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Por Vilma Gryzinski
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Kim Jong-un, o norte-coreano, surtou? Dá um THAAD para ele

'Para ele' é no sentido metafórico. O novo sistema de interceptação de mísseis na Coreia do Sul protege forças americanas e locais, liberando ações bélicas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 19 abr 2017, 11h38 - Publicado em 19 abr 2017, 08h00

Uma das mais notáveis sequelas da Síndrome de Transtorno Trumpiano é a quantidade de comentaristas que se praticamente se transformaram em admiradores secretos, ou talvez até declarados, de Kim Jong-un.

Nem a iminente instalação de um sistema de mísseis que interceptam foguetes inimigos na fase final da trajetória, o THAAD, abala os novos fãs de Kim. Embora este deva estar dormindo cada noite num lugar diferente e muito, muito profundo. 

Para provar que Donald Trump está errado durante 25 horas por dia,  em lugar de analisar erros e acertos com um mínimo conhecimento de causa exigido pela profissão, muitos passaram a exaltar o formidável poderio do tiranete da Coreia do Norte. 

Até a trajetória do grupo de ataque encabeçado pelo porta-aviões Carl Vinson, um leviatã do tamanho de três campos de futebol e meio, que carrega 90 aeronaves de asas fixas e móveis, foi dada como prova incontestável da burrice de Trump e de todo o alto comando militar dos Estados Unidos. Quem quiser acreditar nisso, fique à vontade. 

O regime norte-coreano, que se estende por uma linha pai rico, filho nobre e neto pobre, em termos de repertório de liderança, realmente teve ao longo dos últimos 70 anos instrumentos importantes para um país tão miserável que pobres famintos já foram fotografados comendo capim. 

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A proteção da antiga União Soviética e da China evitou a derrota do regime comunista, que seria inevitável sem isso. Adicionalmente, as forças americanas que passaram a proteger a Coreia do Sul depois da guerra se transformaram em instrumento de chantagem para a família Kim. 

KARDASHIANS ASIÁTICOS 

Mesmo sabendo que seriam exterminados se tentassem, os ditadores do clã sabiam também  que poderiam inflingir um número considerável de baixas entre os americanos e os sul-coreanos. No primeiro caso, seria inaceitável para a opinião pública e os representantes políticos dos Estados Unidos, levando a uma escalada que redundaria no conflito do fim do mundo que foi possível evitar durante a Guerra Fria. 

O clã Kim, que é quase tão esperto quanto o da família Kardashian, investiu pesado na corrida nuclear, sabendo que, com a Guerra Fria superada, seus antigos aliados não correriam o risco de ser triturados pelos Estados Unidos para proteger um paizinho onde o povo come grama pelos talos e os inimigos, pela raiz. 

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De posse de artefatos nucleares, em número que pode chegar a 30 segundo cálculos recentes, o poder de chantagem aumentou. Paralelamente, também aumentou o desejo dos Estados Unidos de evitar encrencas e procurar soluções pacíficas. Durante o governo Clinton, foi proposto um programa nuclear de geração de energia em troca da renúncia ao projeto bélico. Bush filho seguiu na mesma linha. 

Infelizmente, não deu certo. As provocações sucessivas de Kim Jong-un escalaram com a inação do governo Obama. Os mísseis norte-coreanos, sem os quais as bombas atômicas não podem ser transportadas, foram ganhando alcance cada vez maior.

Explodir no lançamento faz parte da natureza dos foguetes – em média, de 5% a 10%. Ainda mais quando a tecnologia ainda está sendo dominada. E muito mais quando talvez, quem sabe os americanos estejam usando métodos de guerra cibernética para micar o arsenal de Kim.

DEMISSÃO VIA CARRASCO 

Mesmo que não estejam, só a suspeita já basta para provocar ansiedade e atrasos. Lembrando que erros no reino do tiranete não são punidos com demissão pelo Facebook. Fazer face ao carrasco é uma possibilidade mais realista. 

Além de mísseis que se desintegram, o regime Kim está perdendo um de seus instrumentos de chantagem mais importantes com a chegada e instalação do sistema THAAD na Coreia do Sul. O sistema funciona mais ou menos como a Cúpula de Ferro que protege Israel de mísseis do Hamas, ao sul, e do Hezbollah, ao norte. 

São mísseis interceptadores de foguetes inimigos. No caso do THAAD, a letra T vem de terminal (o nome todo da coisa é Defesa Aérea de Alta Altitude Terminal).  Significando que um míssil lançado pelos norte-coreanos seria interceptado na fase final de sua trajetória.

De alguma maneira, são como um manto da invisibilidade para os 28 mil soldados americanos na Coreia do Sul: Kim pode mandar o foguetório todo contra eles, mas não pode acertar. Bingo. 

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Por causa da Síndrome de Transtorno Trumpiano, analistas importantes e respeitados estão jogando mísseis  infantilmente micados contra a política de “acabou a era da paciência estratégica” com o regime norte-coreano, tal como resumida pelo vice-presidente Mike Pence em visita à Coreia do Sul. 

De forma menos elegante, Trump tuitou no último dia 10: “A Coreia do Norte está procurando encrenca”. O New York Times teve chiliques com a “precipitação” e  o Washington Post falou em “perigos”. O historiador holandês Ian Buruma está perdendo a relevância que possa ter  tido com asneiras como as que escreveu para a The Atlantic, sob o título: “A América não pode fazer quase nada a respeito da Coreia do Norte”.

HOLANDÊS VOADOR 

“O mundo está se ajustando lentamente às fanfarronices de Trump. Frequentemente, ele parece não saber do que está falando”, disse Buruma. Ele deve acreditar piamente nisso e, ainda por cima, ficar bem com os amigos. Com quem quer informação, virou um sério candidato ao título de holandês voador. 

Enquanto intelectuais ocidentais passam vexame, um historiador chinês deu uma aula de Coreia do Norte. Disse Shen Zhihua num discurso no mês passado (reproduzido, inteligentemente, pelo mesmo New York Times que escreve uma bobagem atrás da outra sobre o assunto): “Se olharmos para a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, quem podemos dizer que é amiga da China e quem é inimiga?” 

“Aparentemente, China e Coreia do norte são aliadas, enquanto Estados Unidos e Japão apoiam a Coreia do Sul contra a Coreia do Norte. Isso é uma herança da Guerra Fria. Mas acredito que, depois de décadas de rivalidade e de mudanças no panorama internacional, há muito já houve uma transformação fundamental. Minha conclusão básica e que, a julgar pela presente situação, a Coreia do Norte é uma inimiga latente da China e a Coreia do Sul poderia ser amiga da China.” 

Aquele jantar em Mar-a-Lago de Trump com Xi Jinping, quando o presidente americano liberou o ataque com Tomahawks à base aérea síria durante a sobremesa, está produzindo resultados interessantes. Ian Buruma pode ficar engasgado – e olhem que nem provou o bolo de chocolate. 

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E Kim Jong-un não pode deixar de se engasgar com a cortina de THAAD que está sendo erguida à sua volta. Tadinho. né?

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