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Por Vilma Gryzinski
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Feitiçaria, pedofilia e outros delírios do casal vinte da Nicarágua

Daniel Ortega e a mulher, Rosario Murillo, planejam criar uma dinastia familiar. Lembram alguma coisa?

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h20 - Publicado em 1 ago 2016, 11h15
Revolucionários da era de aquário: Rosario e Ortega unem erros de sempre a novas maluquices

Revolucionários da era de aquário: Rosario e Ortega unem erros de sempre a novas maluquices

Numa semana em que Nicolás Maduro decretou na Venezuela que todos os trabalhadores do país podem ser tratados como escravos e convocados para trabalhar na agricultura, como “solução” para uma crise criada exclusivamente pelo chavismo, o que aconteceu na Nicarágua parece até inocente. Mas precisa ser contado, como um exemplo a mais dos caminhos de uma deturpação quase alucinante tomados pela outrora honrada esquerda latino-americana.

Daniel Ortega, que quer continuar sendo presidente e está em rumo à perpetuidade, com sua sétima candidatura, não precisa mais ter o incômodo de uma oposição, mesmo que pequena e ineficaz. O Tribunal Eleitoral, uma das muitas instituições que controla, decretou a cassação de todos os 28 deputados oposicionistas.

Precisar, não precisava. Mas Ortega não quer apenas se perpetuar. Seguindo os passos da família Somoza, a dinastia de ditadores criminosos contra a qual ele se levantou em armas, Ortega pretende criar uma linhagem própria de donos do país. É possível que sua mulher, Rosario Murillo, seja candidata a vice-presidente.

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Mesmo para os padrões latino-americanos, a história do casal tem componentes quase inacreditáveis. Rosario já manda em tudo, na qualidade de co-presidente, uma invenção do marido.

O jornal El País, numa ótima reportagem de Carlos Salinas, resume assim o espantoso relacionamento de Rosario e Ortega: ”Ela é sua sombra, sua assistente pessoal, sua primeira-ministra, sua chefe de gabinete, tradutora em viagens oficiais ao estrangeiro, ministra das relações exteriores na prática, encarregada do protocolo, mestre de cerimônias, especialista em todos os fenômenos provocadores de medo que assolam este pequeno país ancorado entre os dois trópicos”.

Seguidora do guru indiano Sai Baba, tal como Nicolás Maduro e sua mulher, Rosario também tinha fama – e aqui estamos não estamos usando palavras aleatórias – de fazer feitiçarias e seguir rituais esotéricos. De repente, ela e o marido se declararam católicos fervorosos. Em 2008, casaram-se na igreja, diante de dom Miguel Obando y Bravo, o ex-arcebispo de Manágua e hoje cardeal que foi aliado, depois se tornou adversário e hoje está de novo numa boa com Ortega.

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Apesar de ter se transformado em seguidora do catolicismo mais tradicional, Rosario continua a usar simbologia esotérica e a se vestir como uma Frida Kahlo de segunda, com três ou quatro anéis de prata em cada dedo, pulseiras, colares, roupas étnicas e cabelo desgrenhado.

Faz apresentações públicas que têm elementos cênicos bizarros, com cânticos e cortinas de flores e de tecidos nas cores com “vibrações” certas, como rosa e azul. Já mandou pessoas que aguardavam para ser recebidas por ela fazer “limpeza de aura”.

Única pessoa autorizada a falar em nome do governo, faz declarações que precisam ser decifradas, como se viessem de uma pitonisa centro-americana, com referências a religião, misticismo, astrologia e numerologia. Rosario não desgruda do marido nas entrevistas coletivas e às vezes o interrompe e corrige. Quase todos os antigos companheiros da Frente Sandinista, o nome da guerrilha, depois partido político, que derrubou a ditadura somozista, rompeu com Ortega por causa dela.

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Nada, porém, se compara ao que aconteceu em 1998. A filha de Rosario, Zoilamérica Narváez, disse que começou a sofrer avanços asquerosos por parte de Daniel Ortega, que depois a adotou como filha, aos onze anos de idade. Ele ainda era o comandante Ernesto da Frente Sandinista. Aos quinze anos, a violência sexual se consumou. O abuso se prolongou por quase vinte anos.

É impossível ler o longo depoimento de Zoilamérica sem se comover. Mas Rosario rejeitou as acusações da filha. Disse que era mitômona, mentirosa, manipulada. Mesmo que fosse tudo verdade, que mãe exporia a filha dessa maneira?

Rosario Murillo e Daniel Ortega foram a encarnação, num mundo de realidade aumentada, de tudo o que a esquerda latino-americana tinha de idealista e quase heróica. Ela, uma morena magrinha e bonita, poeta e secretária de Pedro Joaquín Chamorro, o legendário dono do La Prensa, depois assassinado a mando de Anastasio Somoza.

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Ele, preso político durante muitos anos, líder de um movimento guerrilheiro que despertava apoio apaixonado – quem poderia ser contra um levante para derrubar uma ditadura de manual, passada de pai para o filho mais velho e, depois, para o mais novo.

No dia em que Anastasio Somoza fugiu da Nicarágua, 19 de julho de 1979, Rosario estava entre os comandantes sandinistas subitamente triunfantes. Usava uniforme verde de guerrilheira e boina preta, numa mistura de filme de Woody Allen e projeção dos sonhos de tanta gente à época.

Um ano depois, Somoza foi assassinado num atentado cinematográfico cometido por militantes esquerdistas argentinos, no Paraguai, único pais que o acolheu. Daniel Ortega entrou e saiu da presidência, com poucos resultados, até que coincidiu com outros governos populistas de esquerda em medidas programas de distribuição de benefícios e o crescimento econômico relativo que hoje parece já pertencente ao passado distante.

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Agora, tem intenção de se eternizar ou, numa cruel ironia, perpetuar sua própria dinastia, como os Somoza antes dele. Dentre os políticos esquerdistas que derivaram para a corrupção e o caudilhismo, nada se compara, em termos de desastre, à Venezuela chavista. Mas nenhum, nem o casal Kirchner na Argentina, tem os elementos de delírio da dupla Daniel e Rosario da Nicarágua.

Numa frase famosa, e apócrifa, atribuída ao presidente Franklin Delano Roosevelt, Anastasio Somoza pai foi descrito como “um filho da ••••, mas nosso filho da ••••”. Foi esse, mais ou menos, o princípio que vigorou na política americana até o fim dos anos setenta, com tantos resultados deletérios para quem estava do lado receptor e tantas, e merecidas, criticas à insensibilidade da direita.

Quanto tempo a esquerda levará para criticar um casal envolvido com bruxaria, pedofilia e esoterismo barato, fora os desvios mais convencionais de corrupção e eternização no poder?

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