operação bélica no prazo de mais ou menos um ano, caso a diplomacia continue a falhar como vem falhando, pode ter que apressar o calendário.

À medida em que as bombas nucleares foram ficando mais destrutivas, a maioria delas também diminuiu de tamanho para ser instalada em mísseis. Os leviatãs apocalípticos como a Tsar Bomba, a maior da história do mundo pós-fissão atômica, eram feitos mais para testes – e também demonstração de força.

O monstro soviético, chamado pelos russos de Ivan,  tinha uma carga de 50 megatons e foi testado em 1961, numa época em que o pioneiro arsenal americano ainda estava bem à frente dos russos.

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MENININHO E GORDO

A “bomba padrão” dos Estados Unidos hoje, instalada em mísseis intercontinentais, é a W80. Leva uma ogiva termonuclear de 80 centímetros de comprimento e 30 de diâmetro. Parece um aspirador de pó convencional, apesar do peso de 130 quilos.

As duas únicas bombas usadas até hoje, em Hiroshima e Nagasaki, para obter a rendição do Japão, eram quase quatro vezes maiores. A diferença é que foram transportadas e lançadas por aviões.

Tamanho e peso, por tanto, não importavam. Os Estados Unidos também já tinham praticamente o domínio total do espaço aéreo. O bombardeiro B-29, especialmente adaptado, pilotado por Paul Tibetts, que o batizou com o nome da mãe, Enola Gay, decolou de uma pista nas Ilhas Marianas e voou durante seis horas até chegar a Hiroshima em 6 de agosto de 1945. Dois aviões do mesmo tipo o acompanhavam.

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Num engradado de madeira ia Little Boy, ou Menininho. O apelido fazia referência  a Franklin Roosevelt, o presidente que havia morrido três meses antes (e, quando criança, usou vestido e cabelo comprido até os cinco anos).  A bomba tinha o formato de uma baleia. Media três metros , com 70 centímetros de diâmetro.

A massa crítica era urânio 235, com a reação nuclear  em cadeia induzida quando a bomba em si era disparada através de um mecanismo similar ao de um cano de canhão. Ao todo pesava mais de quatro toneladas.

Devido à recusa do regime imperialista japonês em aceitar a inelutável derrota e proteger seu próprio povo, em 9 de agosto foi lançada a segunda bomba nuclear, sobre Nagasaki.

Fat Man, o Gordo (referência a Winston Churchill), tinha forma de um barril compactado, com 3,5 metros de comprimento e 1,5 de diâmetro. O núcleo era de plutônio, acionado por dois anéis com 64 cargas explosivas convencionais. A onda de choque provocava a reação em cadeia.

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O modelo de guerra nuclear mudou de padrão quando a União Soviética, através de espionagem e pesquisa, entrou no jogo. Com baterias antiaéreas, caças operacionais e interceptadores, sem contar as enormes distâncias entre os dois países, a corrida estratégica se voltou para os mísseis capazes de voar a longas distâncias. As ogivas foram aumentando em capacidade de destruição e diminuindo de tamanho.

É nesse ponto, ainda que com tecnologia muito menos consolidada, chegou a Coreia do Norte.

LINHA VERMELHA

A pergunta mais constante sobre o país é: por que os Estados Unidos não dão logo uma lição daquelas em Kim Jong-Un, ironicamente um menininho gordo, e acabam com um programa nuclear cada vez mais perigoso, mesmo que usado apenas como instrumento de ameaça.

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A essa altura, todo mundo tem uma ideia razoável dos riscos envolvidos. Mesmo usando apenas armamentos convencionais, a Coreia do Norte pode causar massacres hediondos,  especialmente em Seul, a altamente vulnerável capital sul-coreana.

Mesmo o mais eficiente conjunto de ataques-relâmpago para desativar todo o sistema bélico norte-coreano, missão que os americanos têm condições de fazer em questão de horas, deixaria janelas de oportunidade para uma reação mortífera.

Embora ninguém possa duvidar que os modelos de desativação do inimigo estejam sendo aperfeiçoados em ritmo bem acelerado. A hipótese da decapitação, com uma eliminação a jato do próprio Kim Jong-Un, não é descartada, mas tem desvantagens.

Até acreditar que querido, amado, idolatrado – e acima de tudo temido – líder tenha realmente ido ao encontro de papai e de vovô, a cúpula militar tremeria na base de pavor.

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Existe também o perigo de uma escalada envolvendo a China, patrona do gordinho alucinado e ainda não convencida a abrir mão de um de seus instrumentos de intimidação no grande jogo do controle regional.

Pelos cálculos mais recentes, a Coreia do Norte já tem cerca de 60 artefatos nucleares.

“Eles irão deparar com fogo e fúria e, francamente, poder, de um tipo que o mundo jamais viu”, foram as palavras inflamadas de Trump ao reagir à notícia da miniaturização das bombas.

Ao dizer isso, ele de certa forma riscou uma linha no chão: se não fizer nada, fica desmoralizado. Exatamente como aconteceu com Barack Obama quando não cumpriu a ameaça de retaliar a Síria se passasse a “linha vermelha” e usasse armas químicas.

O avanço e o exibicionismo nuclear de Kim Jong-Un têm influenciado a opinião pública americana, no geral contrária a intervenções bélicas. Há dois anos, 55% dos americanos achavam que a Coreia do Norte era uma grande ameaça. Hoje, são 75%, segundo uma nova pesquisa.

Se o Norte invadisse o Sul, 62% apoiariam o uso de militares americanos. E apenas 21% apoiariam um acordo pelo qual a Coreia do Norte interrompesse seu programa nuclear, embora mantendo o arsenal atômico. Esta seria a única saída diplomática aparentemente realizável no momento.

A temperatura do forno em que a batata de Kim Jong-Un está assando sobe sem parar.

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