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‘Império cárnico’ é o melhor de cobertura estrangeira chocha

Expressão em espanhol do 'El País' quase acerta no carma da corrupção brasileira; outros fazem apenas reportagens burocráticas

Por Vilma Gryzinski 19 Maio 2017, 07h32

Os jornais estrangeiros que contam  adoravam os dois últimos presidentes do Brasil e têm simpatia zero pelo atual.

De alguma maneira, isso melhora suas reportagens sobre a crise atual, isentas do adesismo sicofanta dos jornalistas de países avançados diante de pessoas da cor certa (de marrom para cima), do gênero adequado (qualquer coisa menos homem) e da ideologia política conivente (progressismo em geral).

Até os repórteres mais distraídos perceberam que estão diante da “mãe de todas as crises” e não se sentem moralmente constrangidos a poupar os envolvidos. Mas ainda estão longe de captar a dimensão completa.

Xosé Ermida, do El País – em espanhol, não a versão do universo paralelo em português -, fez um bom apanhado dos fundamentos do escândalo e está acompanhado o desenrolar dos acontecimentos de forma dinâmica.

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Ao identificar a origem das delações-bomba, explicou que  “agora são os donos do império cárnico JBS”. A palavra não existe em português, mas o império da carne misturado ao carma da corrupção bem que criam uma imagem perfeita das nossas desgraças.

O New York Times pelo menos mandou de volta um profissional experiente, Simon Romero. Entre treze títulos de reportagens condenando Trump, apareceu uma sobre a situação tétrica do atual presidente, razoavelmente objetiva.

ROTINA DA TiA

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E infinitamente melhor do que a cobertura recente, comandada pelo novo chefe da sucursal do Times. Ele fez uma entrevista com a ex-presidente na qual a primeira pergunta foi: “Como é a sua rotina depois do impeachment?”.

Título da obra: “Uma presidente impichada, abalada mas desafiadora”. O jornalista também queria saber das leituras da ex-presidente . Mas não se interessou quando a comandante das campanhas pagas com dinheiro todo-mundo-sabe-de-quem relatou as habilidades da Tia na lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio, ou as travessuras de Iolanda como gênio dos computadores, capaz de usar um sistema furadíssimo  de e-mails secretos usado por terroristas e amantes clandestinos.

O Washington Post está ocupado em derrubar Donald Trump e também fez uma reportagem básica sobre os novos acontecimentos. Por enquanto, sem referências ao fato de que o presidente enrascado “é um homem branco com um governo de homens brancos”. O fato de que seja árabe, de origem libanesa,  provavelmente só seria levado em consideração se fosse um pobre refugiado perseguido pelas maldades de Trump.

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Um título do Post foi bom, mas só vale em inglês: o presidente do Brasil pode liderar “a walking dead administration”. Não é preciso saber inglês para entender o que é um governo de zumbis. Quem quiser ver o Post, tem que pagar. Jeff Bezos, o bilionário dono do jornal, ergueu um pay wall de dar inveja ao muro ainda inexistente de Trump.

Com seu 82 bilhões de dólares, ele também é mão fechada. Quando o atual prefeito de São Paulo, e só as divindades da política sabem o que mais brevemente, convidou a Amazon a doar livros e computadores para escolas municipais e não ficar fazendo campanha “moderninha” a favor das  pichações  tão odiada pela maioria dos paulistas, o Kindle disponibilizou 36 míseras obras.

PATRIOTA DE DIREITA

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Na França, a paixão intensa por um presidente militarista, patriótico e direitista nem deixa tempo para pensar em outros países, ainda mais países fracassados . O presidente, evidentemente, é Emmanuel Macron – e os adjetivos são uma brincadeira com o estilo dele, desde a posse, quando desfilou em carro blindado e cantou a Marselha umas 32 vezes, até a formação do novo governo, cheio de políticos da direita tradicional.

O Libération fez uma reportagem morna. Como outros jornais de esquerda, mal esconde a torcida por um cataclisma institucional que leve à eleição, pela terceira vez, do que consideram um líder operário popular perseguido pelas elites.

Já deviam saber que o “império da carne” também tem bois para soltar no pasto do ex-presidente. A cobertura online do Guardian é boa, embora distorcida pelas predileções ideológicas. É o único dos grandes jornais que fala numa eventual candidatura presidencial da ministra do Supremo Tribunal Federal que andou testando a popularidade ultimamente.

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Com a preguiça habitual, além da torcida pelo dragão, a BBC fez um “dicionário da crise” segundo o qual a ex-presidente continua a ser uma impoluta  impichada por uma tecnicalidade obscura. Nada das estripulias da Tia no campo do financiamento ilegal de campanha, lavagem de dinheiro etc etc.

A Economist fez uma reportagem mais focada nas consequências econômicas – estranhamente, pois nos últimos tempos tem se concentrado em escrever tolices sobre praticamente todos os assuntos, menos aqueles que fizeram merecidamente sua fama.

O melhor foi o título: “Um escândalo carnudo”. A carne fraca, podre, cármica e dominante dá o tom da cobertura estrangeira da mãe de todas as crises.

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