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Por Vilma Gryzinski
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Guerra híbrida: imigrantes do Oriente Médio usados como bomba humana

É o que está acontecendo com a Polônia, onde a vizinha e rival Belarus atrai sírios e iraquianos para passar por seu território - e desestabilizar a região

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 1 ago 2023, 16h39 - Publicado em 11 nov 2021, 08h08

Os especialistas no transporte de “refugiados” — aspas necessárias para estabelecer diferenças — estão comemorando na Síria e no Iraque.

O negócio deu um lucrativo salto depois que Alexander Lukashenkho armou seu plano de vingança contra a Polônia, onde oposicionistas se refugiaram desde que ele apertou mais seu regime autoritário e passou a prender dissidentes.

Lukashenkho, muito provavelmente com o incentivo e até mais do que isso da Rússia de Vladimir Putin, passou a atrair pessoas que ambicionam uma vida melhor no Oriente Médio e até no Afeganistão com a promessa de caminho livre para a Polônia.

Chegando lá, eles têm as garantias estendidas aos refugiados em território da União Europeia — e possivelmente uma via de acesso à Alemanha, para onde todos sonham ir.

O problema que a Polônia não quer estrangeiros de países orientais sequer de passagem por seu território. Também entende muito bem que os infelizes são usados como uma bomba humana, um instrumento de guerra híbrida — a guerra lutada por outros meios que não as armas, uma definição que vai desde campanhas de desinformação até ataques cibernéticos.

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Lukashenkho é um sujeito esperto; não estaria no poder desde 1999, quando o mundo soviético ruiu e ele optou por se alinhar com a Rússia, enquanto outros ex-satélites corriam para a órbita ocidental, buscando garantias de que a independência recém-adquirida seria protegida pela União Europeia e os Estados Unidos.

Ao se alinhar com a Rússia, ele também ganhou costas quentes, detalhe que lembrou na crise atual, com a linguagem bruta de sempre, “alertando” que atitudes mais duras em relação à crise dos refugiados arrastaria para o jogo “a maior potência nuclear do mundo”.

É claro que insinuar uma Terceira Guerra Mundial atrai um bocado de atenção — e é claro que o belarusso está abusando da retórica. Nem na pior das hipóteses a Rússia apelaria a seu arsenal nuclear, sabendo perfeitamente que ele só pode ser tão grande porque existe a garantia de que uma represália americana destruiria permanentemente a Rússia.

Mas Putin gosta de testar os limites dos adversários e ontem mandou dois bombardeiros nucleares, modelo Tu-22M3, dar uma passada supersônica no espaço aéreo da Belarus

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O simples fato de que o poder nuclear tenha sido colocado na mesa indica como Lukashenkho está amando se passar por gente grande e infernizar a vida da Polônia, um país que já entrou em conflito com a cúpula da União Europeia justamente por não aceitar uma quota de refugiados na última grande crise de 2015.

Agora, a Polônia está de novo numa situação complicada com os parceiros europeus, submetida a uma multa diária de um milhão de euros por não desfazer as mudanças no poder judiciário que a União Europeia considerou incompatíveis com seus princípios.

Se Lukashenkho esperava por lenha na fogueira, enganou-se. A União Europeia fechou questão com a Polônia nesse embate com a Belarus. Peter Stano, porta-voz do Conselho Europeu, disse que Lukashenkho está se comportando à moda dos gângsteres — o que não é nenhuma novidade, mas chama a atenção pela dureza da linguagem.

Lukashenkho chegou a fretar aviões para trazer pessoas do Oriente Médio e despejá-las na fronteira com a Polônia, onde rapidamente foi erguida uma barreira com arame farpado, o que cria uma imagem dolorosa: homens, mulheres e crianças, já enfrentando um frio abaixo de zero, sentados diante de fileiras de soldados.

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Refugiados cortam grandes galhos de árvore para fazer fogueiras — e também forçar passagem através do arame farpado.

Os militares poloneses tentam suas próprias táticas alternativas, e nos celulares de qualquer pessoa que se aproxime da região aparece a mensagem: “As autoridades da Belarus mentiram para vocês. Voltem para Minsk! E não aceitem pílulas de soldados belarussos”.

Autoridades poloneses dizem ter provas de que os adversários estão oferecendo opiáceos e outros remédios psicotrópicos para que aos migrantes aguentem a dureza das condições na fronteira.

Homens que, no desespero, arrancam e carregam troncos nas costas transformaram-se assim em peões de uma guerra moderna, baseada em manipulação, desinformação e uso cínico de populações civis como armas de operações psicológicas.

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Os cerca de três mil refugiados são poucos, comparados à maré humana que afluiu para a Europa em 2015. Famosamente, a Alemanha abriu suas fronteiras e recebeu mais de um milhão de pessoas, que hoje tenta integrar com benefícios generosos para que aprendem a língua, trabalhem e se adaptem ao novo país.

Não tem sido nada fácil e a face mais tenebrosa desse esforço explode eventualmente em atentados terroristas contra o próprio povo que acolheu os migrantes.

A Polônia não quer esse tipo de migrantes justamente porque são muçulmanos, não abraçam o modo de vida dos países que os recebem e, em casos episódicos, criam bolsões de radicalismo de inspiração religiosa.

“Alemanha, Alemanha”, gritam eventualmente os migrantes, deixando claro seu objetivo. É impossível não sentir compaixão por estas pessoas que, no grande jogo, são peças no tabuleiro do xadrez entre os aliados ocidentais e a Rússia.

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O que fazer com eles?

A resposta, como já antecipam, provavelmente virá da Alemanha. Os dilemas são complicados Dar-lhes refúgio só vai atrair mais gente ainda, forçar a Polônia a aceitá-los pelo menos temporariamente azedará ainda mais uma relação já tóxica, deixá-los onde estão redundará em mortes por congelamento.

Um dos objetivos estratégicos de Putin talvez seja o de afastar mais a Polônia da União Europeia, o que seria um desastre para ambas.

Lukashenkho montou uma boa armadilha. Mas, talvez, dessa ver tenha sido esperto demais e seu destino possa ser negociado por gente muito mais importante do que ele.

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