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Mais uma notícia ruim vinda do Irã: um presidente que foi torturador

Ex-prisioneira iraniana conta como o principal candidato na eleição de hoje estava presente quando ela foi torturada nos anos oitenta

Por Vilma Gryzinski 18 jun 2021, 08h45

Muitos iranianos – talvez mais de 50% – nem irão votar, frustrados com a falta de alternativas. Mas os que forem, muito provavelmente escolherão como novo presidente Ebrahim Raisi, um dos principais representantes da mais dura das linhas, defensor ardoroso do regime teocrático.

Raisi é tão extremista que chegou a ser cotado como sucessor de Ali Khamenei, o líder supremo, designação ridícula, mas inteiramente verdadeira para descrever o poder final do chefe de todos os chefes na hierarquia religiosa e política. Ainda é possível que ele venha a ocupar o posto mais importante de todos, quando Khamenei, de 82 anos, morrer.

Raisi fez carreira no judiciário, que hoje chefia. “Carreira no judiciário” significa que começou como promotor quando a revolução dos aiatolás derrubou a monarquia e participou ativamente da repressão às organizações esquerdistas que apoiaram o levante, imaginando que teriam uma chance de chegar ao poder.

Foi um confronto brutal, com atentados seguidos, principalmente do Mujahidin do Povo, grupo ultra-esquerdista. Num desses atentados, Ali Khamenei quase perdeu um braço.

Farideh Goudarzi era militante do Mujahidin e tinha 21 anos quando foi presa juntamente com o marido, em 1983. Estava grávida de oito meses. Ela contou ao Daily Mail que foi torturada antes e depois do parto, feito na prisão atrás de um tribunal de justiça da cidade de Hamedan

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Na primeira sessão de tortura, numa cela cheia de fios elétricos, ela foi colocada numa cama e esbofeteada. Os torturadores usaram os fios para chicoteá-la nas palmas das mãos.

Havia entre sete e oito pessoas na cela. Supervisionando tudo, ela viu Ebrahim Raisi, que era o promotor do tribunal de Hamedan.

“Quando meu filho tinha 38 dias, certa noite um grupo de guardas e interrogadores entrou na minha cela, procurando por documentos”, disse ela.

“Pegaram meu filho e o jogaram no chão”.

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O marido de Farideh foi condenado à morte por Raisi e executado segundo o método desenvolvido na época, para dar conta do movimento. Colocados em empilhadeiras, os prisioneiros eram enforcados em grupos de seis em guindastes.

Ninguém sabe exatamente quantas pessoas foram mortas na grande onda de repressão, que durou alguns anos. Há cálculos que falam em 30 mil.

Mahmoud Royaee disse ao Mail que foi um desses condenados, mas conseguiu escapar porque a família pagou por sua vida. Enquanto esteve preso, viu um dos companheiros ser condenado por Raisi exatamente no momento em que, durante a sessão no tribunal, estava tendo um ataque epilético.

“Estava meio paralítico e tinha perdido parte da memória. Se Raisi não estivesse no comitê da morte, ele não teria sido condenado”, acredita Royaee.

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Raisi deve ser eleito um momento crucial para o Irã, que aguarda o governo de Joe Biden cumprir a promessa de reativar o acordo nuclear pelo qual o país se compromete a não fabricar a bomba atômica.

As garantias são duvidosas, motivo pelo qual Israel, a parte mais afetada, foi contra o acordo e Donald Trump o repeliu.

Para apressar o atual governo americano, o regime iraniano disse que já tem seis quilos de urânio enriquecido a 60%. Ou seja, está bem mais perto de poder fazer uma bomba atômica, que requer de nove a doze quilos de urânio enriquecido – aquele em que o isótopo U235 é artificialmente aumentado para propiciar a fissão atômica – a 90%.

O reatamento do acordo nuclear pelos Estados Unidos trará um alívio nas sanções econômicas que mesmo os países que não haviam rompido com o entendimento tinham que cumprir, sob risco de punições, inclusive multas altíssimas, na justiça americana.

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Apesar das circunstâncias econômicas periclitantes, o regime iraniano está fortalecido pela vitória que conseguiu na Síria, ao salvar o regime de Bashar Assad. Também continua a ter controle sobre o Líbano, via Hezbollah, e reativou a aliança com o Hamas, em Gaza.

O confronto com Israel, que pela doutrina dos aiatolás tem que ser varrido do mapa, é de longo prazo. Tem altos e baixos. Recentemente, o ex-chefe do Mossad, Yossi Cohen, confirmou em detalhes como o serviço secreto israelense, num de seus golpes mais espetaculares, conseguiu capturar em 2018 todos os documentos do programa nuclear iraniano guardados em cofres num depósito  aparentemente  comum.

Vinte agentes recrutados pelo Mossad – nenhum deles israelense – tiveram sete horas para arrombar 32 cofres, escanear o material para ser enviado digitalmente e depois extraí-lo fisicamente do país num único caminhão, carregado com 50 mil documentos.

“Foi importante poder dizer à liderança iraniana: ‘Caros amigos, 1) vocês foram infiltrados; 2) nós estamos de olho em vocês; 3) acabou a era das mentiras”, disse Cohen.

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Segundo ele, nenhum dos agentes foi identificado, embora alguns tenham sido retirados do país.

Completando as declarações de Cohen, sem precedentes numa organização que nunca confirma seus triunfos – nem suas derrotas -, o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, proibido pelos aiatolás de se candidatar de novo, afirmou que a inteligência israelense conseguiu recrutar o chefe da contraespionagem iraniana.

“Como eles conseguiram tirar todos os documentos do país?”, provocou Ahmadinejad, denunciando uma “quadrilha corrupta” nos serviços de informações.

Foi por declarações assim que Ahmadinejad acabou vetado como candidato a presidente. Outros candidatos, comparativamente mais moderados, também não passaram pelo crivo do Conselho de Guardiães, que tem a palavra final. O veto tirou qualquer resquício de credibilidade da eleição presidencial.

Ebrahim Raisi deve ter mais de 60% dos votos. Por sua biografia, vai deixar o tosco Ahmadinejad no chinelo.

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