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Por Vilma Gryzinski
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Muitos procuram um novo Anuar Sadat; faltam candidatos

Num período de comparativa calmaria, os conflitos no Oriente Médio continuam a ferver e não aparece ninguém similar ao presidente egípcio assassinado

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h40 - Publicado em 22 nov 2017, 08h22

Como Mikhail Gorbachev, Anuar Sadat foi popular no exterior e impopular em seu próprio país.  As ruas do Egito não ficaram cheias para seu enterro, depois do chocante assassinato durante um desfile militar. Seu Nobel da Paz foi considerado um acinte pela maioria do mundo árabe.

Sadat está sendo relembrado por causa de uma data cheia: os quarenta anos do gesto que o definiu e, ao mesmo tempo, o condenou à morte.

Com uma  ousadia quase quixotesca, o presidente egípcio desembarcou em Jerusalém no histórico 19 de novembro de 1977. Aceitava assim, espetacularmente, um convite igualmente ambicioso do primeiro-ministro de Israel à época, Menachem Begin.

Dois anos depois, ambos continuaram a se detestar, segundo testemunhou o homem que os convenceu a continuar a negociar, Jimmy Carter, mas assinaram um acordo de paz, o de Camp David.

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Sadat conseguiu de volta a Península do Sinai, a massa de terra – mais areia e pedra – em forma da letra V que faz parte do Egito desde a Primeira Dinastia, há mais de cinco mil anos.

Talvez tenha sido esta a diferença. Como egípcio, Sadat considerava-se herdeiro de uma história longa demais e de um território irrenunciável, a ser recuperado pela paz, já que perdido pela guerra.

Para os israelenses judeus, o Sinai não era parte da Terra Prometida. Pela tradição do Velho Testamento, foi lá que Moisés recebeu a tábua com os Dez Mandamentos. Mas foi lá também que o povo libertado da escravidão e seu guia penaram durante uma travessia de quarenta anos – um dos muitos enigmas bíblicos.

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Nunca foi um dos lugares santos por padrões religiosos. Por padrões políticos e diplomáticos, virou uma encrenca depois de conquistado na espetacular guinada da Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Continua a ser uma encrenca, hoje tomado por militantes fundamentalistas que regularmente matam militares egípcios e, quando podem, turistas estrangeiros que ainda se aventuram em resorts semiabandonados no Mar Vermelho. Faz fronteira com Gaza, o que não melhora em nada a situação.

As mesmas forças políticas da época de Sadat, o fundamentalismo e o nacionalismo, continuam a rasgar o Egito. No momento, a segunda voltou ao poder, depois da breve e catastrófica ascensão da Irmandade Muçulmana, produto estragado da Primavera Árabe, um período que parece esquecido, embora tenha explodido há menos de sete anos.

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O presidente atual, Abdel Fatah Al-Sissi, é militar, da mesma tradição nacionalista iniciada por Gamal Abdel Nasser e também teve seus gestos de ousadia, antes de ser puxado pelos problemas aparentemente insolúveis do Egito.

Um rápido exemplo: uma cantora chamada Shyma foi detida por causa de um vídeo em que aparece fazendo sugestões bastantes óbvias com uma banana. O vídeo é de rir, de tão tosco, e a reação é de chorar.

Como Sadat, Sissi é mais religioso do que a média no ambiente militar nacionalista, mas provavelmente não mandaria enquadrar a cantora do vídeo da banana. Mas tem que contemporizar.

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E equilibrar muitas laranjas no ar: uma reaproximação com Israel obrigatoriamente compensada com um descongelamento com palestinos das duas tendências, Hamas e Autoridade Palestina, teoricamente agora  reconciliados.

Aliança nervosa com a Arábia Saudita – ainda mais agora, com a petromonarquia em ebulição. Realinhamentos decorrentes da estabilização fornecida pela Rússia ao regime sírio. A perspectiva de que o Líbano volte a pegar fogo. E nenhuma tranquilidade em Gaza. É o Oriente Médio em fase de comparativa calmaria.

Sadat e Begin, tão diferentes e, em alguns aspectos tão iguais – ambos pegaram em armas e, no caso do israelense, em bombas, contra os ingleses -, estabeleceram os princípios da troca de território por paz. Esta continua a ser a base de um acordo entre Israel e palestinos. E muito distante da realidade atual.

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O gesto dramático do presidente egípcio ao surgir no Parlamento de Israel e trocar amabilidades sorridentes com figuras simbólicas como Golda Meir, que respondeu com um discurso emocionante (“Eu o saúdo pelo privilégio de ser o primeiro”, elogiou ela), foi transformador.

Para o menino pobre do Delta do Nilo, filho de mãe sudanesa e, por isso, tratado com desprezo como “o poodle preto de Nasser”, dar o gigantesco passo para recuperar a terra ancestral dos primeiros faraós também teve um peso.

E um preço. Em 6 de outubro de 1981, o tenente Khalid Islamboul desceu de um caminhão do Exército que participava de um desfile comemorativo e começou a jogar a primeira de três granadas. Atrás dele vieram três cúmplices, disparando as Kalashnikov com munição real, ao contrário dos outros participantes da parada.

Eram militantes da Jihad Islâmica do Egito infiltrados no Exército, munidos de uma fatwa que os autorizava a matar Sadat.

“É com tristeza que digo que ainda não encontrei o Sadat palestino, que declare seu desejo de acabar com o conflito e reconheça o Estado de Israel”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. É claro que a oposição respondeu que falta também outro Menachem Begin na direita israelense.

Na falta de líderes transformadores, continua tudo na mesma, com crises e conflitos vazando pelas bordas. E nada parecido com os dias esperançosos de 1977.

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