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Lição de Angela Merkel: todos erram, mas só líderes pedem desculpas

Não existe governante que não tenha feito alguma besteira no combate à Covid-19 e a primeira-ministra alemã demonstrou como enfrentar isso

Por Vilma Gryzinski 25 mar 2021, 07h19

Fez bobagem? Peça desculpas. 

Angela Merkel assumiu o seu erro  ao decretar uma espécie de fase roxa por cinco dias em toda a Alemanha sem deixar o mínimo espaço para algum tipo de argumentação na linha “aos que se sentiram enganados…”.

“Peço desculpas a todos os cidadãos”, disse a primeira-ministra famosa por ser uma montanha de estabilidade e confiabilidade.

“Para falar francamente, a ideia da paralisação da Páscoa foi concebida com a melhor das intenções, pois precisamos absolutamente diminuir a velocidade e reverter a terceira onda. Mas foi uma ideia errada”.

“Foi um erro exclusivamente por minha culpa. No fim das contas, eu tenho a responsabilidade final como chanceler”.

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Na verdade, a fase roxa da Semana Santa, inclusive com fechamento de supermercados, foi decidida numa reunião com todos os governadores dos 16 estados alemães.

Mas é nessas horas que uma pessoa dotada da verdadeira capacidade de liderança assume a responsabilidade. Não para dar uma de bonzinho ou ganhar no campo da superioridade moral – embora isso também aconteça -, mas para aumentar seu crédito de confiança.

Alguns espíritos céticos acrescentariam que Merkel tem também a vantagem de ter anunciado com grande antecipação que vai deixar o cargo depois da eleição de 26 setembro próximo, sem a menor possibilidade de mudar de ideia.

Encerrar por iniciativa própria a carreira de quinze anos como chefe de governo deveria ser a culminação de uma trajetória reconhecida como excepcional, dentro e fora da Alemanha, já tendo sido superada a fase mais aguda da abertura das fronteiras a refugiados de todos os tipos em 2015.

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Mas o vírus infernal apareceu no caminho. Nem um único governante de países democráticos – onde esse tipo de coisa não pode ser abafado – pode dizer que não errou.

Até os que acertaram muito mais do que erraram, como Benjamin Netanyahu, que vacinou toda a população de Israel, saiu da eleição de terça-feira praticamente do mesmo tamanho que entrou – empacado, na falta de uma maioria clara para formar um governo estável -, sem se beneficiar das iniciativas pioneiras em matéria de imunização.

Com uma atuação positiva no começo da pandemia, em comparação com outros países europeus grandes que afundavam em mortos, a Alemanha agora está num lugar muito mais opaco.

Uma parte da culpa pode ser debitada à mulher que Angela Merkel escolheu para presidir a Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a responsável final pela condução lerda e vacilante do programa europeu de vacinação.

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Hoje, a Alemanha tem que lidar com a realidade de ter apenas 10% da população vacinada, contra 52% dos britânicos – exatamente aquela que os europeístas mais empolgados achavam que se daria mal por causa do Brexit. Mais que achavam, alguns até torciam.

Ocorreu o oposto: os britânicos explodindo de orgulho – embora “algumas coisas teriam sido feitas de maneira diferente”, nas “desculpas sem ter que pedir desculpas” de Boris Johnson, e os alemães, entre outros, amargando uma posição retardatária.

Isso, obviamente, se reflete diretamente nas pesquisas. A frente democrata-cristã de Merkel tem 26% de aprovação, uma queda notável. Em meados de fevereiro, chegava a quase 40%.

Emmanuel Macron também vive uma fase de encolhimento, com 37% de aprovação contra 60% de avaliação negativa.

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As regiões mais importantes da França voltaram ao lockdown que Macron tinha prometido nunca mais fazer.

Tanto Macron, que tem campanha pela reeleição no ano que vem, quanto Merkel também cometeram a imprudência de condenar a vacina da AstraZeneca para as pessoas mais velhas, embora as avaliações técnicas os tenham desmentido.

Com a vacinação já devagar nos dois países, a insegurança da população redundou em rejeição a uma vacina que deveria estar protegendo os mais vulneráveis. 

Boris Johnson, em compensação, está se recuperando e tem hoje 45% de aprovação, um aumento de seis pontos em poucas semanas – e 100% consequência dos bons resultados da vacinação.

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Nos Estados Unidos, Joe Biden tem uma invejável aprovação que vai de 54% a 59%, dependendo da pesquisa. Detalhe importante: quanto mais gente vacinada – e também quando mais chega o checão emergencial do governo de 1.200 dólares -, mais o índice sobe.

O resultado é que, mesmo quando o desaprovam em outros quesitos, 65% acham que vai indo bem na condução da pandemia. A conta inclui republicanos que, no geral, dão mais de 80% de desaprovação a Biden.

Sair-se bem em relação ao combate ao coronavírus pode não garantir aprovação – ou reeleição -, mas sair-se mal é certeza de alta desvalorização no sempre cambiante mercado da política.

Um dos mais famosos pedidos de desculpas da história nunca precisou ser usado. É o bilhete que Dwight Eisenhower, comandante supremo dos aliados na Europa, assumia a responsabilidade pelo fracasso do desembarque na Normandia, o legendário Dia D.

Como o desembarque em massa lançado em 6 de junho de 1944 conseguiu, com enorme custo em vidas, começar a empurrar para fora da França as tropas alemãs, Eisenhower, não precisou se declarar responsável por “qualquer culpa ou erro” nas declarações.

O bilhete ficou no bolso de sua jaqueta militar durante todo o tempo em que o desembarque poderia ter ido para um lado ou para o outro. Acontecesse o que acontecesse, o papel de Eisenhower, depois eleito presidente com o apelido mais simpático de Ike, já estava escrito: um homem honrado, um militar obcecado em proteger suas tropas mesmo quando sabia que as enviava para a morte e um líder em quem era possível confiar a própria vida.

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