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Fico ou saio? Como a psicologia das massas reage ao vírus

Incidência da doença, medo, individualismo e até preferências políticas influenciam escolhas de quem prefere continuar isolado e quem quer cair no mundo

Por Vilma Gryzinski 4 Maio 2020, 07h35

As mesmas forças titânicas que influenciam governantes nas mais difíceis das escolhas – salvar vidas do risco do novo coronavírus ou evitar o colapso econômico -, operam dentro dos indivíduos e pesam em decisões aparentemente contraditórias.

É claro que, quanto mais demorado, mas vai ficando intolerável o confinamento.

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Mesmo com o sentimento de que o pior já passou, na Europa e nos Estados Unidos – caso não haja a temida segunda onda -, as restrições estão longe de permitir a retomada da vida como ela era.

Os confinados acabam votando com os pés, escapando pelas brechas, especialmente nos países onde algumas medidas mais extremas foram revogadas.

As multidões nas ruas de cidades espanholas e praias da Flórida refletem este anseio de sair das quatro paredes.

Na Espanha, o governo precisou estabelecer turnos de duas horas para os que saem para praticar atividades físicas, depois os idosos, depois as crianças e assim por diante, num enorme e burocrático quebra-cabeças.

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Ao mesmo tempo, diversas pesquisas, na Europa e nos Estados Unidos, indicam que maiorias significativas preferem continuar em lockdown – na proteção da casa e dos contatos externos mínimos ou inexistentes.

Bolsões barulhentos, mas minoritários, fazem manifestações, querem sair logo e deixam isso bem claro, seja pra trabalhar, seja para recuperar os prazeres mínimos da vida.

O exército do surfe na foto acima é um exemplo. São californianos aflitos para ter de volta o que mais os identifica, o estilo californiano de vida – praia, prancha e aditivos variados.

O fato de que a Califórnia esteja bem longe da tragédia de Nova York – quase 1.800 mortos, contra mais de 24 mil, embora o pico já tenha passado – influencia no desejo de acabar com o lockdown logo de uma vez.

Curiosamente, os governadores dos dois estados têm alto índice de aprovação. 

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Gavin Newson, que controlou relativamente bem a epidemia na Califórnia, tem 70% de aprovação. Andrew Cuomo, que presidiu o desastre em Nova York, mas de forma comprometida e até apaixonada, tem 77% – um recorde de popularidade, inclusive entre eleitores republicanos.

A avaliação que os moradores de cada estado fazem sobre sua própria situação econômica é devastadora. Nada menos que 83% dos californianos viram suas finanças comprometidas. Quatro em cada dez estão sem trabalho.

Por que apoiam, majoritariamente, um governador que prorroga a reabertura das atividades vitais? 

De forma geral, os seres humanos, agem pelo sistema básico de recompensa. 

O medo de morrer de coronavírus, o sentimento mais presente no planeta hoje, pesa nas reações à quarentena. 

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Não morrer é a maior recompensa, hoje – mesmo com os índices de letalidade relativamente baixos da Covid-19.

Quem acha que tem menos risco, vai querer sair antes. Quem se sente mais exposto, prefere continuar no casulo. 

E tem uma reação mais positiva aos políticos que, de alguma maneira, tomam a decisão de protegê-los – inclusive da difícil opção de escolher por conta própria se devem ficar ou sair.

Na Grã-Bretanha, já quase passando a Itália, com mais de 28 mil mortos na contagem total e 414 por milhão de habitantes, uma pesquisa recente indicou que 75% da população não acha que o governo está demorando demais para reabrir as atividades. 

Isso num país que enfrentou uma das situações mais bizarras do mundo: o governo mudou de posição em relação à pandemia e estabeleceu a quarentena depois dos equivalentes da Europa continental, fez um monte de promessas não cumpridas (ah, não foi o único) e não está sendo particularmente brilhante no atendimento aos infectados.

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Mais: o primeiro-ministro Boris Johnson quase morreu por ter a variante barra pesada da Covid-19 e resistir a ser internado. 

Quando teve alta, passou duas semanas em recuperação. Dois dias depois de reassumir, ainda com aparência abatida, nasceu seu filho com a companheira, Carrie Symonds, o loiro e cabeludo Wilfred Lawrie Nicholas.

O nome do bebê, homenagem aos respectivos avós e aos médicos que atenderam Boris, propiciou um momento de relax nacional num momento de indefinição.

Enquanto os alemães podem ir ao cabeleireiro e ao zoológico, a Itália começa a reabertura controlada de restaurantes e até a França já tem um cronograma de retomada (complicadíssimo), os ingleses estão entalados. 

Só no próximo domingo haverá um programa oficial de reabertura – cautelosíssima e amplamente vazada, para ir avaliando como a população reage e preparando os espíritos, outra forma de lidar, profissionalmente, com os sentimentos coletivos.

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Boris falou, de passagem, na recomendação do uso de máscaras, inclusive para dar mais segurança às pessoas que forem liberadas para voltar a trabalhar fora de casa.

A ansiedade em relação a romper a barreira protetiva já tem até um nome, coronafobia.

Antes de instaurar o lockdown, integrantes do governo deram a entender que estavam protelando porque sabiam, pelo princípio da psicologia das massas, que quanto mais demorado, mais crescia o risco de que a coisa não desse certo. Agora, o contrário parece acontecer.

Com a ressalva que em nenhum momento os britânicos ficaram trancados e policiados como nos outros países mais afetados, Itália, Espanha e França.

A adesão coletiva também pesa nas decisões individuais. Tem gente passeando, fazendo festa, tomando cerveja no bar? Muitos vão querer isso também. 

Está todo mundo – geralmente 70%, os índices mais altos – se sacrificando dentro de casa, ganhando menos ou nada? A tendência é uma adesão maior ao sacrifício coletivo.

As simpatias políticas, obviamente, são outro fator importante. 

Mesmo quem tem uma visão menos contaminada pela ideologia e percebe tanto os riscos da doença em si quanto os da paralisia econômica, acaba tendendo a achar um pior do que o outro.

Quem se identifica com uma visão do mundo mais à esquerda, apoia mais a quarentena. No lado oposto, pesam mais a devastação econômica e suas consequências gravíssimas.

Os libertários, obviamente, se horrorizam com a intervenção em massa na vida dos indivíduos e com o crescimento exponencial –  palavra que ficou tão barateada – do papel do Estado.

Aos líderes políticos cabe – ou caberia – tomar decisões dificílimas sobre como equilibrar tantas preocupações. Não são epidemiologistas que resolvem e depois arcam com as consequências – exceto, talvez, no caso da Suécia.

Quando sentem ou intuem, no conflagradíssimo campo emocional que o novo vírus instalou em nossas mentes, que os governantes estão tentando acertar, os cidadão reagem de forma equivalente. 

A maior experiência sobre o comportamento coletivo em escala global jamais realizada – a de uma pandemia magnificada pela era digital – está longe de acabar.

Virou lugar comum enumerar as sequelas monumentais, muitas vezes exageradas, que deixará em praticamente todas as esferas do funcionamento da sociedade. 

Um mundo dividido entre os que não aguentam mais ficar presos e os que morrem de medo de sair talvez esteja entre as mais interessantes reações a ser compreendidas no futuro.

Isso quando as duas coisas não acontecem ao mesmo tempo.

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