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Por Vilma Gryzinski
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Guerra moral: Europa acima de todos ou países acima de tudo

Eleições para o Parlamento mostram que é preciso conciliar cooperação internacional com respeito pelas individualidades nacionais; o problema é como

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 26 Maio 2019, 17h15 - Publicado em 26 Maio 2019, 14h35

Um belo choque institucional é bom para chacoalhar estruturas enferrujadas ou viciadas. O resultado das eleições em geral mais tediosas do planeta teve esse efeito, já amplamente antecipado pelos fenômenos políticos que as precederam.

“Nacionalismo”, “populismo”, “extrema direita” e, claro, o sempre abusado “fascismo”, têm sido algumas das denominações usadas para descrever as várias manifestações desse movimento em direção ao campo habitado pela direita, de defesa dos valores e da supremacia nacional sobre as instituições supranacionais.

Geralmente os rótulos são cravados com desprezo, raiva, arrogância ou certeza inabalável de que o dragão da maldade está do lado dos rotulados e a superioridade moral, dos rotuladores.

Nigel Farage na Grã-Bretanha, Matteo Salvini na Itália, Marine Le Pen na França e outros dos grandes vencedores da eleição europeia têm grandes diferenças. Inclusive porque o Brexit assustou de tal forma os demais que a ruptura com a União Europeia, tema único e exclusivo do novo partido de Farage, deixou de fazer parte do discurso dos demais nacionalistas ou soberanistas.

No mundo ocidental,  a rejeição aos novos emergentes era um fenômeno especificamente da Europa, onde o nacionalismo exacerbado, em condições históricas específicas, levou ao fascismo e ao nazismo com seus horrores inesgotáveis.

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Como o comunismo era, por definição, internacionalista, direita e esquerda acabaram definidas, também, por esse antagonismo. Atualmente, a palavra foi substituída por”globalismo” para os adversários das instituições supranacionais que pretendem tomar o lugar dos principais fundamentos do estado-nação.

No Brasil, no México ou nos Estados Unidos, até recentemente era impensável considerar “nacionalismo” um defeito, excetuando-se no campo da esquerda pura e dura.

Quando Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, diz que odeia “os cretinos nacionalistas que são apaixonados por seus países e não gostam dos outros” certamente não está se referindo à Jamaica ou ao Uruguai. Nem ao Egito, nem ao Casaquistão.

Tem em mente a Europa do século 20 e os Estados Unidos de Donald Trump, com sua capacidade de acionar o gatilho do desequilíbrio político-emocional em metade da humanidade.

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Juncker – ou Druncker, segundo os inimiguinhos, por causa por causa das diversas ocasiões de língua enrolada e passo trôpego, que atribui a crises de ciática – é linguarudo e provocador,  ainda mais com o fim de seu último mandato chegando no fim do ano.

Mais equilibrado, o historiador israelense Yuval Noah Harari fez no El País uma defesa igualmente apaixonada, até exagerada, da União Europeia.

“A União Europeia trouxe paz à Europa e estabilidade ao mundo inteiro”, escreveu. Em parte tem razão: a Europa estava em paz e sem nenhum conflito à vista quando começou a união tarifária que conduziu a todo o resto, mas a contribuição de fundos aparentemente inesgotáveis ajudou na democratização de Espanha e Portugal.

O mesmo cofre ajudou a tornar os ex-satélites soviéticos  países viáveis. E a exigência de racionalidade econômica foi, mais ou menos, generalizada.

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“Mas agora está em crise. Os europeus, portanto, enfrentam escolhas morais que vão formatar o futuro da Europa e da humanidade em seu conjunto.”

“Quem sou eu para recomendar um partido ou um candidato concreto”, acrescentou, usando as palavras de quem obviamente vai fazer o oposto “Mas posso dizer que a prosperidade e a sobrevivência da humanidade no século XXI dependem de que haja uma verdadeira cooperação regional e mundial.”

“Não existe contradição entre globalismo e nacionalismo. Porque nacionalismo não consiste em odiar os estrangeiros. O nacionalismo consiste em cuidar de nossos compatriotas. E no século XXI, para proteger a prosperidade e a segurança de nossos compatriotas, devemos cooperar com os estrangeiros. Por conseguinte, um bom nacionalista deveria ser também um globalista.”

Se alguém gritar falácia, não vai estar mentindo. Nenhum “nacionalista”, com as aspas significando o desprezo habitual, pretende isolar os respectivos países, cortar a cooperação comercial ou acabar com os sistemas coletivos de segurança.

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Na vida real, as pessoas tão bondosamente ensinadas pelo professor Harari , autor do modestamente intitulado Uma Breve História da Humanidade, a abandonar seus maus instintos enfrentam realidades um pouco diferentes.

Algumas delas: os desarranjos socais e culturais provocados pela migração em massa; o espanto e ódio diante de filhos e netos de imigrantes muçulmanos que se dedicam a explodir, esfaquear, fuzilar ou decapitar habitantes dos países que lhes abriram as portas e a expansão constante de uma  superburocracia europeia que determina desde o formato das bananas até o tamanho das penas dos criminosos.

A briga é boa porque existem argumentos consideráveis em ambos os campos, pelo menos para quem quer sair da esfera da fabulação conspiracionista dos antiglobalistas e das certeza morais do lado onde a hegemonia cultural reina absoluta. Sem contar os oportunistas de ambas as partes.

O choque de realidade é necessário para, idealmente, conduzir a um consenso mais amplo sobre o papel dos países, das identidades nacionais, das necessárias instituições coletivas e da própria essência da União Europeia.

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Por enquanto, estamos na fase do choque. Quem poderia imaginar que um partido formado há menos de dois meses ficaria num distante primeiro lugar nas eleições para o Parlamento Europeu com base unicamente na proposta, tão sabotada, do Brexit?

Quem poderia prever que Matteo Salvini deixaria os limites estritos da Liga Norte (originalmente baseada na separação entre o norte e o sul da Itália) para se transformar no “homem mais perigoso da Europa”, um título dado pelos inimigos que evidentemente só o honra?

Que Steve Bannon, o ex-guru trumpiano caído em desgraça, alugaria um antigo mosteiro na Itália para de lá promover o Movimento, o nome que deu à nova direita nacionalista?

Que a direita direita ganharia  na Grécia, depois de ser arrasada pelo naufrágio da crise,  ou a direita brava arrasaria na parte da Bélgica que fala holandês?

Mais novidades. Um bonitão com o nome muito francês de Thierry Baudet entrou na parada ha Holanda, ameaçando pela direita Geert Wilders, o único da leva atual decididamente contra o regime de Vladimir Putin.

Baudet, de 36 anos, é um elitista assumido que costuma discursar contra a música atonal e a arquitetura moderna.

Mesmo antes dos resultados, o choque já teve efeitos positivos: a participação na eleição europeia, normalmente anêmica, aumentou em 10% na França preparada para uma vitória de Marine Le Pen e 15% na Espanha que fez dobradinha com eleições regionais.

A direita nacionalista está longe de ser majoritária no Parlamento Europeu, mas já mostrou que á fácil a vida de quem faz carreira só na base de desprezar seus representantes como burros, ignorantes, perigosos etc etc etc.

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