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Novo governo em Israel: pergunta que conta é quanto tempo vai durar

Será preciso um milagre para que um governo com oito partidos divergentes tenha estabilidade, mas Naftali Bennett tem perfil de milagreiro

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 jun 2021, 09h42 - Publicado em 14 jun 2021, 08h19

Ocupar o lugar que foi durante os últimos doze anos de Benjamin Netanyahu, um gigante político em suas qualidades e defeitos, não é para qualquer um.

Naftali Bennett, definitivamente, não é qualquer um. Como ex-comandante de operações especiais e criador de duas empresas de tecnologia que vendeu por mais de cem milhões de dólares, o novo primeiro-ministro tem couro duro, talvez impermeável às vaias e gritos que ouviu ao estrear ontem no Knesset, o parlamento israelense.

Chamado de mentiroso e criminoso, entre outros epítetos, por deputados do Likud, o partido de Netanyahu, e seus aliados ultraortodoxos, ele teve a elegância de agradecer a Bibi e talvez o senso de ironia de incluir na gentileza Sara Netanyahu – a quem se atribui a ruptura entre os dois líderes.

“Vocês dois sacrificaram muito pelo Estado de Israel”, disse, antes de ter de levantar a voz para ser ouvido entre o barulho dos adversários.

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Por mais agressivos que sejam, Bibi e sua turma têm um bom argumento: Bennett realmente é um direitista puro e duro que teve jogo de cintura – ou falta de caráter, segundo a ótica – suficiente para entrar numa coalizão com partidos de centro, esquerda, extrema esquerda e, mais inacreditavelmente ainda, um da ala islamista que representa uma parcela da população árabe-israelense.

No Brasil, seria como se não apenas Lula e Bolsonaro estivessem no mesmo governo, como também João Doria e o PSOL.

Escreveu Ben Caspir no Al Monitor: “Capitalistas vão se sentar ao lado de socialistas, conservadores com liberais, laicos com religiosos, muçulmanos com judeus. No papel, as chances de sobrevivência de uma mistura dessas no campo minado da política israelense são virtualmente nulas”.

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Para permitir que essa frente totalmente heterodoxa reunisse, com muito esforço, a estreitíssima maioria de 61 deputados, o líder do principal partido oposicionista agora no governo, Yair Lapid, atraiu Bennett com a proposta de ser primeiro-ministro logo de início, num sistema rotativo. 

Segundo o acordo, Lapid se torna o ministro das Relações Exteriores e, dentro de dois anos, assume o comando do governo. Nem os muito otimistas acreditam que a coalizão dure tanto. Os próprios israelenses, mesmo cansados das eleições que não dão maioria a ninguém, desconfiam: apenas 30% acham que o governo tem sobrevivência a médio prazo; 42% não esperam que dure muito.

Sobre Bennett, 61% acreditam que entrou na insólita coalizão por ambição pessoal.

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Ambição pode ser uma virtude ou um defeito, quando não as duas coisas juntas e talvez existam poucos líderes políticos no mundo que encarnem melhor essa ambígua dicotomia do que Benjamin Netanyahu, o “rei de Israel”, como bradam seus admiradores mais fervorosos, com dois processos por corrupção nas costas e um legado em que o país ficou mais forte, mas também mais dividido, como é comum com figuras muito carismáticas.

Num país normal, só a forma como Netanyahu conseguiu implantar um esquema de vacinação, entre outras medidas, que venceu pioneiramente o coronavírus, já deveria valer sua permanência no poder.

Outro legado que, por causa da polarização política, fica num distante segundo plano, são as reformas liberalizantes que transformaram Israel numa potência em matéria de economia high tech. Em doze anos, o PIB per capita cresceu nada menos do que 60%, chegando a 43 mil dólares, isso num país com recursos naturais limitadíssimos.

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Figuras políticas muito fortes costumam não deixar que outros líderes cresçam à sua sombra. Foi isso que aconteceu com Bennett, um pupilo do ex-primeiro-ministro grande demais para esperar na fila uma vez que talvez nunca chegaria.

Primeiro judeu praticante, do tipo que se recolhe durante o sabá e não tira o quipá da cabeça – no seu caso, com fita adesiva para não escorregar na calvície precoce – a chegar à chefia de governo de Israel, Bennett também é o primeiro saído de um partido pequeno, com apenas seis deputados. 

Com uma desvantagem tão patente, sua vez chegou e é agora. 

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Uma única divergência séria com os aliados desmancha o edifício que ele e Lapid construíram. É como governar sobre um vulcão em erupção e Bennett vai ter que mostrar que sabe fazer não só política, como milagres, da mesma forma que se sobressaiu na guerra e ficou milionário com pouco mais de 30 anos.

“Logo estaremos de volta”, trovejo Netanyahu em seu primeiro discurso como líder da oposição. “Com a ajuda de Deus, será muito mais cedo do que vocês imaginam”.

Tendo conseguido o impossível – uma aliança estrambólica para passar a perna no inderrubável Netanyahu -,  Bennett agora tem que continuar todos os dias vencer as expectativas. Vai ser uma corrida e tanto.

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