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Godzilla contra King Kong: por que o ISIS afegão é contra o Talibã

Responsáveis por atentados suicidas no aeroporto de Cabul acham que os radicais que tomaram o poder estão bonzinhos demais com os americanos

Por Vilma Gryzinski 27 ago 2021, 09h28

Todo mundo sabia que ia ter um atentado no aeroporto de Cabul onde a retirada dos americanos e outros estrangeiros está chegando perto dos momentos finais. Joe Biden citou a ameaça como uma das razões para terminar a evacuação o mais rapidamente possível.

Nesse sentido, perversamente, e sem que o presidente tenha nada a ver com isso, os dois ataques suicidas que mataram 12 militares americanos, além de dezenas de afegãos, até tornam a desastrada retirada um pouco mais palatável.

Os atentados suicidas trouxeram para o primeiro plano, num momento de caos e espanto com saída apressada e humilhante dos Estados Unidos, um grupo que é mais radical ainda do que o Talibã, como se isso fosse possível.

O ISIS-K – com esse nome porque opera primordialmente na região de Khorassan – tem exatamente a mesma formação doutrinária do Talibã: movimentos ultrafundamentalistas que lutam pela imposição de um emirado, semelhante ao que imaginam ter sido a forma de governo de Maomé e seus seguidores, nos primórdios da religião muçulmana.

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Para isso, dedicam-se integralmente à jihad, a guerra santa, convencidos de que todas as durezas e perdas são apenas percalços insignificantes diante do objetivo final. A morte é tratada como uma santificação. A derrota do Estado Islâmico original, na Síria e no Iraque, incentivou os seguidores dessa ideologia a espalhar a jihad pelo Afeganistão e o Paquistão e atraiu remanescentes.

O fundador original do ISIS-K, Hafiz Said Khan, foi morto num bombardeio americano em 2016. O líder atual é um iraquiano, Shahab Mujahir.

Se são tão parecidos e igualmente dedicados a implantar a versão mais radical da sharia, as leis islâmicas que remontam ao século VII, por que se dão mal?

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Se a situação não fosse tão trágica no Afeganistão, seria o caso de dar risada. A liderança do Estado Islâmico local acha que o Talibã conspirou com os Estados Unidos para tomar o poder em praticamente todo o país (uma teoria conspiratória que, ironicamente, tem seguidores nas franjas mais à direita dos Estados Unidos).

O Estado Islâmico afegão tem uma newsletter, acreditem, e é através dela que dá para captar a animosidade entre os dois grupos.

“Nós vimos como houve uma coordenação direta entre as forças americanas e o Talibã durante o avanço sobre Cabul e como as operações de retirada de milhares de cruzados e espiões continuaram, com as duas partes dando provas de confiança mútua”, diz o que poderia ser chamado de editorial do ISIS-K.

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Usando uma expressão em árabe que significa adoradores de ídolos – um dos mais graves pecados para a religião muçulmana –, o editorial acusa: “O que aconteceu foi simplesmente a substituição do Thagut de cara limpa, por outro, barbudo”.

Concluindo, a newsletter provoca: “Se os cruzados achassem que dariam lugar aos que fossem estabelecer o domínio islâmico sobre ela, não deixariam nem uma construção em pé e bombardeariam os hospitais antes das bases militares”.

Não é preciso ser conspiracionista para se espantar com a rapidez do recuo americano e com a quantidade estarrecedora de material bélico abandonado, incluindo dezenas de helicópteros Blackhawk e aviões Super Tucano A-29.

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A quantidade de aeronaves deixadas para trás levou o senador Marco Rubio a dizer: “Nós doamos uma Força Aérea inteira ao Talibã”.

Ao todo, os Estados Unidos gastaram 83 bilhões de dólares para equipar as forças armadas afegãs que tentaram, inutilmente, transformar numa força efetiva de combate.

Equipamentos sofisticados só funcionam com manutenção igualmente de alto nível, mas existem arsenais gigantescos de material bélico mais simples que poderão ser usados sem problemas pelos talibãs – provavelmente, aumentando as suspeitas do ISIS-K.

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Só para dar uma ideia da monstruosidade do grupo, em maio do ano passado eles praticaram um atentado contra uma maternidade, matando 24 pessoas, incluindo parturientes e bebês recém-nascidos. Motivo: era o hospital de um bairro xiita, o braço minoritário do Islã e considerado pelos radicais sunitas como apóstatas a serem eliminados.

O Talibã que tenta se passar por bonzinho, distinguindo-se das bestas feras do Estado Islâmico, tem a responsabilidade de governar o país de forma que não seja inteiramente maluca, como fizeram da primeira vez, nos anos noventa, não está deixando passar nenhuma oportunidade de defender as credenciais fundamentalistas. Entre outras restrições, proibiu a música, considerada não-islâmica.

“Mas esperamos poder convencer as pessoas a não fazer essas coisas, em vez de pressioná-las”, disse ao New York Times o porta-voz Zabiullah Mujahid.

O ISIS-K provavelmente não aprova tanta magnanimidade.

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