Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Joe Biden quer ser presidente, mas tem sina do filho-problema

Políticos e até a rainha da Inglaterra enfrentam encrencas de rebentos privilegiados, mas os rolos de Hunter Biden têm potencial de afetar o futuro dos EUA

Por Vilma Gryzinski 26 dez 2019, 20h26

Parece carma: quanto mais se fala no impeachment de Donald Trump, mais, inevitavelmente e mesmo que a grande imprensa tente mudar de assunto, aparecem as penas espalhadas por Hunter Biden, o filho complicado do homem que quer varrer Trump do mapa. O mesmo escândalo da Ucrânia que levou a Câmara dos Representantes, com maioria democrata, a votar pelo impeachment do presidente envolve as aventuras profissionais do rapagão, um homem de 49 anos, idade mais do que suficiente para não atrapalhar a vida do pai.

Da mesma forma que acontece com a rainha Elizabeth II, obrigada a “liberar” dos deveres (e direitos) oficiais o filhinho querido, Andrew, por causa de seu profundo e ainda longe de totalmente explicado envolvimento com o milionário tarado e suicida Jeffrey Epstein, Joe Biden tem que levar o peso do filho nas costas. E não é pouco peso. A última foi um pedido de investigação por “fraude e lavagem de dinheiro” por parte dos advogados da mulher que pede reconhecimento de paternidade,  como mãe de uma criança não contabilizada mesmo depois do devido teste. Fora custas do processo, pensão etc e tal.

Em outro estranho paralelo com Trump, atormentado pelas histórias de ex-amantes interessadas em faturar mais um pouco, entre elas a inefável Stormy Daniels, a mulher, Lunden Roberts, também trabalhava no ramo do strip tease. A casa noturna onde se exibia é em Washington, pertinho de outro ponto de entretenimento noturno onde Hunter Biden, segundo suposição de funcionários ouvidos pelos Washington Post, fumava crack na sala VIP.

Lunden Roberts voltou lá para o Arkansas quando engravidou, mais ou menos na época em que Hunter Biden rompeu com a cunhada, Hallie, viúva do irmão, Beau Biden, morto prematuramente de câncer no cérebro. Desde maio, Hunter está casado com uma beldade sul-africana, Melissa Cohen. Não se pode dizer que ele não segue seus impulsos: o casamento foi selado dez dias depois de se conhecerem. Melissa está grávida.

O histórico de vícios – bebida, drogas pesadas – e o bizarro caso com a viúva do irmão já eram de conhecimento público, mas tratados com certo distanciamento, em respeito pelos múltiplos traumas familiares de Joe Biden. O senador e depois vice-presidente perdeu a primeira mulher e a filhinha pequena num desastre de automóvel. Os meninos, Beau e Hunter, ficaram internados com ferimentos graves. Décadas depois, Joe enfrentou o terrível sofrimento de ver Beau, o filho predileto, o que contava ser presidente, devorado pelo câncer.

Quando entrou na corrida presidencial pelo Partido Democrata, apesar dos 76 anos e da falta de carisma, aquela “coisa” que elege presidentes mesmo contra todas as expectativas, as encrencas do filho foram, naturalmente, revisitadas. Mas o caso explodiu depois que Trump foi acusado, primeiro por um funcionário da CIA lotado na Casa Branca, de ter pressionado indevidamente  o novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a reabrir investigações sobre a atuação dos Biden, pai e filho, em negócios no país.

A história cresceu, embora em várias aspectos artificialmente inflada, e redundou no impeachment (o caso ainda vai para o Senado, onde são poucas ou nulas as chances de que redunde em afastamento do presidente). O que pega realmente mal para Trump, mesmo depois de excluídas as manobras nada ortodoxas dos adversários democratas, é o apelo a um governo estrangeiro para prejudicar seu potencial rival na eleição de novembro próximo.

Continua após a publicidade

Joe Biden ainda é o favorito das primárias, apesar da falta de brilho, dos tropeços e dos “momentos terceira idade”, quando tem falhas de memória e confunde palavras. A maneira como defende o filho, beneficiado por um polpudo lugar no conselho da maior empresa de exploração de gás da Ucrânia quando o pai era vice-presidente, não convence, para dizer o mínimo. A palavra nepotismo está carimbada em todos os espaços visíveis – e nos invisíveis também – envolvendo Hunter Biden.

Joe Biden não era apenas vice-presidente, mas encarregado pelo chefe, Barack Obama, de acompanhar o caso Ucrânia – incrivelmente complicado pelas facções contra e a favor da Rússia, o vizinho gigante que intervém de todas as maneira, inclusive militarmente, para manter sua esfera de influência. Sem contar a corrupção sistêmica em escala impressionante mesmo pelos padrões brasileiros.

Em declarações que mesmo democratas de alto escalão, em off, consideram absurdas, Biden diz que nunca, jamais, discutiu sequer uma palavra sobre os negócios do filho na Ucrânia e na China. E dá uma de pai revoltado com as críticas ao filho, mais  inocente do que um lírio do campo.

Onde será que já vimos esta história antes? Em todos os lugares onde pais complacentes ou cúmplices usam de sua própria posição para favorecer negócios e carreira de seus rebentos, prodígios cuja genialidade, na cabeça deles,  é prejudicada – atenção, prejudicada – pelo fato de terem tido o “azar” de existir em famílias privilegiadas. O que ninguém pode negar é que os filhos enrolados viram armas nas mãos da oposição.

Aliás, o próprio conceito de oposição é que um partido vigia o outro, conforme se alternam no poder, diminuindo assim as chances mútuas de fazer besteiras. Ou de escondê-las depois de feitas. O caso da ex-stripper que pede reconhecimento de paternidade a Hunter Biden é feio, feio, feio. Envolve uma criança inocente e advogados loucos para arrancar dinheiro de alguém do mundo da política (de novo, lembram-se de Stormy Daniels e seu inesquecível advogado Michael Avenatti, tratado como celebridade na mídia antitrumpista, atualmente réu em casos de fraude, extorsão e trambicagens em geral?).

Os representantes de Lunden Roberts contrataram investigadores particulares que alegam múltiplos inquéritos de “fraude, lavagem de dinheiro e falsificação” contra o filho do candidato. O juiz do caso cortou fora, com razão, a intervenção indevida – mas a ideia desse tipo de armação é justamente plantar suspeitas.

Continua após a publicidade

Os advogados também querem documentação comprovando todos os rendimentos obtidos por Hunter Biden, inclusive da Burisma, a empresa ucraniana onde ganhava entre 50 mil e 83 mil dólares por mês, tendo trabalhado nela, por assim dizer, de abril de 2014 a abril de 2019. Parte dos documentos está sob sigilo, mas já apareceram rolos. A ex-stripper, por exemplo, apresentou comprovantes de que recebia pagamentos como funcionária da empresa de Hunter. O endereço da empresa é o mesmo da casa comprada recentemente por Hunter em Hollywood Hills, um daqueles bairros com vistas deslumbrantes e artistas de cinema em toda parte.

Mas Hunter diz que está desempregado desde que deixou a Burisma e tem dívidas altas por causa do acordo de divórcio da primeira mulher, mãe de suas três filhas. No próximo dia 7, ele vai prestar depoimento no caso da pensão.

Trump e a liderança republicana no Senado querem que o caso seja julgado logo, com a previsível absolvição do presidente – por isso, Nancy Pelosi está escondendo o jogo e ainda não encaminhou a acusação. Rudy Giuliani, o ex-prefeito de Nova York que se tornou advogado particular de Trump, continua a escavar, embora seriamente limitado, tudo o que pode se as conexões dos Biden, pai e filho, na Ucrânia. Sonha interrogar Joe Biden como testemunha, no julgamento no Senado, e usar sua experiência, como promotor, em detectar pontos fracos.

“Alguém como Biden, por exemplo, é extraordinariamente suscetível em relação ao próprio intelecto”, disse à revista New York. Milionários doadores do Partido Democrata já fizeram um “caixa de guerra” para desaguar propaganda na televisão contra Trump. E os adversários democratas mais colados em Joe Biden – Bernie Sanders e Elizabeth Warren – sabem que podem se beneficiar se a gosma da Ucrânia grudar nele também.

É um jogo pesado, pesado, pesado, no qual Hunter Biden, por defeitos e malfeitos reais ou imaginários, virou uma arma. Talvez uma conversa com Andrew, agora chamado de “príncipe pária”, possa dar um refresco?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.